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"Ele é tratado como bandido pelo governo do Rio", diz mulher de líder grevista preso em Bangu

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

12/02/2012 14h56Atualizada em 12/02/2012 14h59

Cristiane Daciolo, mulher do líder da greve dos bombeiros fluminenses, cabo Benevenuto Daciolo, atualmente preso em Bangu 1, afirmou neste domingo (12) que o marido está sendo "tratado como bandido" pelo governo do Estado do Rio, e cobrou da presidente da República, Dilma Rousseff, uma atitude em defesa do bombeiro.

"Meu marido é uma pessoa de bem e não poderia estar em Bangu 1. Ele está sendo tratado como bandido pelo governo do Estado. (...) A Dilma deveria fazer alguma coisa, pois ela também já foi perseguida e sabe como isso é injusto", disse ela.

A penitenciária de segurança máxima de Bangu 1, no complexo de Gericinó, em Bangu, na zona oeste da cidade, é a mesma utilizada para abrigar criminosos de alta periculosidade. Daciolo foi detido na noite da última quarta-feira (8) sob acusação de incitar uma greve geral das entidades de classe da segurança pública do Rio de Janeiro.

Cristiane afirma ter recebido informações de que o marido iniciou uma greve de fome. "Ele não come nada desde quinta-feira", disse a mulher do cabo. Segundo o comando da corporação, outros 29 bombeiros foram presos e indiciados pelo mesmo crime militar – incitamento e aliciamento a motim– e encaminhados ao presídio Bangu 1.

Os familiares reclamam que o lugar correto para a detenção dos grevistas seria o Grupamente Especial Prisional (GEP), pois eles são militares e não respondem a ações penais.

A mulher de Daciolo participou nesta manhã de uma passeata promovida pelo movimento S.O.S Bombeiros em Copacabana, na zona sul da capital. Cerca de 200 manifestantes iniciaram o ato nas proximidades do hotel Copacabana Palace. Policiais militares e parentes dos grevistas também fazem parte do protesto.

Nesta segunda-feira (13), a categoria fará uma assembleia para decidir o futuro da greve, decretada na noite de quinta-feira (9).

Prisão de líder dos bombeiros

Na quinta-feira (9), a Justiça do Rio havia decretado a prisão preventiva do cabo do Corpo de Bombeiros Benevenuto Daciolo. O bombeiro, que é um dos líderes do movimento, está detido desde a noite do dia 8, administrativamente, sob a acusação de ter cometido o crime militar de incitamento à desobediência. Ele foi preso no Rio após retornar de Salvador, onde acompanhava a greve dos policiais militares baianos.

Daciolo já havia sido preso no ano passado, com mais 400 bombeiros, por terem ocupado o quartel-central da corporação, durante uma manifestação.

Gravações telefônicas divulgadas na quarta-feira pelo "Jornal Nacional", da TV Globo, apontam que Daciolo falou em inviabilizar tanto o Carnaval baiano quanto o fluminense.

Polícia Civil suspende greve

O diretor jurídico do Sindicato da Polícia Civil do Rio, Francisco Chao, anunciou que a categoria suspendeu sua participação no movimento grevista dos profissionais de segurança pública, anunciado na última quinta-feira (9). 

"Não estamos cancelando a greve, mas suspendendo para, na próxima quarta-feira (15), avaliar os fatos que ocorreram até agora e deliberar sobre as próximas ações", explicou.

Dois motivos foram apontados por Chao para a decisão. Ele disse que foi procurado por policiais, que relataram o temor sobre possíveis ações de marginais com a suspensão de parte das atividades. A outra razão, segundo o diretor, seria a baixa adesão ao movimento.

"As ruas estão cheias de viaturas da PM [Polícia Militar] e é difícil acreditar em movimento reivindicatório sem adesão.”

Prisões de bombeiros e PMs

Na sexta-feira (10), o Corpo de Bombeiros divulgou nota informando que 123 guarda-vidas foram indiciados por falta ao serviço e que todos seriam presos administrativamente. A nota informava ainda que o comandante do 2º Grupamento Marítimo (Gmar), na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, tenente-coronel Ronaldo Barros, foi exonerado do cargo.

No dia seguinte, mais 39 guarda-vidas foram detidos administrativamente. No total, 169 bombeiros já foram presos por insubordinação, incitamento, aliciamento a motim ou falta ao trabalho, dos quais 30 estão na penitenciária de segurança máxima Bangu 1.

Onze mandados de prisão foram expedidos contra policiais militares que estavam à frente da paralisação e outros sete policiais foram presos por desacato e motim. No total, mais de 130 PMs responderão a sindicâncias e/ou inquéritos administrativos por insubordinação já que se recusaram a sair do quartel.

O governo resolveu jogar duro com os policiais que resolveram aderir ao movimento. Os manifestantes já esperavam a prisão dos militares que se recusassem a deixar seus respectivos quartéis e batalhões --estratégia orientada pelo comando de greve.