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Após ataque de deputado, fake sobre Míriam Leitão volta a circular

Letícia Mutchnik

Do UOL, em São Paulo

04/04/2022 15h23Atualizada em 05/04/2022 12h11

É falso que Míriam Leitão foi presa por assaltar um banco em 1968, como dizem posts publicados hoje (4) no Twitter. A mentira, que já havia sido compartilhada em 2018 e 2019, voltou a circular após ataque do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) à jornalista no domingo (3).

"Foto do julgamento do assalto ao Banco Banespa da Rua Iguatemi, em São Paulo, ocorrido no dia 06 de outubro de 1968. A assaltante usava um revólver calibre 38 e junto com seus comparsas levou 80 mil cruzeiros, que seria equivalente a R$ 800 mil. Alguém reconhece a assaltante?", diz a publicação falsa, acompanhada de uma foto da ficha de Míriam Leitão dos arquivos da ditadura militar (1964-1985).

No entanto, a jornalista nunca foi presa nem processada por roubo à mão armada. Em 1968, inclusive, ela tinha apenas 15 anos e morava em Caratinga (MG).

Sua prisão, em 1972, aos 19 anos, foi por razões políticas. Míriam era militante do PCdoB, partido clandestino na época. Na época, ela estava grávida de 1 mês de seu primeiro filho, Vladimir Netto, e ficou presa por 3 meses. Em depoimento ao site Observatório da Imprensa, em 2014, a jornalista contou que durante esse período foi agredida, sofreu ameaças de estupro e foi deixada nua em uma sala com uma jiboia.

Míriam respondeu por acusações como panfletagem e pichações com palavras de ordem contra a ditadura militar. Ela foi absolvida.

A publicação falsa já havia sido checada em 2018 e 2019 por Estadão Verifica, Fato ou Fake, Agência Lupa e AFP Checamos.

Deputado ironiza tortura

Posts com a mentira sobre Míriam Leitão voltaram a circular depois que o deputado Eduardo Bolsonaro ironizou a tortura sofrida pela jornalista ao comentar um post em que ela diz que o presidente Jair Bolsonaro (PL), pai de Eduardo, é "inimigo confesso da democracia".

"Ainda com pena da cobra", publicou Eduardo Bolsonaro na tarde de ontem.

Deputados de partidos de oposição como PSOL, PCdoB e PT acionaram o Conselho de Ética da Câmara por causa do post.

Em 2019, a Lupa mostrou que Míriam Leitão também foi alvo de desinformação nas redes depois que o presidente Bolsonaro a atacou publicamente usando informações falsas.

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