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Após segundo desabamento em menos de 40 dias, Estado interdita galpões para desabrigados em Alagoas

Construído em Murici, galpão para vítimas das cheias desabou no sábado (26) e feriu 12 pessoas - Antônio Aragão/Tribuna de União
Construído em Murici, galpão para vítimas das cheias desabou no sábado (26) e feriu 12 pessoas Imagem: Antônio Aragão/Tribuna de União

Aliny Gama e Carlos Madeiro<BR>Especial para UOL Notícias<BR>Em Maceió

28/03/2011 15h44

Depois do segundo desabamento de um galpão em menos de 40 dias, o Estado de Alagoas decidiu interditar todos os galpões construídos para as vítimas das enchentes de junho de 2010 no Estado, até que as estruturas sejam vistoriadas por engenheiros. Ao todo, os nove prédios que ainda estão de pé estão isolados e serão visitados ainda esta semana.

A medida foi tomada em reunião do Serveal (Serviço de Engenharia de Alagoas), nesta segunda-feira (28), dois dias após o desabamento de um galpão para vítimas das cheias construído em Murici (45 km de Maceió).

Recém-inaugurado, o galpão foi construído a fim de amenizar o calor dos desabrigados que moram em barracas de lona, mas desabou no fim da tarde do último sábado. O acidente deixou 12 pessoas feridas –entre elas oito crianças.

Os feridos foram encaminhados para o Hospital de Murici, mas já receberam alta. Nesta segunda-feira, apenas uma criança se queixava de dores pelo corpo e deve precisar de exames complementares. O governador de Alagoas, Teotonio Vilela Filho (PSDB), determinou que a Secretaria de Estado da Saúde preste assistência às vítimas. “Já determinei a Serveal urgência e providências na investigação sobre o desabamento do galpão em Murici; não temos compromisso com erros. Estamos trabalhando junto às vítimas das enchentes de 2010 desde o primeiro dia da tragédia, junto com o governo federal e as prefeituras. Também vamos acompanhar o estado de saúde das crianças atingidas; estão responsáveis por esse acompanhamento a Sesau e a Sead”, declarou o governador em seu microblog no Twitter.

Segundo o Serveal, uma comissão de engenheiros já foi nomeada e vai investigar as causas do desabamento. O galpão foi construído pela empresa Atlântica, que não se pronunciou sobre o caso. Além disso, os engenheiros vão fazer visitas aos locais onde existem galpões construídos.

Protesto

Por conta do acidente, os moradores protestaram neste domingo (27) e fecharam a BR-104, que corta o município. “A gente só ouviu o lastro quebrando. Quem conseguiu correr, escapou. Quem não conseguiu, se feriu. Se era para cair para que construíram? A gente quer uma explicação para o que aconteceu”, disse o morador Tarsiano José da Silva.

A via ficou interditada por duas horas e só foi liberada após negociação com a Polícia Rodoviária Federal, representantes da construtora responsável pela obra do galpão e Defesa Civil de Murici.

Primeiro desabamento

No dia 16 de fevereiro, outro galpão desabou um dia após ser construído, em União dos Palmares, e deixou uma criança de cinco anos ferida.

Assim como em Murici, o acidente revoltou as famílias do acampamento, que também protestaram fechando a BR-104 por cerca de uma hora. Os moradores só desocuparam a pista após a chegada da Polícia Militar e de representantes da prefeitura, que marcaram uma reunião na sede do Ministério Público para discutir a situação dos desabrigados no acampamento. Eles pediram celeridade nas obras de construção das novas casas, que serão doadas pelo governo

Segundo laudo do Serveal, a construtora Araújo Barros iniciou a obra sem a ordem de serviço. Além disso, foi utilizado material diferente do especificado no projeto, como o da coluna de sustentação e do tipo de madeira utilizada.

Calor de 60ºC

Atualmente, 14 municípios de Alagoas têm acampamentos com barracas para desabrigados por conta das enchentes. Em União dos Palmares, onde cerca de 10 mil pessoas ficaram desabrigadas ou desalojadas, são três acampamentos.

Em janeiro, o UOL Notícias mostrou que um estudo do Instituto de Ciências Atmosféricas da Universidade Federal de Alagoas apontava que a temperatura dentro das barracas montadas para as vítimas das enchentes chega a 42°C às 11h, enquanto o índice de calor (que leva em conta umidade, ventilação e temperatura) chega a 60°C. “Com esse índice temos insolação e acidentes vascular cerebral iminente”, dizia o estudo.

Por conta do incômodo causado pelo calor, o Estado começou a construir uma série de galpões para que eles abrigassem, durante o dia, os desabrigados, amenizando a situação de insalubridade dos moradores.

Falta de mão-de-obra atrasa reconstrução

Segundo o coordenador do programa da Reconstrução, Luiz Otávio Gomes, o cronograma de construção das novas casas prevê a entrega das novas residências até o final de 2011. Os primeiros conjuntos habitacionais, nos município de Rio Largo e Quebrangulo, devem ser entregues em julho.

Segundo a Caixa Econômica Federal, há demora além do previsto na construção da maioria das casas devido à falta de mão-de-obra. Segundo o banco, responsável pelo financiamento das residências, existem cerca de 42 mil unidades habitacionais em construção em Alagoas e não há profissionais suficientes no mercado para fazer o trabalho. Dessas, 17,5 mil casas são para vítimas das enchentes em 14 municípios.

“Estamos capacitando, em grande escala, pessoas para que elas possam trabalhar nas obras. Mas a demanda da construção civil hoje é muito grande”, informou o superintendente da Caixa em Alagoas, Gilberto Occhi.