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Posts no Twitter fazem associação sem base entre mal súbito e vacinação

20.dez.2021 - Tweets fazem associação insustentável entre casos de mal súbito e vacinação - Reprodução
20.dez.2021 - Tweets fazem associação insustentável entre casos de mal súbito e vacinação Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

20/12/2021 19h18

Postagens que circulam no Twitter pelo menos desde quarta-feira (15) associam de forma insustentável notificações de mal súbito recebidas pelo Corpo de Bombeiros de Santa Catarina ao avanço da vacinação contra a covid-19. A própria corporação informou ao UOL Confere não ter dados que permitam fazer esta relação, nem que possibilitem uma comparação entre a quantidade de casos antes e depois da imunização; e que o termo "mal súbito" engloba diversos tipos de ocorrência que, na grande maioria das vezes, não terminam em morte.

As publicações no Twitter do Corpo de Bombeiros catarinense correspondem a chamados recebidos pela corporação por telefone, sem uma análise clínica. Elas indicam apenas para qual finalidade foram acionados e quais informações foram repassadas pelos cidadãos aos agentes, mas não o desfecho do que ocorreu com as vítimas.

"As informações sobre o atendimento completo, ou seja, o que de fato aconteceu com a vítima, são inseridas em relatório de ocorrência após a conclusão do atendimento", explicou a corporação por email. "Esta informação não é publicada no Twitter. Como o termo engloba muitas áreas, na grande maioria dos casos não temos óbito".

O Corpo de Bombeiros também disse não realizar os exames capazes de comprovar se o mal súbito foi provocado pela vacina, e que até por isso não podem relacionar as ocorrências à vacinação. Além disso, contrariando posts que indicam quantidade maior de ocorrências em 2021 em relação a 2019 e 2020, a corporação negou ter dados que permitam este tipo de comparação.

Não vamos ter um número específico de 'mal súbito' nos nossos relatórios, porque depois de fechada a ocorrência, vai a causa real dos atendimentos, não tendo essa categoria."
Corpo de Bombeiros de Santa Catarina, em nota enviada ao UOL Confere

Mal súbito é termo abrangente

A relação sem base com a vacinação foi criada a partir de narrativas contrárias ao imunizante nas redes, além do próprio desconhecimento sobre o que significa mal súbito. "Está claro que tem coisa estranha e que deveria ser investigada a relação vacina — mal súbito", escreveu um perfil na rede. "Segundo relatos, tem um mundo de gente tendo mal súbito", disse outro.

Embora o termo "mal súbito" seja comumente associado a casos em que ocorre parada cardiorrespiratória, os bombeiros o utilizam de forma mais global, caracterizando chamados que indiquem dor e mal-estar.

"O termo mal súbito é utilizado para as demandas de mal-estar ou dor relatada. Até porque, o mal súbito é usado como uma indicação do corpo que algo não vai bem e precisa de atendimento especializado", disse a corporação em nota.

Ao UOL Confere, Evaldo Stanislau, médico infectologista do Hospital das Clínicas em São Paulo, também explicou que se trata de uma expressão abrangente e que não necessariamente significa algo grave.

"É uma expressão muito vaga, que vai desde um pouco de tontura até o desmaio ou uma síncope. Nesse sentido leigo de mal súbito, um mal-estar passageiro, não dá para fazer nenhum tipo de associação com a vacina. Qualquer vacina, independentemente de ser da covid, desencadeia uma resposta imunológica e pode levar uma reação normal, como mal-estar ou um pouco de febre".

Vírus é muito pior que eventual efeito colateral

O médico Evaldo Stanislau lembra que as consequências da covid podem ser muito piores do que qualquer eventual reação à vacina, cujo papel principal é evitar mortes ou formas graves da doença.

O vírus em si pode causar tudo o que as vacinas eventualmente causariam com muito mais frequência e intensidade. Nessa altura do campeonato, temer a vacina pelo efeito colateral é, no mínimo, leviano."
Evaldo Stanislau, infectologista

Stanislau citou dados do CDC (agência sanitária dos Estados Unidos) que apontam uma pessoa não vacinada com o triplo de chances de se infectar, o dobro de ser hospitalizada e sete vezes mais de morrer. Já um boletim do Ministério da Saúde, publicado ao fim de novembro, indica que o risco de internação por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) é 257 vezes maior do que o de ter uma reação à vacina contra a covid-19.

Não é a primeira vez em que a vacinação foi associada de forma equivocada a casos de mal súbito. O Projeto Comprova, do qual o UOL faz parte, já desmentiu que os imunizantes foram responsáveis por mal súbito em atletas e árbitros.

O assunto desta checagem foi sugestão de um leitor que procurou o UOL Confere. Tem uma sugestão? Envie para o email uolconfere@uol.com.br.

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