Algoz de idosa trancada em porão por 16 anos tinha boa condição financeira, diz delegada
Idosa ficou presa em porão com conhecimento da família
Preso quarta-feira (26) por cárcere privado após ter deixado sua mulher trancada em um porão por 16 anos, o consultor industrial aposentado João Batista Groppo, 64 anos, não tem o perfil de um homem humilde ou desinformado, segundo informações da delegada-assistente do caso, Ana Luiza Salomone. “O que mais espanta é que ele é bem instruído e fala bem”, disse Salomone, lotada na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Sorocaba (100 km de São Paulo).
Uma das responsáveis por interrogar o acusado, ela conta que o homem assumiu ter uma vida tranquila e sem problemas financeiros. “Ele disse que tem uma renda mensal de R$ 2.500, apesar de não sabermos do que esse montante é formado. É inexplicável que ele tenha feito isso com aquela senhora”, afirma a delegada, contando que o detido chegou a trabalhar em cargos considerados "razoáveis" na Companhia Brasileira de Alumínio (CBA).
Na avaliação de Salomone, a condição econômica de Groppo permitiria que ele dispensasse um melhor tratamento a Sebastiana Aparecida Forquim, mulher com quem foi casado cerca de 40 anos –e separado "informalmente" há 20. “Qualquer pessoa teria condição de dar um tratamento melhor. A vítima não precisava apenas de cuidados básicos –que ela já não tinha–, mas de cuidados especiais”, diz.
O porão em que a Sebastiana foi encontrada, segundo a delegada, tem 12 m² de área, é totalmente embolorado e conta com apenas uma cama de alvenaria –sem colchão. “O chão está cheio de baratas, umas vivas e outras mortas. Há ainda caramujos, água vertendo da parede e fezes por todo canto”, resume. A polícia afirma que a idosa permaneceu no local 16 anos, mas o acusado afirma que foram oito. Desde o último dia 26 ela está vivendo com um filho.
Groppo morava atualmente com sua nova companheira, Maria Aparecida Forquim, 58 anos, com quem dizia dividir os cuidados de Sebastiana. Ambos estão presos e foram indiciados. Ela está na cadeia pública de Votorantim e, ele, no centro de detenção provisória de Sorocaba. Os dois vão responder por cárcere privado qualificado, pois submeteram a vítima a grave sofrimento físico e moral. A pena pode chegar a até oito anos de reclusão.
“Muito bem tratada”
O advogado contratado para defender Groppo, José Carlos Gallo, nega todas as acusações. “Ela era muito bem tratada. Fezes? Todo mundo que é deficiente daquele jeito acaba defecando em todo canto." Questionado sobre o possível uso de fraldas geriátricas, o advogado respondeu: “Ela não para com roupa. Não para. Você já esteve em algum manicômio? Pois deveria saber que o doente não para com roupa. Ela não gosta de ficar com roupa.” Sebastiana foi encontrada nua pelos policiais.
O defensor sustentou ainda que o porão era embolorado, mas toda a casa era também. “O quarto do João tem infiltração. A casa toda tem. E eles pintam aquele quarto todo ano, além de limpar as fezes todo dia. É que no momento que a delegada chegou, excepcionalmente, estava um pouco sujo.”
Gallo afirma que entrou ontem (27) com um pedido de liberdade provisória para seu cliente. “Eu alego que ele não teve intenção. Ele nunca teve intenção de prender aquela mulher. Ele apenas estava a protegendo. Se deixassem ela sozinha, ela fugiria. Ele não tinha intenção de tirar a liberdade de ninguém, meu querido”, disse ao UOL Notícias.
O advogado repetiu o que seu cliente disse nos interrogatórios policiais. “João tentou várias vezes internar essa mulher. Mas o Estado brasileiro vive uma situação de desinternação (sic). A dificuldade não é só dele. Não há vagas em instituições para doentes mentais em Sorocaba."
Por fim, o defensor fez críticas ao trabalho da polícia. “Não existe situação desumana naquela casa. É fácil jogar a responsabilidade nos cidadãos, quando o Estado é omisso. Se você quiser ver a história pela ótica da indignação da delegada, tudo bem. Mas está equivocado", finalizou.
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