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Violência leva MP e prefeitura a limitarem Carnaval em cidade alagoana

Aliny Gama e Carlos Madeiro<BR>Especial para o UOL Notícias<BR>Em Maceió

04/03/2011 15h45

As tradicionais festas de Carnaval do município de Marechal Deodoro, na região metropolitana de Maceió, vão terminar mais cedo em 2011. Por conta do medo da onda de violência, a prefeitura e o Ministério Público Estadual (MPE) decidiram antecipar em quatro horas o fim da festa de rua.

O município de Marechal Deodoro abriga alguns dos balneários mais visitados do Estado, a exemplo da praia do Francês e a Barra Nova, além da Massagueira (maior pólo gastronômico do Estado). Ao lado das outras cidades litorâneas como Barra de São Miguel, Paripueira e Maragogi, a cidade é uma das que recebe o maior número de turistas e tem maior tradição em festas carnavalescas no Estado.

Mas já partir desta sexta-feira (4), as festividades vão terminar às 22h, e não às 2h da manhã, como estava previsto anteriormente. A medida vale para a área central da cidade. Já nas praias do Francês e Barra Nova, a folia terminará ainda mais cedo: às 18h, a partir deste sábado.

“O prefeito [Cristiano Mateus] me ligou e justificou que, por conta da violência, da criminalidade, as festas poderiam acabar mais cedo. Eu prontamente concordei, por ser uma boa medida preventiva. Nós estamos vivendo dias de muita violência. Tivemos fim de semana com oito homicídios na cidade”, afirmou a promotora do município, Maria Aparecida de Gouveia Carnaúba.

Segundo o Mapa da Violência 2011, divulgado na semana passada pelo Ministério da Justiça, Marechal Deodoro é 39ª cidade mais violenta do país e 6ª de Alagoas, com taxa de 75 homicídios para cada 100 mil habitantes (três vezes mais que a média nacional, de 25).

Para a promotora, a medida torna o carnaval da cidade “mais familiar”. “Acho que essa redução vai diminuir a criminalidade. Fiz uma reunião aqui e todos os presentes –inclusive a polícia– concordaram que, a partir das 22h, as pessoas ficam na rua para cometer pequenos furtos e outras coisas mais. O pessoal sai muito da capital para vir para cá bagunçar e praticar ilícitos penais. Assim creio que teremos um Carnaval bem mais tranquilo”, afirmou Carnaúba.

Para a prefeitura, a medida adotada deve ajudar também a resgatar a tradição das festas de rua, com o desfile de blocos e bandas durante o dia.

Polícia apoia medida

Segundo o comandante de policiamento da capital, tenente-coronel Gilmar Batinga, a medida “facilitou muito” o trabalho da Polícia Militar. “É importante dizer que a PM em nenhum momento interferiu nessa decisão, tanto que o nosso efetivo está escalado para aquela cidade. Nós fizemos um planejamento, e ele continua. Porém, como não teremos essa festividade, assim que encerrar em Marechal vou deslocar os policiais para a Barra de São Miguel [balneário vizinho e que tem a festa mais tradicional do Estado]”, afirmou.

Para Batinga, a decisão é acertada porque, além da violência, Marechal é uma “cidade hospitaleira e com presença significativa de idosos” durante o Carnaval.

Comerciantes reclamam

A decisão de terminar as festas mais cedo deixou os comerciantes de Marechal Deodoro preocupados com possíveis prejuízos no feriado.

A proprietária do restaurante Sabor e Arte, Patrícia Pereira, afirmou que investiu para o Carnaval e está aflita com um possível prejuízo por fechar o estabelecimento “quando o lazer noturno está começando”. “Todo ano me preparo para atender à demanda, que é grande nesse período. Investi em pessoal e em produtos. Só soube dessa decisão esta semana que antecede o Carnaval, mas já tinha feito as compras e contratado mais gente. Estou temerosa.”

A comerciante conta que todos os anos o estabelecimento abre para o almoço e só fecha às 4h da madrugada do dia seguinte. “No carnaval todo mundo almoça tarde, janta e lancha tarde. Nesse horário da madrugada, estaria com a casa cheia. A minha esperança é que as pessoas comprem a refeição para levar e comer em casa.”

Para o sócio do Bar da Lurdes, Jonas Pereira, a medida vai trazer prejuízo para os comerciantes. “Essa medida foi ruim para todo o comércio. Vamos ter de parar de atender aos clientes quando o movimento da noite estaria começando e isso vai dar prejuízo.”

Pereira acredita que a criminalidade não vai diminuir nesse período por conta do horário de terminar a festa. “Não acho que vai deixar de ter violência por conta da folia terminar cedo. Os 'maloqueiros' vão bagunçar do mesmo jeito. Quem quer aprontar, vai fazer independente do horário”, contou, citando que o bar pretendia funcionar das 14h às 5h da manhã.