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Remédio citado por Heinze em CPI não tem relação com 'tratamento precoce'

10.ago.2021 - O senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) fala durante a CPI da Covid - Arte sobre foto de Leopoldo Silva/Agência Senado
10.ago.2021 - O senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) fala durante a CPI da Covid Imagem: Arte sobre foto de Leopoldo Silva/Agência Senado

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

10/08/2021 17h26

Um medicamento contra o vírus da covid-19 que está sendo desenvolvido pela farmacêutica Pfizer não tem qualquer relação com o chamado "tratamento precoce", ao contrário do que tem alegado na CPI da Covid o senador Luís Carlos Heinze (PP-RS).

Não há qualquer substância que tenha eficácia comprovada para prevenção ou tratamento precoce da covid-19. Há medicamentos que controlam sintomas, como febre. Algumas substâncias vêm sendo usadas em casos de pacientes hospitalizados, como o rendesivir e a dexametasona.

A Pfizer anunciou em março o início de testes clínicos de um medicamento administrado via oral chamado PF-07321332. Segundo a companhia, a substância demonstrou "potente atividade antiviral" contra o Sars-CoV-2, vírus causador da covid-19, em testes in vitro. A farmacêutica também informou sobre os testes com um remédio intravenoso chamado PF-07304814, voltado para pacientes hospitalizados.

O suposto "tratamento precoce", por sua vez, inclui remédios como a hidroxicloroquina, a ivermectina, a nitazoxanida e a azitromicina.

Em nota enviada ao UOL Confere, a Pfizer disse que "não está realizando nenhum estudo clínico de medicamento para a COVID-19 tendo como base" hidroxicloroquina, azitromicina ou ivermectina; e que o potencial medicamento oral PF-07321332 "não apresenta qualquer semelhança com a hidroxicloroquina (utilizado como antimalárico e para tratamento de algumas doenças reumatológicas), azitromicina (antibiótico) ou ivermectina (antiparasitário), ou seja, são compostos com estruturas químicas e mecanismos de ação diferentes".

"Como o programa ainda está em fase de pesquisa e desenvolvimento, não é possível especular sobre qualquer potencial, cronograma ou resultado", afirma a farmacêutica na nota (leia aqui a íntegra).

Apesar de todas estas diferenças, na CPI da Covid, Heinze tem dado declarações que distorcem o teor da pesquisa da Pfizer para defender o "tratamento precoce", tratando ambos como se fossem a mesma coisa.

"Já temos a ivermectina, já temos a cloroquina, já temos o Annita, já temos vários produtos que os médicos brasileiros, médicos pela vida, tão criminalizados por muitos aqui, já estão aplicando no Brasil desde o início do ano passado, quando começou a pandemia. Então, agora, a Pfizer vem apresentar o processo que tem que fazer um tratamento precoce, e nós sempre defendemos o tratamento precoce preventivo e a vacina", disse Heinze no último dia 3.

No dia seguinte, o senador afirmou que o "kit" da Pfizer é "o que nós estamos falando desde o ano passado", e que "temos medicamentos que funcionaram aqui no Brasil", o que não é o que a farmacêutica diz.

Hoje, Heinze declarou que "o tratamento precoce e a vacinação têm que caminhar juntos, conforme a nossa grande Pfizer está preconizando", mais uma vez distorcendo a pesquisa da empresa.

Com suas falas na CPI, Heinze recicla um boato que correu em maio, segundo o qual o medicamento desenvolvido pela Pfizer seria similar à hidroxicloroquina. O conteúdo foi desmentido por checagens de Estadão Verifica, Fato ou Fake e Lupa.

Desde dezembro, a OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda "fortemente" que a hidroxicloroquina não seja usada em pacientes com covid-19. A entidade também recomenda que a ivermectina não seja utilizada contra o coronavírus, a não ser em testes clínicos. Pesquisas já indicaram que a azitromicina não tem qualquer ação contra o Sars-CoV-2, e testes com nitazoxanida foram considerados insuficientes por especialistas.

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