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Acusação de que China contaminou máscaras com coronavírus foi inventada

1.abr.2020 - Pessoas usando máscara protetiva contra o coronavírus esperam do lado de fora da Estação Ferroviária de Pequim, na China - Thomas Peter/Reuters
1.abr.2020 - Pessoas usando máscara protetiva contra o coronavírus esperam do lado de fora da Estação Ferroviária de Pequim, na China Imagem: Thomas Peter/Reuters

Do UOL, em São Paulo

14/04/2020 20h02

Circula em grupos de WhatsApp um áudio em que um homem afirma que as máscaras de proteção exportadas pela China estão infectadas com o novo coronavírus. A alegação é falsa. O Comprova entrou em contato com o autor da gravação, que não ofereceu nenhuma evidência de que isso seja verdade. Ele também não citou fontes que corroborassem sua teoria.

A reportagem também consultou o médico infectologista Jean Gorinchteyn, do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, que classificou o boato como "bobagem". O especialista afirmou ser impossível que as máscaras chegassem infectadas da China. "Pelo tempo que demoraria a produção e o transporte da máscara, o vírus não sobreviveria", explicou ele.

Um estudo publicado na revista científica The New England Journal of Medicine aponta que o SARS-CoV-19 (nome oficial do novo coronavírus) pode ser detectado por até 72 horas em superfícies de plástico e até 24 horas em papelão. Os pesquisadores concluíram que a quantidade de vírus cai exponencialmente ao longo do tempo.

No dia 8 de abril, o Ministério da Saúde anunciou ter comprado da China 240 milhões de máscaras para proteger profissionais de saúde que atendem pacientes com a covid-19. A encomenda tem 960 toneladas, que serão transportadas em quarenta voos que chegarão ao Brasil em duas semanas. Desde o anúncio, boatos sobre contaminação de máscaras têm circulado em aplicativos de mensagens e em perfis, páginas e grupos de redes sociais.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.

Como verificamos

O autor do áudio fala seu nome e diz ser cantor, compositor e estudante de Medicina. O Comprova encontrou um canal do YouTube que atendia à descrição feita no áudio e entrou em contato com o número de telefone divulgado na página.

O Comprova também consultou o médico infectologista Jean Gorinchteyn, do Hospital Emílio Ribas, para saber da possibilidade de contaminação de máscaras por coronavírus.

Quem é o autor do áudio

A voz no áudio se identifica como Rodrigues Filho. Por telefone, ele afirmou que a fonte de suas alegações sobre máscaras importadas da China era "ele mesmo" e que a prova era "o próprio áudio".

O cantor disse ainda que todas as pessoas que estão com coronavírus foram infectadas por máscaras chinesas. A reportagem perguntou se ele tinha realizado testes em máscaras ou se ele mesmo tinha sido infectado, mas Rodrigues negou.

Por WhatsApp, o Comprova voltou a pedir provas ao cantor, mas ele não ofereceu nenhuma evidência de qualquer tipo.

Viralização

O áudio foi distribuído em 43 grupos de WhatsApp monitorados pelo Monitor de WhatsApp da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) nos dias 10 e 11 de abril. Conteúdo semelhante foi encontrado em dezenas de páginas e grupos no Facebook e em publicações no Twitter.

O Comprova é um projeto integrado por 40 veículos de imprensa brasileiros que descobre, investiga e explica informações suspeitas sobre políticas públicas, eleições presidenciais e a pandemia de covid-19 compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de mensagens. Envie sua sugestão de verificação pelo WhatsApp no número 11 97045 4984.