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Traficante não enviou áudio a Fachin; vídeo distorce quadro da Jovem Pan

06.jun.2023 - Vídeo não mostra áudio de traficante a Fachin, mas carta irônica de Coppola - Arte/UOL sobre Reprodução/Facebook
06.jun.2023 - Vídeo não mostra áudio de traficante a Fachin, mas carta irônica de Coppola Imagem: Arte/UOL sobre Reprodução/Facebook

Do UOL, em São Paulo

06/06/2023 18h44

Um vídeo que circula nas redes sociais distorce uma carta fictícia escrita pelo comentarista da Jovem Pan Caio Coppola para dar a entender que um traficante de drogas teria enviado um áudio para agradecer o ministro do STF Edson Fachin.

A leitura da carta inventada aconteceu durante o programa Boletim Coppola, da Jovem Pan, em maio de 2022.

O que diz o post

"Vergonha nacional. Áudio do chefe do tráfico enviado para ministro do STF", aparece escrito em cima do vídeo.

Na gravação compartilhada, aparece uma imagem de Coppola durante o programa que fica congelada durante o vídeo inteiro. Abaixo dela está escrito: "Notícia" e ao lado, uma ilustração que mostra a frequência da fala.

O áudio começa: "Carta de um chefe do tráfico para o ministro Edson Fachin, do STF".

Durante os 4:38 minutos de vídeo, o suposto chefe do tráfico agradece o jurista pela ajuda "ao bonde" durante a pandemia, faz "crítica construtiva" sobre as 11 recomendações de Fachin para reduzir a letalidade policial -sugerindo um abandono total das ações da polícia nas comunidades. Ele também critica a cobertura da imprensa sobre a morte de traficantes e cita os nomes de Lula e Brizolla.

"Quem sabe, se o nosso companheiro voltar à cena do crime, a gente também volte a ter uma interlocução melhor com o governo. Porque aqui na quebrada é parecido com Brasília, ladrão fecha com ladrão e ninguém solta a mão", diz o suposto traficante no fim do áudio.

Por que é distorcido

O som usado no vídeo é de um programa da Jovem Pan. Em maio de 2022, Caio Coppola leu, durante o Boletim Coppola, uma carta que ele criou para criticar o ministro Edson Fachin. O trecho em que ele contextualiza o texto satírico foi cortado da postagem viral.

Eu confesso que meu apreço pelos bons modos, meu respeito pela nossa seleta audiência, me impedem de criticar a postura de certas autoridades com devida ênfase. Por isso, hoje eu optei por dar vazão à minha indignação de outra forma: imaginando como seria a carta de um chefe do tráfico pro ministro Edson Fachin, do STF."
Caio Coppola, em trecho cortado do vídeo viral

A carta fictícia começa criticando a decisão de Fachin de transferir para prisão domiciliar os presos do grupo de risco da covid-19 que estavam em regime semiaberto. O pedido veio da DPU (Defensoria Pública da União) (aqui), que queria um habeas corpus para pessoas presas em locais acima da capacidade, que não tivessem cometido crime com uso de violência e que fizessem parte do grupo de risco da doença.

Em seguida, o texto menciona a decisão do ministro de temporariamente restringir as operações policiais nas comunidades do Rio de Janeiro (aqui). Em junho de 2020, o ministro determinou que as ações da polícia passariam a ser permitidas apenas em casos excepcionais, com a comunicação imediata e por escrito ao MP. Aprovada no plenário do Supremo dois meses depois (aqui), a medida continua em vigor.

O ministro também acatou um pedido que requisitava a suspensão de diversas medidas adotadas pelo governo estadual do Rio de Janeiro. Solicitada pelo PSB, em novembro de 2019, a medida defendia que não fossem usados helicópteros para atirar e mandados de busca e apreensão coletivos e genéricos.

O partido ingressou com a ADPF 635 (aqui) no STF contra a política de segurança pública do então governador do Rio, Wilson Witzel (PMB), que na época era filiado ao PSC. Em abril de 2023, Edson Fachin se reuniu com o procurador-geral da República, Augusto Aras, e com a vice-procuradora-geral da República, Lindora Araújo (aqui), para informar à PGR dos últimos desdobramentos da ADPF.

O UOL Confere considera como distorcidos os conteúdos que usam informações verdadeiras em contexto diferente do original, alterando seu significado de modo a enganar e confundir quem os recebe.

Viralização. Publicado no Facebook em 30 de maio, o vídeo soma 9,9 mil curtidas, 22 comentários, 12 mil compartilhamentos e 73,1 mil visualizações nas últimas 24 horas.

O conteúdo também já foi desmentido pelo Aos Fatos.

Sugestões de checagens podem ser enviadas para o WhatsApp (11) 97684-6049 ou para o email uolconfere@uol.com.br.

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