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Quatro índios se mataram por mês no Brasil entre 2000 e 2011, segundo Conselho Indigenista Missionário

Celso Bejarano

Do UOL, em Dourados (MS)

09/11/2012 15h57

No período de 2000 a 2011, 555 índios deram fim ao próprio destino em todo o Brasil. Geralmente, por enforcamento. Na média, foram registrados quatro suicídios de indígenas por mês nesses 12 anos. As contas são do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), ONG ligada à Igreja Católica voltada à defesa dos interesses dos índios.

O índio guarani Luciano Arévolo, 58, 18 deles dedicados ao posto de cacique da aldeia indígena Bororó, em Dourados, conta o que viu nos últimos anos. “Entre 1989 e 1998, tínhamos muitos suicídios por aqui. Daí surgiu a maconha, e os índios não se mataram mais, mas passaram a matar uns aos outros”, disse.

“A droga tira o suicídio da cabeça do índio, mas ele mata outro índio”, disse Arévolo. O procurador da República em Dourados, Marco Antônio Delfino de Almeida, por meio da assessoria de imprensa do Ministério Público Federal, informa que “não há elementos para comprovar a denúncia” do ex-cacique.

Ainda segundo o Cimi, no ano passado, 51 índios foram assassinados no Brasil, 32 em Mato Grosso do Sul. No último dia de Finados, há uma na semana, o UOL visitou quatro cemitérios da reserva de Dourados. Em todos ouviu relatos de homicídios e suicídios.

Os irmãos kaiowás Tiago Ávila, 26, e Adeilson Machado, 28, pedreiros, limpavam o túmulo da avó, ao lado do jazigo onde foi enterrado Bruno, um índio de 16 anos de idade. “Ele foi pego por outros dois adolescentes índios que queriam roubar sua bicicleta para comprar droga. Como o rapaz resistiu, foi talhado a facão”, disse Ávila.

O crime ocorreu a poucos metros do cemitério, perto da estrada que liga a reserva à cidade de Dourados. Os adolescentes foram apreendidos e cumprem pena socioeducativa, segundo os irmãos.

O próprio ex-cacique Arévolo tem uma história triste para contar. Ele teve a filha, Rosinalda, morta a tiros pelo marido, Osvaldo, que se matou logo após o crime. Segundo o guarani, ciúme teria motivado a tragédia.

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