Garotinho diz que não incitou greve no Rio e que apenas conversava com liderança
O deputado federal Antony Garotinho (PR-RJ) negou nesta sexta-feira (10) que tenha estimulado o movimento grevista dos servidores da segurança pública no Rio de Janeiro. Escutas telefônicas autorizadas pela Justiçarevelam uma conversa entre o deputado e um dos líderes do movimento grevista no Rio, o cabo do Corpo de Bombeiros Benevenuto Daciolo –que está preso por crime militar de incitamento no presídio de Bangu 1. Garotinho disse que partiu dele a ligação e que não é possível observar na sua postura incitamento à greve.
Garotinho pergunta a grevista: "tem clima pra parar o Rio?"
Os bombeiros, a Polícia Militar, a Polícia Civil e os agentes penitenciários do Rio de Janeiro entraram em greve oficialmente às 23h30 de quinta-feira (9). A orientação do comando de greve é que nenhum PM ou bombeiro saia para ocorrência alguma. A Polícia Civil só atenderá ocorrências emergenciais, como violência grave, furto de veículo e as relativas à Lei Maria da Penha.
“O que há demais em eu ligar para um líder de um movimento e dizer a ele que eu estava trabalhando em Brasília para a aprovação da PEC 300 (proposta de emenda a constituição que institui um piso salarial nacional para os servidores da segurança pública) e assim até evitar que a situação chegasse ao ponto que chegou?”, questionou o deputado em entrevista à Rádio Globo.
No áudio divulgado, Garotinho diz a Daciolo que está articulando com alguns partidos uma maneira de forçar uma obstrução dos trabalhos do plenário da Câmara Federal, enquanto a PEC 300 não seja votada. Além disso, Garotinho pergunta a Daciolo sobre a possibilidade da greve no Rio acontecer e sugere que o cabo, que estava na Bahia acompanhando o movimento dos policiais militares grevistas, vá a Brasília para também pressionar pela aprovação da PEC.
“Também não há nada demais em procurar saber com esta mesma liderança sobre a real possibilidade da greve. Antes de eu ligar, o deputado paranaense (Fernando) Francischini (PSDB-PR), tinha comentado a situação do movimento no Paraná e me perguntou como estava a situação no Rio, eu disse que não sabia, mas que iria me informar”, afirmou Garotinho.
O deputado disse que de fato pressiona para que a PEC 300 seja aprovada em segundo turno, até porque já foi aprovada em primeiro turno, e dessa maneira evitar o clima de tensão que se espalha pelo país.
Garotinho disse ainda lamentar que a Secretaria de Comunicação do governo do Estado tenha difundido para a imprensa a informação de que era ele o homem a conversar com Daciolo, na 'primeira' conversa exibida pelo “Jornal Nacional”, na quarta-feira (8) –que levou o líder dos bombeiros à prisão. Segundo o deputado, na verdade se tratava do seu colega deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) que é também o autor da PEC 300.
Procurada pelo UOL, a Secretaria de Comunicação do governo negou que tal informação tenha partido do governo. A reportagem tenta contato com Antony Garotinho, mas ainda não obteve resposta.
Os bombeiros, a Polícia Militar, a Polícia Civil e os agentes penitenciários do Rio de Janeiro entraram em greve na noite de ontem após uma grande assembleia coletiva no centro da capital fluminense. A ordem do comando da greve é que todos os policiais que atuam no policiamento ostensivo, além de inativos e aposentados, iniciem um período de reclusão em seus respectivos batalhões –se possível, na companhia de familiares.
As principais reivindicações unificadas das quatro forças da segurança pública do Rio são: piso salarial de R$ 3.500, auxílio-alimentação de R$ 350, e uma jornada de trabalho de 40 horas semanais.
PEC 300
Atualmente, não existe um piso salarial nacional para policiais militares, cabendo a cada Estado definir um valor. Há no Congresso, porém, uma Proposta de Emenda à Constituição que estabelece um piso para os salários de policiais civis, militares e bombeiros --a chamada PEC 300.
A proposta foi apresentada pelo deputado federal Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) em novembro de 2008. O entendimento é que seria adotado o valor de R$ 3.500 para soldados e R$ 7.000 para oficiais.
A emenda foi aprovada em primeiro turno na Câmara dos Deputados em março de 2010. Para ser sancionada, ainda precisa ser aprovada em mais uma votação na Câmara e duas no Senado. Porém, não houve acordo para dar continuidade à votação, apesar da pressão constante imposta por policiais aos parlamentares.
Além da pressão dos governos estaduais (contrários à medida por temer aumento no Orçamento), a PEC 300 sofre dificuldades no Congresso por falta de apoio do governo federal, uma vez que eventuais reajustes exigiriam subsídios do governo federal até serem incorporados pelos governos estaduais.
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