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Apagões revoltam população e causam onda de protestos em Alagoas; MP investiga Eletrobras

Carlos Madeiro<br>Especial para o UOL Notícias<br>Em Maceió

13/04/2011 14h27

As constantes interrupções de energia ocorridas em Alagoas nos últimos dias desencadearam uma série de protestos de consumidores e autoridades e levaram o MP (Ministério Público) Estadual a criar uma comissão para investigar o serviço da Eletrobras Distribuição Alagoas, responsável pelo abastecimento elétrico no Estado. A Assembleia Legislativa também cobrou explicações sobre o serviço prestado pela empresa.

Desde o final de março, suspensões recorrentes no fornecimento de energia afetaram mais de um milhão de pessoas, por horas ou mesmo dias. No dia 26 do mês passado, 12 municípios do Sertão ficaram por 11 horas sem energia elétrica.

Já no último fim de semana, os problemas se agravaram e uma onda de protestos, inclusive com queima de pneus, se espalhou pelo Estado. 

O caso mais relevante ocorreu nos municípios de Jundiá, Colônia Leopoldina e Novo Lino, todos na região norte do Estado. O fornecimento de energia foi suspenso por 48 horas, da tarde da sexta-feira (8) até a tarde do domingo (10). A falta de energia deixou as cidades sem água (já que as bombas de abastecimento dependem de eletricidade) e houve problemas com serviço de telefonia fixa e móvel a partir do sábado. Comerciantes tiveram prejuízo com a perda de alimentos estocados em freezers e geladeiras.

Em Maceió, pelo menos três protestos foram registrados entre domingo e segunda: nos bairros de Ponta Verde, Feitosa e Fernão Velho. Em pelo menos dois casos, moradores chegaram a fechar ruas para cobrar a resolução dos problemas. Muitos alegam que eletrodomésticos foram danificados por conta de variações de tensão.

No bairro da Ponta Verde, principal da orla de Maceió, comerciantes de pelo menos seis quadras amargaram prejuízos por conta de um apagão de quase 48 horas, entre sexta-feira e domingo. Em protesto, o dono de uma sorveteria chegou a colocar na calçada todos os sorvetes e picolés perdidos pela falta de energia. “Perdi todo o sorvete e deixei de vender créditos de celular. O prejuízo chega a R$ 1.000”, disse o comerciante José Loureira de Araújo. Outros comerciantes afirmaram que vão processar a Eletrobras pelos prejuízos. "Perdi entre R$ 5.000 e R$ 7.000 em produtos", disse Eurico Oliveira, proprietário de uma churrascaria.

Por conta da falta de energia, os semáforos da capital alagoana também enfrentaram problemas. Na segunda (11) e terça-feira (12), a maioria dos sinais das avenidas Fernandes Lima e Via Expressa –as duas principais da cidade— estava desligada, o que gerou longos congestionamentos.

Autoridades protestam

Os protestos não se resumiram apenas à população. Autoridades também criticaram as quedas no fornecimento de energia. Pelo Twitter, o ex-presidente da Associação de Municípios Alagoanos e prefeito de Arapiraca (segunda maior cidade do Estado) desabafou: “Ninguém aguenta essa Eletrobras. Arapiraca não pode parar pela irresponsabilidade da Eletrobras”, disse em seu microblog, queixando-se que os problemas no fornecimento impedem o desenvolvimento da cidade.

Na Assembleia Legislativa, deputados também fizeram duras críticas ao sistema elétrico alagoano na sessão de terça-feira. “O apagão de três cidades por 48 horas é algo absurdo”, disse o deputado Jéferson Morais (DEM). Após discussões, os deputados estaduais informaram que uma audiência pública foi marcada para o dia 27 para discutir os problemas no sistema elétrico.

Já o MP --cuja sede em Maceió ficou às escuras por quatro vezes em dez dias-- criou uma comissão para apurar a responsabilidade da Eletrobras nas constantes quedas de energia no Estado. Segundo o procurador-geral de Justiça, Eduardo Tavares, a meta do procedimento é “obrigar a empresa a adotar medidas com o objetivo de cessar as oscilações de tensão e quedas de energia elétrica que vêm ocorrendo diariamente”. 

Rede antiga

Em entrevista coletiva nesta terça-feira (13), a Eletrobras reconheceu “recentes perturbações no sistema elétrico de Alagoas”, que --segundo a empresa-- possui estrutura antiga e carente de melhorias e ampliação. Segundo o diretor de Operação da Eletrobras, Leonardo Lins, boa parte dos apagões nos últimos dias ocorreu por conta das fortes chuvas que caíram no Estado.

O diretor da Eletrobras explicou ainda que houve um aumento na demanda energética em Alagoas, que antes crescia a 2% ao ano e hoje registra avanço de 12%. A empresa anunciou que pretende fazer investimentos na ordem de R$ 105 milhões até 2013 para melhorar a rede de distribuição no Estado.

Para tentar amenizar os problemas com os apagões, em curto prazo a Eletrobras prometeu reforçar as equipes de operação, para reduzir o tempo médio de atendimento e reduzir a sobrecarga de alguns transformadores. Também serão intensificadas as lavagens de rede e as podas de árvores, a fim de evitar quedas de energia.

Preocupado com a situação, o governo do Estado também se reuniu com a Eletrobras e vai apresentar a relação de empresas que devem se instalar em Alagoas nos próximos meses. A distribuidora de energia garantiu que vai redirecionar ações às localidades de instalação dos empreendimentos, para que o Estado não deixe de se industrializar por carência energética.