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Ajuda deficiente empurra desabrigados das enchentes do Nordeste de volta às áreas de risco

Carlos Madeiro

Especial para o UOL Notícias<br>Em Alagoas e Pernambuco

08/05/2011 14h34

Até o mês passado, não era incomum ir às cidades atingidas pelas enchentes de Alagoas e Pernambuco e encontrar famílias vivendo em áreas próximas aos rios que transbordaram e causaram destruição. Nenhuma das 27 cidades que decretaram calamidade conseguiram afastar os moradores de áreas de risco.

Prova disso é que as novas enchentes de 2011 mostraram o quanto as cidades estão longe de oferecer segurança para os ribeirinhos. Em todas as cidades visitadas pelo UOL Notícias nesse sábado (7), todos os personagens ouvidos nos município de São Luiz do Quitunde (AL), Água Preta, Barreiros e Palmares (ambos de PE) relataram que sofreram com problemas similares em 2010.

No município de São Luiz do Quitunde --cidade mais atingida pela nova cheia em Alagoas e que decretou emergência em 2010--, os moradores revelaram que recebem, desde que deixaram os abrigos públicos no início do ano, auxílio-moradia no valor de R$ 100. Mas as casas alugadas também eram em áreas de risco e foram invadidas pelas águas do rio Santo Antônio. A cidade decretou emergência novamente no último dia 30.


Na escola Demócrito Sarmento, que abriga 45 famílias, não faltam histórias de pessoas que reclamam dos novos locais onde moram. “Em 2010 morava no Alto da Boa Vista, e a casa ficou só o chão. Recebi esse auxílio de R$ 100 e passei a morar no Porto da Barcaça, mas a casa alagou na semana passada e voltei a perder o pouco que tinha”, contou a desempregada Mônica Patrícia do Nascimento, 28.

Já José Cláudio da Silva, 25, reclamou do valor pago pela prefeitura. “Fui para uma casa que alagava porque com R$ 100 iria alugar o quê?”, pergunta o ex-morador da rua Sete de Setembro, que levou um puxão de orelhas das assistentes sociais nesse sábado por ter gastado o dinheiro do aluguel do mês de maio “indevidamente”. “Minha senhora, eu gastei para comprar comida, leite para o meu filho. Depois de perder geladeira, fogão e sofá, a senhora queria que fizesse o quê com o dinheiro?”, questionou.

Em Barreiros, que decretou calamidade pública, todos os desabrigados ouvidos pelo UOL Notícias da atual enchente são remanescentes da cheia de 2010. Eles contam que, por falta de opção, voltaram a viver em áreas de risco, próximas ao rio Una. “Quem é que quer morar em um lugar assim? Mas só dão R$ 150, e qualquer casa que preste custa R$ 350. Procure um local para só dormir na cidade e veja como está difícil”, disse Edeilson Castanha, 20.

Em Água Preta, a situação é ainda mais grave já que, segundo o secretário de Administração, Francisco de Assis, não há sequer mais casas para alugar. “Nós fizemos um esforço grande para alugarmos casas e acabarmos com os acampamentos. Conseguimos muitas, mas não todas. Nós temos obras em andamento aqui, e a pousada está alugada a funcionários da empreiteira. Por conta disso, temos famílias que se uniram e pagam o auxílio para morarem em um motel, por exemplo, enquanto esperam a casa. Temos moradores também no hospital destruído da cidade”, disse.