Em sabatina, D'Avila erra sobre fundo eleitoral e acerta sobre educação
O pré-candidato do Novo a presidente, Luiz Felipe D'Avila, errou ao citar dados sobre miséria, abertura econômica do Brasil e o desempenho educacional do país durante a sabatina UOL/Folha realizada hoje. D'Avila também errou ao dizer que o Novo é o único partido a não usar o fundo eleitoral, o que não aconteceu em 2020. Por outro lado, ele acertou ao falar sobre desemprego, gasto público com educação, empreendedorismo nas favelas e despesas com pagamento de juros da dívida pública. Leia a checagem feita pelo UOL Confere:
A miséria pulou de 3 milhões de pessoas em 2015 para 20 milhões. No desemprego, nós temos 12 milhões de desempregados, mas se somar o desalento, dá mais de 20 milhões de pessoas."
Luiz Felipe D'Avila (Novo)
A evolução do número de pessoas na miséria no Brasil citada por D'Avila é falsa. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2015, o Brasil tinha 5,1% da população na extrema pobreza, ou 10,3 milhões de pessoas. O dado mais recente do IBGE é de 2020. Naquele ano, 12 milhões de brasileiros viviam na extrema pobreza.
O número de desempregados citado pelo pré-candidato é verdadeiro. Segundo o dado mais recente do IBGE, o Brasil tinha 12 milhões de desempregados no trimestre que vai de dezembro a fevereiro.
No entanto, segundo a mesma fonte, a soma dos desempregados com os desalentados não chega a 20 milhões de pessoas. No trimestre dezembro-fevereiro, o país tinha 4,7 milhões de desalentados — nome dado aos que desistiram de procurar emprego. Assim, a soma de desempregados com desalentados estava em 16,7 milhões de pessoas.
O Partido Novo é o único que não utiliza o fundo [eleitoral] para disputar a eleição."
Luiz Felipe D'Avila (Novo)
A declaração é falsa. Ainda que no ano de 2018 o Novo tenha sido o único partido que devolveu aos cofres públicos o valor do fundo eleitoral, em 2020 o PRTB também devolveu a quantia, conforme mostram os relatórios do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Apesar da recusa do fundo eleitoral — verba disponibilizada apenas em anos de eleição aos partidos para financiar as campanhas —, o Novo tem à sua disposição o fundo partidário, dinheiro público dado aos partidos para custear despesas cotidianas das legendas, como contas de luz, água, aluguel, passagens aéreas e salários de funcionários.
De acordo com o relatório divulgado em abril da Coordenadoria de Execução Orçamentária e Financeira do TSE, foram disponibilizados R$ 227.054,81 do fundo partidário ao Novo em fevereiro deste ano.
O Novo garante, em seu site oficial, que também não usa esses valores. Segundo a legenda, as quantias são guardadas em uma conta até que haja uma maneira de devolvê-las para a União.
76% das pessoas hoje que vivem nas favelas querem empreender."
Luiz Felipe D'Avila (Novo)
O dado é verdadeiro, segundo pesquisa do Data Favela divulgada no dia 15 de abril: 76% dos moradores de favelas têm, tinham ou querem ter um negócio.
O Brasil hoje é a segunda economia mais fechada do mundo."
Luiz Felipe D'Avila (Novo)
A declaração é falsa. Uma forma comum de medir o grau de abertura econômica de um país é verificar qual o valor do comércio exterior (importações e exportações) em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) daquela nação. Por este critério, segundo os dados mais recentes do Banco Mundial, o Brasil não é a segunda economia mais fechada do mundo — apesar de estar bastante distante das mais abertas.
De acordo com o Banco Mundial, em 2020, o comércio exterior do Brasil equivalia a 32,25% do PIB nacional, o que deixava o país como o 12º mais fechado do mundo em termos econômicos em uma lista de mais de cem nações. Mesmo assim, ao menos por este critério, o Brasil ainda era menos fechado do que outras grandes economias, como Japão (31,07% do PIB) e EUA (23,38% do PIB).
A educação pública no Brasil continua sendo uma das piores do mundo. Pega lá o exame do Pisa, o Brasil está em antepenúltimo lugar, e nós gastamos mais do que a média dos países da OCDE em educação."
Luiz Felipe D'Avila (Novo)
A educação pública do Brasil é uma das piores do mundo, mas não é verdade que o país ficou no antepenúltimo lugar no Pisa, exame internacional para medir a qualidade da educação ao redor do mundo.
Na última edição do Pisa, em 2018, o Brasil ficou entre as 20 piores colocações nos rankings das três áreas analisadas pelo exame (matemática, ciências e leitura), mas em nenhuma delas ficou em antepenúltimo.
É verdade, por outro lado, que o Brasil gasta mais que a média da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em educação. Segundo relatório do Ministério da Educação publicado em 2019, o país gastou o equivalente a 5,6% do seu PIB (Produto Interno Bruto) com educação, contra média de 4,4% dos países da OCDE.
Entretanto, o valor investido por aluno no Brasil, considerando todas as etapas de ensino, era menos da metade da média dos países da organização (US$ 4.500 por ano contra US$ 10.400).
Furou o teto de gastos e agora nós, brasileiros, vamos pagar este ano R$ 450 bilhões de juros sobre a dívida."
Luiz Felipe D'Avila (Novo)
A declaração é verdadeira. No fim de 2021, o Congresso aprovou a PEC dos Precatórios, que driblou o teto de gastos e abriu mais espaço para despesas do governo federal. E segundo números divulgados pelo Banco Central, as despesas totais com juros da dívida pública passaram de R$ 312,4 bilhões em 2020 para R$ 448,3 bilhões no último ano.
Nós trabalhamos quatro meses por ano para pagar imposto."
Luiz Felipe D'Avila (Novo)
A declaração é falsa. Ao menos nos últimos 3 anos (2019, 2020 e 2021), segundo levantamento feito pelo IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação), o brasileiro trabalhou por volta de 5 meses do ano para pagar impostos.
Em 2021, último dado coletado pelo instituto, o brasileiro trabalhou 149 dias para pagar os tributos. Em 2020, o brasileiro teve que trabalhar até 30 de maio para esse fim, totalizando 151 dias. Em 2019, foram 153 dias de trabalho.
Pega lá o ranking do World Economic Forum [Fórum Econômico Mundial], o Brasil é o 10º país do mundo, em 180 países, que mais desperdiça dinheiro público."
Luiz Felipe D'Avila (Novo)
A declaração está sem contexto. Segundo o relatório de competitividade global 2017-2018 do Fórum Econômico Mundial, o Brasil de fato vai mal no ranking de eficiência do gasto público — aparece em 133º lugar de 136 países. No entanto, este ranking é montado a partir de opiniões de executivos. A pesquisa de 2017 ouviu 14.375 executivos em 148 países.
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