Greve de policiais termina com aumento de 156% de mortes na região metropolitana de Salvador
A greve dos policiais militares na Bahia, encerrada em assembleia realizada na noite de ontem, deixou um saldo de 177 assassinatos na região metropolitana de Salvador durante o período que durou a paralisação: entre a manhã de 1º de fevereiro (quarta-feira) e a noite de 11 de fevereiro (sábado). A greve foi decretada na noite do último dia 31.
Levantamento feito pelo UOL nas estatísticas oficiais divulgadas pelo governo estadual mostra que o número de homicídios registrados no período é 156% superior ao mesmo período anterior. Entre 18 de janeiro (quarta-feira) e 28 de janeiro (sábado), foram 69 homicídios na região metropolitana.
O dia com maior índice de violência foi a sexta-feira (3), com 31 mortes –o governo chegou a anunciar 32 homicídios, mas o número foi corrigido. A média de mortes no período foi de 16 assassinatos enquanto, antes da greve, a média era de seis, ainda segundo os números divulgados pelo Estado.
Uma das vítimas do dia 3 de fevereiro foi o percussionista da banda Olodum, Denilton Souza Cerqueira, 34, morto a tiros na porta de casa na madrugada do dia 3, no bairro periférico da Mata Escura. Dois homens armados, em uma motocicleta, teriam abordado o músico e feito os disparos.
Reportagem da “Folha de S.Paulo” divulgada neste domingo (12) mostra que a maioria das vítimas mortas na capital Salvador durante a greve foi baleada na cabeça, o que sugere que as vítimas não tiveram chance de defesa. Ontem, o jornal mostrou que a polícia investiga a atuação de milícias em mortes realizadas na periferia da capital.
Onda de mortes e arrastões
Entre os mortos durante a greve, ao menos três eram policiais: na noite do dia 7, o soldado Elenildo dos Santos Costa, 34, morreu a tiros quando saía de uma pizzaria no bairro de São Rafael; a noite da segunda-feira (6), o policial rodoviário Carlos Luiz Leal de Souza foi morto com dois tiros em frente à Universidade Estadual da Bahia, em Camaçari (Grande Salvador); já no sábado (4), o policial civil João Carvalho Filho morreu na avenida ACM, em Salvador, por dois homens armados que dispararam mais de dez vezes contra a vítima.
Durante a paralisação, estabelecimentos comerciais também registraram saques e arrastões. Para se proteger, alguns comerciantes da capital formaram uma "rede de informações": em caso de ocorrência de assalto em algum bairro, os donos de loja ligavam para amigos nos bairros vizinhos e todos baixavam as portas.
Também foram canceladas aulas nas redes pública e privada, assim como shows e espetáculos culturais. Os Estados Unidos chegaram a recomendar aos norte-americanos que adiassem viagens "não essenciais" ao Estado.
Gravações mostram PMs combinando ações de vandalismo na Bahia
O fim da greve
Reunidos em assembleia desde o final da tarde de sábado (11), a parte dos policiais militares que permanecia em greve na Bahia decidiu pôr fim à paralisação iniciada há 12 dias. Eles aceitaram a oferta do governo de pagamento das Gratificações por Atividade Policial (GAP) 4 e 5 de forma parcelada até o final de 2015, além de 6,5 % de reajuste oferecidos a todos os servidores.
Após mais de uma hora de reunião, o grupo de policiais decidiu acatar o pedido do comando da corporação de retorno imediato às atividades, sob pena de responderem a inquérito administrativo e terem o ponto cortado, caso não retornassem. Os que ainda permaneciam parados estavam sendo interpretados apenas como um foco de resistência.
Segundo o líder dos policiais militares grevistas, Ivan Leite, o único avanço obtido foi a anistia administrativa. Ou seja, de acordo com ele, os policiais não terão cortes nos salários nem qualquer tipo de punição. Ainda segundo Leite, a garantia foi dada pelo comandante-geral da corporação, Alfredo Castro, em um encontro na tarde de ontem com líderes do movimento.
“Foi olho no olho”, disse Leite. Ele ainda acrescentou que o fim da paralisação foi uma decisão exclusiva da categoria, “porque o governo continua intransigente e nos trata muito mal”.
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“O governo não merece esse nosso gesto. Voltamos pela população baiana, que estava sofrendo. As Forças Armadas não estão preparadas para esse tipo de policiamento,” afirmou, insistindo que a categoria continuará reivindicando os seus direitos. “Agora eles sabem que temos força”, assinalou.
A versão contradiz a do comandante-geral da PM na Bahia, Alfredo Castro. Ele negou que tenha se reunido com as lideranças do movimento e que não haverá corte no ponto --ou seja, os dias de greve serão interpretados como falta ao serviço.
Castro confirmou que "os focos de resistência foram todos debelados” e, a partir de agora, a população passa a contar com 100% do efetivo nas ruas. O comandante ainda informou que vai anunciar na próxima terça (14) o planejamento do Carnaval de Salvador, ocasião na qual confirmará se o Exército permanecerá ou não nas ruas. A abertura oficial do Carnaval em Salvador acontecerá na quinta (16).
As prisões dos líderes grevistas não foram revogadas e o governo continua afirmando que não dará anistia aos grevistas envolvidos em atos de vandalismo.
Assembleia
Marcada inicialmente para as 14h, a assembleia começou às 19h, porque boa parte dos grevistas foi ao sepultamento de dois colegas mortos na noite de ontem em um acidente com um carro da corporação, na BR-324, a caminho de Salvador.
Durante todo o evento ouvia-se de fora do Ginásio de Esportes dos Bancários, no bairro dos Aflitos, na capital baiana, discursos inflamados e gritos de "ôôô a PM parou". Mas também admitiam que muitos já estavam voltando ao trabalho. Com a inclinação pelo fim do movimento, pouco a pouco a reunião ia ficando esvaziada. Os policiais que deixavam o local demonstravam certa resignação com as conquistas obtidas.
Ao final ouviu-se: "ôôô a PM voltou".
Volta às aulas
Diante do aparente clima de normalidade, a orientação passada pela Secretaria de Educação do Estado é a de que todos os alunos retornem às salas de aula. Apesar do início do ano letivo ter ocorrido na segunda-feira passada, parte das escolas não funcionou devido a ausência de alunos.
Na rede particular, onde a volta às aulas foi adida devido à greve policial, as atividades recomeçarão na segunda-feira (13). Já nas escolas municipais, conforme nota divulgada pela Secretaria Municipal de Educação, o retorno dos alunos só deve ocorrer no dia 27, após o Carnaval.
*Com informações de Heliana Frazão e Janaina Garcia
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