Documentos oficiais são achados em meio a lixo de delegacia abandonada em AL; MP investiga caso
Documentos originais da delegacia do município de Olho d'Água Grande (AL), a 156 quilômetros de Maceió, foram encontrados, esta semana, jogados no chão, junto ao lixo do antigo prédio que abrigava a delegacia da cidade. Com as portas quebradas e abertas, os cômodos da delegacia estão sem móveis e com muita sujeira. O terreno que abriga o prédio está coberto por um matagal.
Segundo o Ministério Público Estadual, foram encontrados documentos originais, que deveriam ter sido utilizados pela delegacia e pela Justiça do município. O promotor do município, Valter Omena Acioly, quer saber agora porque fichários, registros de queixas, requerimento de expedição de carteira de identidade, com a foto e os dados pessoais do solicitante, e até alvarás de soltura foram abandonados nos cômodos do local. Dentre esses papéis, existe um processo com a data de 2004. Ele conta que soube da situação após reportagem da TV Gazeta, na última quarta-feira (27).
Para Acioly, a situação encontrada é "lamentável" e seria reflexo da situação de insegurança que Alagoas vive. "Vou requisitar uma apuração da Corregedoria da Polícia Civil para saber o que aconteceu. Quero saber quem seria o responsável por guardar aqueles documentos. Se são documentos de processos que ainda estão correndo na Justiça ou são de arquivo, que deveriam ter sido guardados ou incinerados. Temos de saber que falha ocorreu. Pode ser um crime de prevaricação, junto com o crime de abandono de função dos agentes e do delegado da época lotado no município. Pode ser também uma situação de total falta de condições de trabalho", diz o promotor, que acumula os trabalhos de outras três cidades.
Segundo ele, a delegacia da cidade está abandonada há anos, e a população Olho d'Água Grande que precisa de algum serviço policial é obrigada a recorrer à delegacia regional de Arapiraca (a 64,7 km) ou de Penedo (a 51,1km) para poder ser atendida. "A população tem que recorrer aos serviços em outros municípios longes devido a inexistência de delegacias nas cidades vizinhas. A situação é de abandono", aponta Acioly.
O promotor ressaltou que já solicitou investigação sobre o caso ao delegado regional de Arapiraca, Valdeks Pereira, que responde pela área. "Vamos aguardar a investigação, mas já adianto que nessas condições de trabalho em que esse delegado e os agentes trabalhavam, nem podemos cobrar muita coisa. O delegado Valdeks, por exemplo, responde pela Regional, mas acumula cinco ou seis cidades. Essa condição de trabalho é desumana", afirmou.
Resposta
A Secretaria de Estado da Defesa Social informou ao UOL Notícias, por meio da assessoria de imprensa, que a delegacia-geral de Polícia Civil instaurou procedimento administrativo para averiguar o abandono do prédio e dos documentos, mas não informou prazo para divulgação do resultado.
O UOL Notícia não conseguiu contato com o delegado-geral da Polícia Civil, Marcílio Barenco, sobre o fechamento da delegacia. Porém, segundo levantamento da própria corporação, existe uma carência de 1.977 servidores - sendo 68 delegados, 140 escrivães e 1.769 agentes -, o que acarreta uma restrição de serviços prestados a população, em especial as pequenas cidades do interior.
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