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Jovem supostamente mantida em cárcere por mais de 20 anos em Minas era prima de acusada

Rayder Bragon<BR>Especial para o UOL Notícias<BR>Em Belo Horizonte

18/08/2011 21h41

A delegada Cristina Coeli, chefe da Divisão de Proteção à Pessoa Desaparecida, disse nesta quinta-feira (18) que a jovem de 24 anos que foi supostamente mantida em cativeiro por mais de 20 anos em Contagem (MG) era prima da acusada pelo crime.

A aposentada Neli Maria Neves, 53, que apresentava a jovem como sua filha, reconheceu em depoimento que mentiu. A vítima, que teria sido sequestrada com 1 ano de idade, seria na verdade filha de uma tia da aposentada, que já teria falecido. A delegada disse ainda que o pai biológico da jovem também já morreu. Mais detalhes do suposto sequestro, entretanto, não foram revelados.

A polícia descobriu o cárcere durante uma investigação sobre o desaparecimento de uma menina de 7 anos, cujo sequestro é também atribuído a Neves. A criança sumiu no último dia 7, em uma feira de artesanato do município. A mulher nega a acusação e culpa sua irmã, que, segundo ela, seria a mandante do crime.

A Polícia Civil divulgou o retrato falado da suspeita e, três dias depois, a criança foi deixada próxima à casa de familiares. Por meio de um telefonema anônimo, a polícia conseguiu localizar a residência da suspeita –onde estava a jovem de 24 anos.

A polícia investiga se a vítima teria sido dopada regularmente com medicamentos. A delegada afirmou que testemunhas relataram nunca ter visto a jovem desacompanhada nas raras vezes em que saiu à rua.

Neves e seu companheiro, um cabo reformado da Polícia Militar de Minas Gerais, foram presos.

Ainda conforme relato da delegada, a jovem de 24 anos está sob cuidados médicos de uma equipe que conta também com psicólogos. Há indícios de que ela sofra de transtornos mentais –quadro clínico, entretanto, que não descartaria seu depoimento, segundo Cristina Coeli.

“Após liberada pelos técnicos de saúde, a polícia vai iniciar o trabalho de aproximação, de abordagem, para que ela possa falar sofre os fatos ocorridos nesses 24 anos”, afirmou.

“Inteligente e ameaçadora”

A delegada descreveu Neli Neves como uma pessoa “inteligente” e “bem articulada”. Ela afirmou ainda que familiares e vizinhos da acusada a descrevem como uma pessoa “ameaçadora”.

No período em que passou sob domínio da aposentada, a criança de 7 anos chegou a ser registrada como filha em um cartório da cidade de São Joaquim de Bicas, na região metropolitana da capital mineira, onde teve a idade reduzida para 5 anos.

A alegação dada pelo responsável do cartório para o registro foi que a mulher se apresentou no local acompanhada de dois irmãos que serviram de testemunha do procedimento.

Em depoimento, os irmãos alegaram à polícia que foram ao local sob o argumento da irmã dando conta de que testemunhariam uma adoção.

Cristina Coeli, no entanto, afirmou ainda não ter desvendado qual seria a motivação para os dois supostos sequestros –tanto da mulher de 24 anos quanto da menina de 7 anos.

Uma das hipóteses investigadas é a de exploração por dinheiro, já que foram descobertos documentos de venda de imóveis com a assinatura da vítima de 24 anos.

“Durante a diligência realizada, nós apreendemos documentos nos quais a jovem assina contratos de promessa de compra e venda de imóveis e de procurações. Se ficar comprovado que essa jovem tem sofrimento mental, ela estaria sendo usada e explorada”, disse.

A delegada pediu a prorrogação da prisão temporária da aposentada, que vence no próximo sábado. Ao todo, seis testemunhas já foram ouvidas no inquérito.

A menina de 7 anos e a mãe compareceram ao Departamento de Investigações, nesta quarta-feira, e depuseram à delegada. Hoje foi a vez de o companheiro da acusada depor. Segundo a polícia, ele afirmou que somente falaria em juízo.

O homem está detido em uma companhia da Polícia Militar, em Belo Horizonte. A aposentada está confinada em um centro de detenção feminino na capital mineira. A dupla poderá responder pelos crimes de sequestro, cárcere privado e falsidade ideológica.