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É falso que Lula foi intimado a se encontrar com Biden nos EUA

23.fev.2023 - Vídeo mente sobre diversos tópicos do encontro de Lula e Biden em 10 de fevereiro de 2023 - Arte/UOL sobre Reprodução/Facebook
23.fev.2023 - Vídeo mente sobre diversos tópicos do encontro de Lula e Biden em 10 de fevereiro de 2023 Imagem: Arte/UOL sobre Reprodução/Facebook

Do UOL, em São Paulo

23/02/2023 18h04

É falso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenha sido intimado e não convidado pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para visitar os EUA. Além disso, não procede que os dois não tenham discutido o meio ambiente nesse encontro, como diz publicação viral compartilhada no Kwai.

Na legenda da gravação está escrito: "Mentira!!! Lula não foi aos EUA convidado e sim intimado".

Documento compartilhado pela Casa Branca (veja aqui) explicita que o presidente brasileiro teria sim recebido convite para se encontrar com o americano e discorre sobre os tópicos debatidos em Washington, D.C. —a conversa, de fato, teve ênfase na crise climática e na proteção da Amazônia.

Dentre as informações enganosas propagadas no vídeo viral estão que:

  • Biden não teria chamado Lula para conversar sobre o meio ambiente;
  • O petista teria sido convocado aos EUA e não convidado;
  • Eles conversaram sobre a criação da moeda única da América Latina;
  • Lula teria recebido iranianos no porto do Rio de Janeiro;
  • O tema principal da conversa teria sido a guerra entre a Rússia e a Ucrânia;
  • Brics, grupo do qual o Brasil seria signatário, apoiaria a Rússia em conflito bélico.

Você acha mesmo que o mundo, pegando fogo como está [...], o presidente Biden vai tratar de meio ambiente com o presidente Lula? Só se ele vivesse em mundos paralelos."

Publicado no site oficial da Casa Branca, em inglês, (veja aqui) e no do consulado e embaixada dos EUA no Brasil, em português, (veja aqui) a declaração conjunta da reunião entre os presidentes deixa claro que o enfrentamento da crise climática permanece no centro da agenda comum dos países.

No sexto parágrafo do documento, se diz que: "os dois líderes estão determinados a dar prioridade urgente à mudança climática, ao desenvolvimento sustentável e à transição energética".

Ainda sobre sustentabilidade, durante a reunião eles:

  • Citaram o papel de liderança que o Brasil e os EUA podem desempenhar por meio da cooperação bilateral e multilateral, inclusive sob a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) e o Acordo de Paris.
  • Lembraram a Iniciativa Conjunta sobre Mudança do Clima estabelecida em 2015, que criou o Grupo de Trabalho de Alto Nível Brasil-EUA sobre Mudança do Clima (GTMC).
  • Decidiram instruir o GTMC a voltar a reunir-se com a maior brevidade possível para discutir novas ações.
  • Os EUA anunciaram a intenção de trabalhar com o Congresso norte-americano para fornecer recursos para programas de proteção e conservação da Amazônia brasileira, incluindo apoio inicial ao Fundo Amazônia, e para alavancar investimentos nessa região crítica.

No restante da reunião, os presidentes falaram sobre o fortalecimento da democracia e a promoção do respeito aos direitos humanos.

Lula não se encontrou com Biden por iniciativa própria, ele foi convocado desde que foi eleito."

Um documento, também publicado pela Casa Branca, deixa claro que houve sim um convite para que Lula se encontrasse com Biden e que a chamada não foi mandatória, como diz o vídeo enganoso.

O texto exposto diz explicitamente, em tradução livre do inglês, que: "O Presidente Biden convidou o Presidente Lula a visitar Washington no início de fevereiro para consultas aprofundadas sobre uma ampla agenda compartilhada, e o Presidente Lula aceitou o convite" (veja aqui).

Ele tinha que explicar direitinho esse negócio de criar uma moeda única para a América Latina [...], além é claro, de se justificar, em época de guerra, porque está recebendo navios iranianos no porto do Rio de Janeiro."

Essa alegação, também dita na gravação viral, é desinformativa. O UOL Confere fez uma busca sobre o assunto e não foi encontrada nenhuma notícia produzida pela imprensa profissional de que essas pautas teriam sido debatidas no encontro entre Lula e Biden.

Na declaração da reunião também não há nenhuma citação sobre qualquer um desses dois assuntos.

Sobre os tópicos, a Folha de S. Paulo publicou matérias prévias ao encontro dos presidentes dizendo que:

  • A unificação monetária na América Latina não aconteceria "tão cedo" (veja aqui);
  • O Brasil vetou a entrada dos navios de guerra do Irã no porto do Rio (veja aqui).

O tema principal da conversa foi a guerra entre as superpotências, que terá como origem a invasão da Rússia na Ucrânia."

Na ata da reunião é possível ver que os presidentes, de fato, falaram sobre a guerra russo-ucraniana, mas o assunto não foi o principal tópico de conversação.

Na conversa ambos "lamentaram a violação da integridade territorial da Ucrânia pela Rússia e a anexação de partes de seu território como violações flagrantes do direito internacional e pediram uma paz justa e duradoura", como pode se ler no parágrafo 14 da declaração.

O país é signatário do Brics, o banco de fomento, que conta com os países de iniciais do próprio nome, ou seja: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Está aí o lado do Brasil."

O Brics é um bloco de países emergentes do qual o Brasil é membro. No entanto, a participação do país nesse grupo, que também conta com a participação da Rússia, não define o posicionamento brasileiro na guerra da russo-ucraniana.

Em matéria publicada pelo UOL (veja aqui), a Guerra da Ucrânia poderia forçar esse elenco a cumprir um dos destinos que analistas internacionais apontam como o futuro da instituição:

  • De um lado, virar um "bloco zumbi", sem impactos práticos para seus membros;
  • De outro, se fortalecer a ponto de representar uma força alternativa ou antagonista a grupos dos países ricos como o G7 (composto por Canadá, França, Alemanha, Japão, Reino Unido, Itália e EUA).

Entretanto, na reunião com Biden, Lula concordou com o posicionamento do presidente dos EUA e em respeito a soberania da Ucrânia sobre o seu território, que foi invadido pela Rússia.

Viralização. No Kwai, o vídeo publicado em 13 de fevereiro, chegou a 232,9 mil visualizações, 22,9 mil curtidas, 2,3 mil comentários e 9,1 mil compartilhamentos até a tarde do dia 22 de fevereiro.

Republicado no Facebook três dias depois, o conteúdo atingiu 142 mil visualizações, 1,6 mil curtidas e 12 mil reações também até a tarde de 22 de fevereiro.

Sugestões de checagens podem ser enviadas para o WhatsApp (11) 97684-6049 ou para o email uolconfere@uol.com.br.

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