Aumento de chefes de família sem trabalho indica falha de políticas sociais do país, diz geógrafa
O aumento do número de chefes de família que não trabalham é um sinal de que o país falha ao não dar para as pessoas condições para se inserirem no mercado de trabalho. É o que diz a professora Rosa Ester Rossini, especialista em geografia humana da USP.
O número de chefes de família que são não economicamente ativos --pessoas que não trabalham e não estão à procura de trabalho-- aumenta em todas as regiões do Brasil, mostram dados do Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgados nesta sexta-feira (21).
Em 2011, houve alta de 2,9% no número de chefes de família nessa condição, em comparação com a pesquisa de 2009. São 17,857 milhões de lares (27,7% de um universo de 64,358 milhões) nos quais a pessoa de referência não está trabalhando e nem tentando se inserir no mercado de trabalho.
“Quando o IBGE considera não economicamente ativos os que desistiram de procurar trabalho, surge um grande número de famílias à margem da remuneração”, diz Rosa Ester. “Há uma dificuldade de engajamento no mercado de trabalho que o governo não ajuda a superar. Programa de ‘primeiro emprego’ é a única coisa oferecida para um problema grande”, diz ela.
O aumento de famílias cuja pessoa de referência não possui trabalho é bem mais acentuado entre as mulheres, com alta de 3,9% entre 2009 e 2011. São 10,877 milhões (45,1%) de mulheres chefes de família que não possuem nem tentam conseguir uma inserção no mercado de trabalho.
O IBGE considera como economicamente ativo quem possui ou procura um trabalho. Como trabalho, entende qualquer ocupação, sendo ela remunerada, sem remuneração ou para o próprio uso.
Casa dos pais
Já para a pesquisadora Márcia Macedo, socióloga e integrante do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher da UFBA (Universidade Federal da Bahia), o aumento do número de famílias lideradas por mulheres ou homens que não estão no mercado de trabalho pode indicar maior número de lares em que filhos voltam a morar com os pais.
“Há filhos que voltam para a casa da mãe por não conseguirem mais se sustentar. Assim, as chefias ficam com pessoas de mais idade”, diz Márcia Macedo. A pesquisadora diz que a chefia de família é um movimento não linear: “tem gente que volta a ser chefe de família duas, três vezes durante a vida”.
Em municípios pequenos e com maior número de famílias de baixa renda, a saída de habitantes é outro fator que pode explicar o aumento de chefes sem trabalho. “Com o êxodo, a chefia das famílias fica nas mãos de pessoas envelhecidas ou muito jovens. Nesses municípios, mais famílias dependem da aposentadoria dos mais velhos”, afirma a pesquisadora.
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