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Dez meses após tragédia, Alagoas e Pernambuco ganham sistema de monitoramento e alerta de enchentes

Carlos Madeiro<BR>Especial para o UOL Notícias<BR>Em Maceió

20/04/2011 07h01

A partir desta quarta-feira (20), os leitos dos rios Mundaú e Paraíba, que cortam Alagoas e Pernambuco, passam a ser monitorados 24 horas por dia. Pioneiro no país, o sistema de alerta tenta evitar tragédias causadas por enchentes, como a ocorrida em junho de 2010, que deixou 47 mortos e mais de 150 mil desabrigados e desalojados nos dois Estados.

Segundo a ANA (Agência Nacional das Águas), a sala onde vai funcionar o monitoramento –na sede da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos– é o primeiro sistema de alerta do país interligado diretamente com a agência, com fornecimento de dados em tempo real do nível dos rios e da previsão meteorológica da região dos seus leitos.

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O novo sistema custou R$ 2,5 milhões e pode fornecer imagens via satélite para previsão do tempo a cada 15 minutos, além de informar sobre a situação dos dois rios de hora em hora. Entre os equipamentos, a sala possui dois imensos monitores que informam a situação do nível dos rios e imagens de satélite e uma impressora especial para gerar mapas climatológicos em grandes tamanhos.

O monitoramento dos rios é feito por nove estações de coleta de dados, que funcionam por telemetria e estão instaladas às margens dos rios Mundaú e Paraíba em nove cidades –cinco em Alagoas (Atalaia, São José da Laje, Quebrangulo, União dos Palmares e Viçosa) e quatro em Pernambuco (Brejão, Canhotinho, Correntes e Palmeirinha).

A ANA informou que mais duas estações ainda serão instaladas (uma em Rio Largo-AL e outra em Bom Conselho-PE) para finalizar o sistema. Já as imagens de satélite com a previsão são disponibilizadas pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Modelo pioneiro

O modelo inaugurado em Alagoas é o primeiro de uma rede nacional de alerta que deve passar a monitorar todos os rios do país nos próximos anos, conforme informou a ANA. “A ideia é termos o sistema em todo Brasil. Temos um pacto com todos os Estados do país, e acredito que teremos dados de todo o país dentro de três anos”, disse o superintendente de Gestão da Rede Hidrometeorológica da ANA, Valdemar Guimarães.

A agência informou que a próxima sala de monitoramento será inaugurada em Pernambuco e vai receber as mesmas informações que chegarão a Alagoas. “Após fecharmos essas bacias, vamos passar a instalar outras estações nos leitos dos afluentes desses rios. Optamos por monitorar primeiramente no Mundaú e no Paraíba porque foram nas margens deles que ocorreram os maiores problemas”, disse Guimarães.

Em Alagoas, a sala conta com técnicos da Secretaria e um integrante da Defesa Civil Estadual, treinados para analisar e monitorar os dados. Segundo o coordenador estadual do sistema, José Gino de Oliveira, se o Estado tivesse um sistema de alerta instalado, o número de mortes em 2010 teria sido consideravelmente menor.

“A diferença agora é que, com esses dados recebidos em tempo real, conseguimos ter informações rápidas e sabemos a força da água e o tempo que ela vai levar para atingir as cidades. Com esses equipamentos, temos tempo de avisar as regiões que serão afetadas. Para se ter ideia, a distância entre Atalaia e Viçosa [ambas cidades devastadas em 2010] é de 39 km, mas são 10 horas para que a grande vazão se desloque e chegue ao outro município”, explicou.

Para o coordenador do Instituto de Ciências Atmosféricas da Universidade Federal Alagoas, Luiz Carlos Molion, o sistema é um avanço para minimizar os efeitos das cheias dos rios.  “Esse modelo acrescenta grande agilidade porque, além de monitorar os rios, fornece previsões do tempo com 48 horas de antecedência, e que têm acerto de 65%. Todo Estado deveria ter um sistema desses.” 

Números da tragédia

Em Alagoas, as enchentes afetaram 29 municípios, deixando 15 deles em estado de calamidade pública e quatro em situação de emergência. Segundo a Defesa Civil Estadual, 27 pessoas morreram, 27.757 ficaram desabrigadas e 44.504, desalojadas, além de um total de 18.823 casas destruídas ou danificadas.

Já em Pernambuco, os alagamentos atingiram 68 municípios, deixando 11 deles em estado de calamidade pública e 30 em situação de emergência. Ao todo 14.136 casas foram destruídas ou danificadas. Vinte pessoas morreram, 26.966 ficaram desabrigadas e 55.643 ficaram desalojadas.