Com 200 mil correspondências encalhadas, Correios decretam intervenção e carteiros apanham da população em Alagoas
Receber uma correspondência pelos Correios em Alagoas deixou de ser rotina para se transformar em problema. Por conta de um acúmulo de 200 mil correspondências nos centros de distribuição, a direção nacional da ECT (Empresa de Correios e Telégrafos) decretou, no final do mês passado, intervenção federal na regional de Alagoas. Um mutirão e uma auditoria tentam sanar o problema.
O atraso no recebimento das correspondências gerou não só transtornos, mas revolta da população em Maceió, que em alguns casos descontou nos carteiros a fúria por deixar de receber encomendas. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores da ECT em Alagoas, foram registradas pelo menos quatro agressões físicas em 2011, além de dezenas de ofensas verbais e ameaças. Por conta disso, a CDD (Central de Distribuição Domiciliar) do Barro Duro, na periferia de Maceió, precisou instalar, no início do ano, grades para conter a invasão de clientes insatisfeitos.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da ECT, José Balbino dos Santos, contou que um cliente invadiu a CDD e agrediu violentamente um carteiro. “Essa grade foi colocada após a reincidência de agressões, ameaças e reclamações de pessoas por quererem suas correspondências. Exigimos que fosse dada segurança, caso contrário, não continuaríamos o serviço”, explicou.
Segundo funcionários da CDD, que pediram para não ter a identidade revelada, o número de carteiros (31) da região é insuficiente, já que alguns estão afastados por licença médica ou por agressões. “Todos aqui trabalham com muito medo, pois já presenciamos agressões e as pessoas reclamam bastante”, afirmou um funcionário, citando ainda que, por receio de novos atos de violência, as portas da CDD estão sempre fechadas.
Mutirão
Segundo o interventor da ECT, Edvan Alves Oliveira, há correspondências de todos os tipos encalhadas nos centros de distribuição de Alagoas. “Estão lá diversos objetos, urgentes e não urgentes. Estamos analisando essas correspondências por auditoria independente e vamos comunicar aos remetentes sobre o atraso para sabermos se ainda devemos entregar os objetos ou não. Sabemos da responsabilidade”, explicou, citando que problemas de gestão são responsáveis por 80% dos atrasos – os outros 20% seriam por falta de carteiros.
Para tentar amenizar o prejuízo aos alagoanos, os Correios iniciaram, no fim de semana passada, um mutirão para entrega dos objetos. “Estamos também com 17 técnicos de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, que estão nos ajudando. Além disso, o pessoal do administrativo está ajudando os carteiros”, disse.
Oliveira afirmou que os serviços prestados pelos Correios aos alagoanos estavam “deixando a desejar”, e isto resultou na intervenção. “Uma auditoria independente está analisando todas essas correspondências. Até um relatório final, não tenho como tecer juízo de valor sobre o porquê desse acúmulo de correspondências”, afirmou.
Segundo Oliveira, os ex-gestores são alvo de processo administrativo, que apura o atraso dessas correspondências. “Não posso culpar ninguém, seria leviano. Tenho que esperar a auditoria terminar. Mas os processos podem resultar em advertência ou mesmo demissão dos servidores. Entretanto, eles terão ampla defesa”, ressaltou o interventor.
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da ECT, dois fatores foram determinantes para os atrasos. “Ou incompetência, ou falta de compromisso resultaram nisso. Além disso, há dois anos que estamos pedindo a contratação de mais carteiros”, disse José Balbino.
O UOL Notícias tentou localizar o ex-gestor da ECT em Alagoas, Carlos Roberto Medeiros, mas foi informado que ele mudou o número de telefone celular e não é visto nos Correios há dias.
Reclamações
Com as cartas acumuladas nos Correios, as reclamações se multiplicam em Maceió. O UOL Notícias visitou os bairros de Maceió apontados como os mais afetados e ouviu com frequência os relatos de atrasos e não-entregas de correspondências.
“As reclamações aumentaram demais este ano. A principal queixa são as correspondências com cobranças bancárias, porque banco não quer saber se os Correios entregaram ou não” afirmou Afrânio Godói, um dos síndicos do condomínio Dom Adelmo Machado, que tem 492 apartamentos no bairro de Cruz das Almas.
Sem receber as correspondências, a pedagoga Erivana Vieira Oliveira, 30, que mora na Serraria, afirma que há seis meses imprime todas as contas pela internet. “Desde lá, todos os boletos que chegam à minha casa estão vencidos. Se não procurasse gerar uma segunda fatura, estaria perdida”, afirmou, citando que os únicos objetos que são entregues no prazo são as contas de água e luz – que são entregues pelas próprias concessionárias.
Já a professora Kátia Pimentel, 44, que também mora em Cruz das Almas, reclama que não recebe as contas no prazo há meses. “Como não recebo os boletos, não posso ir uma vez só ao banco, mesmo tendo todas as minhas contas com vencimento no dia que sai o salário”, explicou.
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