Com polícias em greve, delegados dirigem carros com presos e PMs cruzam até 30 km para "entregar" detentos em Maceió (AL)
Em greve desde a 0h dessa terça-feira (26), os policiais civis de Alagoas decidiram radicalizar nesta quarta-feira (27) e deixaram de realizar todos os serviços, inclusive aqueles considerados essenciais, como a lavratura de flagrantes e transporte de presos. No primeiro dia de protesto, o caos tomou conta dos serviços do órgão, e cenas como delegados dirigindo carros de polícia com presos e policiais militares sem saber para onde encaminhar detentos foram comuns.
Seguindo com os protestos em conjunto no setor da segurança pública, nesta terça-feira foi a vez de os agentes penitenciários decidirem por greve por tempo indeterminado a partir da próxima segunda-feira (2). No mesmo dia, será a vez dos policiais militares votarem um indicativo de aquartelamento.
No primeiro dia de paralisação, a greve já alcançou uma adesão praticamente todos os servidores, e todas as delegacias --inclusive a Central de Policia, em Maceió --não prestaram serviços à comunidade: apenas contaram com a presença dos delegados, que não participam do protesto. Todas as investigações também estão paradas, assim como os boletins de ocorrências estão suspensos.
O delegado Nivaldo Aleixo teve que dirigir o carro policial e transportar sete presos, da Central de Polícia para a Casa de Custódia, que foram detidos durante o seu plantão . "Esse serviço era para ser feito por três policiais civis, que fariam a transferência sem nenhum problema. Mas com a greve, infelizmente, tive que fazer", disse.
Segundo Josimar Melo, vice-presidente do Sindpol (Sindicato dos Policiais Civis), a categoria decidiu não manter os serviços essenciais porque a greve foi decretada ilegal antes do início da paralisação --no último dia 13, a desembargadora Nelma Padilha proibiu a deflagração de paralisação, sob pena de multa de R$ 10 mil por dia.
"Não tem serviço prestado porque essa greve já nasceu ilegal. Aqui existe um acordo para que se anuncie uma greve e se decrete a ilegalidade antes mesmo dela começar. Com essa posição, não temos mais o que se perder", disse.
Josimar acusou a direção da Policia de ameaçar de prisão os agentes que se recusarem a seguir ordens, como transportar presos. "Já era esperado que a direção agisse dessa forma, perseguindo aquele servidor que está fazendo greve, lutando por um salário digno", afirmou.
Direção vira delegacia; PMs reclamam
Para evitar que presos em flagrante pela Policia Militar sejam libertados por falta de cumprimento de procedimentos legais, a delegacia-geral, onde funcionam apenas os setores administrativos e direção da Polícia Civil, foi obrigada a absorver o serviços essenciais. Desde a noite dessa terça-feira, todas as pessoas presas pela PM estão sendo encaminhadas à sede da Polícia Civil, no bairro de Jacarecica, na zona norte da cidade e que fica a 30 km de bairros como o Tabuleiro do Martins, também na capital alagoana.
A mudança dificultou a vida dos militares no Estado. O comandante de policiamento da capital afirmou que não houve registro de presos que foram libertados por conta da falta de procedimentos legais, mas há dificuldades. "O que houve foi uma dificuldade por conta da localização da delegacia-geral, que não é em uma área central. Fora isso, a Polícia Militar está fazendo os termos circunstanciados de ocorrência daqueles crimes de menor potencial ofensivo", afirmou o coronel Gilmar Batinga.
Já o comandante de policiamento do interior, Luiz Bugarin, disse ao UOL Notícias que, até a manhã desta quarta-feira, enfrentou apenas um problema: a negativa no recebimento de um veículo roubado, que foi localizado pelos militares no município de São Miguel dos Campos. "Não tive conhecimento de qualquer recusa de recebimento de presos até o momento no Interior. Apenas tivemos essa ocorrência, mas essa perícia será realizada hoje, sem problemas", assegurou.
Polícia: diálogo aberto e abertura de processo
Em nota, a Polícia Civil garantiu que "o diálogo com a categoria continua aberto", mas ressaltou que "o policial que se omitir em cumprir seu dever deve estar ciente que assumirá as consequências jurídicas de seus atos".
"Quanto à 'Operação Padrão', movimento criado pelo Sindpol, a direção-geral possui um despacho da Procuradoria Geral do Estado informando que esta prática também se configura como elemento descumpridor das obrigações do servidor público, sob pena de desconto dos dias parados e abertura de processo administrativo disciplinar", diz o texto.
Já o secretario de Estado da Gestao Publica, Alexandre Lages, afirmou que o governo não irá conceder reajuste aos policiais. "Eles já tiveram reajuste de 36% na gestão anterior, quando a inflação acumulada foi de 23%", afirmou.
Para a população, a Polícia Civil informou que os boletins de ocorrência, para os casos de perda de documentos ou furtos, estão sendo realizados apenas por meio da Internet, através do endereço www.delegaciainterativa.al.gov.br.
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