Delegada do caso Isabella descarta hipótese de terceira pessoa em crime

Rosanne D'Agostino
Do UOL Notícias
Em São Paulo

Atualizada às 15h35

Em depoimento que durou quatro horas nesta terça-feira (23) no Fórum de Santana, a delegada Renata Pontes, que era do 9ª DP (Carandiru) à época do crime, afirmou aos jurados que as investigações apontaram que não há hipótese de que uma terceira pessoa tenha atuado no homicídio de Isabella Nardoni, 5, que morreu em março de 2008 após a queda do 6º andar do edifício London, zona norte de São Paulo.

A delegada, que afirmou ter "100% de certeza" de que Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, que enfrentam o banco dos réus desde ontem pelo assassinato, cometeram o crime sozinhos, disse que mais de 30 policiais vasculharam o local e não encontraram vestígios de que outra pessoa esteve no apartamento naquela noite. Segundo a delegada, com base em depoimentos de vizinhos, eles ouviram gritos de uma criança chamando pelo pai. "Para, pai!". Em seguida, alguns deles relataram ter ouvido um som abafado, que poderia ser de uma criança caindo.

"É claro que ninguém, graças a Deus, sabe qual é o som de uma criança caindo. Pode ter sido uma porta de incêndio? Pode. Mais de 30 policiais entraram e não encontraram vestígios", disse ela, após ter sido questionada pelo advogado do casal, Roberto Podval, sobre se vizinhos não poderiam ter ouvido o barulho de uma porta de uma saída de incêndio batendo próximo ao momento da queda de Isabella -- o que poderia representar uma terceira pessoa na cena do crime.

O advogado de defesa, que tentou desqualificar o depoimento da delegada, a questionou sobre laudos e sobre o sangue encontrado no apartamento. Para Podval, não há provas concretas que liguem o casal aos ferimentos de Isabella. O advogado também perguntou à testemunha, também arrolada pelo promotor do caso, Francisco Cembranelli, se ela tinha conhecimento de histórico de violência do casal, sem ser por depoimentos de terceiros. "O que sei é que há relatos de que Jatobá já arremessou um dos filhos por ciúme, e que Alexandre repreendeu o próprio filho jogando-o no chão", afirmou Pontes, com base no que disseram a mãe de Alexandre e a mãe de Ana Carolina Oliveira, avó de Isabella.

O julgamento foi paralisado para almoço após o depoimento da delegada. Além dela, serão ouvidas ainda hoje outras três testemunhas: Rosangela Monteiro, perita do Instituto de Criminalística, Paulo Sergio Tieppo Alves, médico do IML (Instituto Médico Legal), e Luiz Carvalho, um perito baiano tido como testemunha surpresa da acusação. A estimativa do tribunal é de que o julgamento dure até cinco dias.

Abuso de poder
Durante questionamento do promotor do caso, Francisco Cembranelli, a delegada também defendeu que nunca houve qualquer abuso por parte de policiais envolvidos na investigação e disse que nunca pré-julgou o casal, em resposta a Podval sobre porque passaram um dia inteiro na delegacia naquele dia. "Fizemos exames porque é o procedimento, até para não haver acusação infundada. O crime é muito complexo. Eles foram ouvidos informalmente muitas vezes", afirmou.

Cembranelli usou uma maquete especialmente feita para júri, que reproduz o apartamento no edifício London, onde o crime aconteceu. A maquete reproduz marcas de sangue encontradas no apartamento, que a delegada confirmou ter encontrado: na entrada do apartamento e no quarto dos filhos do casal. Posteriormente, por meio do luminol, mais sangue foi encontrado, segundo ela.

A delegada disse também que, mesmo após a prisão do casal, investigou outras hipóteses para o crime e chegou a apurar ao menos três denúncias anônimas, que acabaram classificadas como trotes. Ela também respondeu ao questionamento de um jurado, sobre se foi encontrado vestígio de sangue de Isabella nas roupas da madrasta. "Não", concluiu.

Renata Pontes, assim como a mãe de Isabella, permanecerá retida à disposição do júri, por um pedido da defesa.

Ao final das perguntas, Podval, da defesa, questionou a delegada se ela já tinha visto algum caso de tamanha brutalidade entre pais e filhos. "Eu já vi um padrasto matar o filho com a mãe assistindo. Depois o esquartejou e jogou num lixão", disse a delegada, causando comoção na plateia, onde acabara de entrar a escritora Glória Perez.

Delegada foi firme em respostas, diz Glória Perez
Presente ao júri popular de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, a escritora Glória Perez elogiou a delegada Renata Pontes por seu depoimento prestado como testemunha do caso no Fórum de Santana.

"A delegada foi ótima, perfeita. Firme nas respostas", disse. Glória, que perdeu a filha Daniella em um crime bárbaro em 1992 e enfrentou repercussão semelhante do assassinato, comparece ao julgamento do casal para prestar solidariedade a Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella.

 

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