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Greve de policiais termina com aumento de 156% de mortes na região metropolitana de Salvador

Do UOL*, em São Paulo

12/02/2012 12h19

A greve dos policiais militares na Bahia, encerrada em assembleia realizada na noite de ontem, deixou um saldo de 177 assassinatos na região metropolitana de Salvador durante o período que durou a paralisação: entre a manhã de 1º de fevereiro (quarta-feira) e a noite de 11 de fevereiro (sábado). A greve foi decretada na noite do último dia 31.

Levantamento feito pelo UOL nas estatísticas oficiais divulgadas pelo governo estadual mostra que o número de homicídios registrados no período é 156% superior ao mesmo período anterior. Entre 18 de janeiro (quarta-feira) e 28 de janeiro (sábado), foram 69 homicídios na região metropolitana.

O dia com maior índice de violência foi a sexta-feira (3), com 31 mortes –o governo chegou a anunciar 32 homicídios, mas o número foi corrigido. A média de mortes no período foi de 16 assassinatos enquanto, antes da greve, a média era de seis, ainda segundo os números divulgados pelo Estado.

Uma das vítimas do dia 3 de fevereiro foi o percussionista da banda Olodum, Denilton Souza Cerqueira, 34, morto a tiros na porta de casa na madrugada do dia 3, no bairro periférico da Mata Escura. Dois homens armados, em uma motocicleta, teriam abordado o músico e feito os disparos.

Reportagem da “Folha de S.Paulo” divulgada neste domingo (12) mostra que a maioria das vítimas mortas na capital Salvador durante a greve foi baleada na cabeça, o que sugere que as vítimas não tiveram chance de defesa. Ontem, o jornal mostrou que a polícia investiga a atuação de milícias em mortes realizadas na periferia da capital.

Onda de mortes e arrastões

Entre os mortos durante a greve, ao menos três eram policiais: na noite do dia 7, o soldado Elenildo dos Santos Costa, 34, morreu a tiros quando saía de uma pizzaria no bairro de São Rafael; a noite da segunda-feira (6), o policial rodoviário Carlos Luiz Leal de Souza foi morto com dois tiros em frente à Universidade Estadual da Bahia, em Camaçari (Grande Salvador); já no sábado (4), o policial civil João Carvalho Filho morreu na avenida ACM, em Salvador, por dois homens armados que dispararam mais de dez vezes contra a vítima.

Durante a paralisação, estabelecimentos comerciais também registraram saques e arrastões. Para se proteger, alguns comerciantes da capital formaram uma "rede de informações": em caso de ocorrência de assalto em algum bairro, os donos de loja ligavam para amigos nos bairros vizinhos e todos baixavam as portas.

Também foram canceladas aulas nas redes pública e privada, assim como shows e espetáculos culturais. Os Estados Unidos chegaram a recomendar aos norte-americanos que adiassem viagens "não essenciais" ao Estado.

Gravações mostram PMs combinando ações de vandalismo na Bahia

    O fim da greve

    Reunidos em assembleia desde o final da tarde de sábado (11), a parte dos policiais militares que permanecia em greve na Bahia decidiu pôr fim à paralisação iniciada há 12 dias. Eles aceitaram a oferta do governo de pagamento das Gratificações por Atividade Policial (GAP) 4 e 5 de forma parcelada até o final de 2015, além de 6,5 % de reajuste oferecidos a todos os servidores.

    Após mais de uma hora de reunião, o grupo de policiais decidiu acatar o pedido do comando da corporação de retorno imediato às atividades, sob pena de responderem a inquérito administrativo e terem o ponto cortado, caso não retornassem. Os que ainda permaneciam parados estavam sendo interpretados apenas como um foco de resistência.

    Segundo o líder dos policiais militares grevistas, Ivan Leite, o único avanço obtido foi a anistia administrativa. Ou seja, de acordo com ele, os policiais não terão cortes nos salários nem qualquer tipo de punição. Ainda segundo Leite, a garantia foi dada pelo comandante-geral da corporação, Alfredo Castro, em um encontro na tarde de ontem com líderes do movimento.

    “Foi olho no olho”, disse Leite. Ele ainda acrescentou que o fim da paralisação foi uma decisão exclusiva da categoria, “porque o governo continua intransigente e nos trata muito mal”.

    “O governo não merece esse nosso gesto. Voltamos pela população baiana, que estava sofrendo. As Forças Armadas não estão preparadas para esse tipo de policiamento,” afirmou, insistindo que a categoria continuará reivindicando os seus direitos. “Agora eles sabem que temos força”, assinalou.

    A versão contradiz a do comandante-geral da PM na Bahia, Alfredo Castro. Ele negou que tenha se reunido com as lideranças do movimento e que não haverá corte no ponto --ou seja, os dias de greve serão interpretados como falta ao serviço.

    Castro confirmou que "os focos de resistência foram todos debelados” e, a partir de agora, a população passa a contar com 100% do efetivo nas ruas. O comandante ainda informou que vai anunciar na próxima terça (14) o planejamento do Carnaval de Salvador, ocasião na qual confirmará se o Exército permanecerá ou não nas ruas. A abertura oficial do Carnaval em Salvador acontecerá na quinta (16).

    As prisões dos líderes grevistas não foram revogadas e o governo continua afirmando que não dará anistia aos grevistas envolvidos em atos de vandalismo.

    Assembleia

    Marcada inicialmente para as 14h, a assembleia começou às 19h, porque boa parte dos grevistas foi ao sepultamento de dois colegas mortos na noite de ontem em um acidente com um carro da corporação, na BR-324, a caminho de Salvador.

    Durante todo o evento ouvia-se de fora do Ginásio de Esportes dos Bancários, no bairro dos Aflitos, na capital baiana, discursos inflamados e gritos de "ôôô a PM parou". Mas também admitiam que muitos já estavam voltando ao trabalho. Com a inclinação pelo fim do movimento, pouco a pouco a reunião ia ficando esvaziada. Os policiais que deixavam o local demonstravam certa resignação com as conquistas obtidas.

    Ao final ouviu-se: "ôôô a PM voltou".

     

    Volta às aulas

    Diante do aparente clima de normalidade, a orientação passada pela Secretaria de Educação do Estado é a de que todos os alunos retornem às salas de aula. Apesar do início do ano letivo ter ocorrido na segunda-feira passada, parte das escolas não funcionou devido a ausência de alunos.

    Na rede particular, onde a volta às aulas foi adida devido à greve policial, as atividades recomeçarão na segunda-feira (13). Já nas escolas municipais, conforme nota divulgada pela Secretaria Municipal de Educação, o retorno dos alunos só deve ocorrer no dia 27, após o Carnaval.

    *Com informações de Heliana Frazão e Janaina Garcia