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Santa Catarina tem segunda noite de ataques; 36 pessoas foram presas

Homens do Corpo de Bombeiros tentam apagar fogo em ônibus que trafegava no bairro dos Ingleses, no norte de Florianópolis (SC) - Cristiano Estrela/Agência RBS/Estadão Conteúdo
Homens do Corpo de Bombeiros tentam apagar fogo em ônibus que trafegava no bairro dos Ingleses, no norte de Florianópolis (SC) Imagem: Cristiano Estrela/Agência RBS/Estadão Conteúdo

Do UOL, em Florianópolis*

14/11/2012 08h24Atualizada em 14/11/2012 12h53

A Polícia Militar de Santa Catarina prendeu 36 pessoas numa tentativa de identificar os autores dos 24 atentados registrados nas últimas 48 horas contra policiais, carros e ônibus em cinco cidades do Estado. Até o momento, as autoridades não conseguiram estabelecer uma conexão entre os detidos.

Segundo balanço preliminar divulgado nesta quarta-feira (14) pela Secretaria de Segurança Pública do Estado, 21 pessoas foram presas em flagrante por estarem com material capaz de provocar incêndios, como estopa e galões de gasolina. Entre os detidos, 15 eram menores.

A onda de violência sem precedentes começou na segunda-feira (12), em Florianópolis, com oito ataques. No segundo dia, se alastrou para cinco cidades, na Grande Florianópolis e em Blumenau

Na noite de terça e na madrugada de hoje, apenas sete horas depois que o governo anunciou a criação de uma força-tarefa para prevenir os ataques, os criminosos responderam dobrando de oito (na segunda-feira) para 16 o número de atentados. Foi uma demonstração de força dos criminosos. Os 16 ataques ocorreram nas cidades de Itajaí (5), Criciúma (4), Florianópolis (4), Navegantes (2) e Blumenau (1). Não houve feridos.

O ataque de maior visibilidade foi o de um ônibus no norte de Florianópolis, às 21h40 de terça. Dois homens encapuzados invadiram o  veículo, ameaçando motorista e cobrador com armas. Em seguida, ordenaram que os passageiros descessem e atearam fogo usando uma garrafa pet com gasolina.

Delegacias, postos da PM e um presídio foram alvos de disparos. A polícia trocou tiros com desconhecidos em Criciúma e Florianópolis, mas ninguém foi preso nestas ocorrências. Em Criciúma (140 km ao sul da capital), motoqueiros dispararam contra a guarita do presídio. Em Florianópolis, tiros foram disparados contra a delegacia do bairro Saco dos Limões.

Entre os presos estão dois homens detidos em Palhoça, na Grande Florianópolis, que estavam na rua carregando garrafas pet com gasolina e foram denunciados por moradores. Eles alegaram que o combustível era para motocicletas.  

Em Itajaí, seis adultos e três adolescentes foram presos em casa onde foram encontradas bombas de fabricação caseira. Um homem de 18 anos, Valmor  Amorim, confessou ataque a dois carros, mas disse que cometeu os crimes supostamente sob ameaça de um bandido identificado apenas como Dido.   

A PM pede aos postos de gasolina que não vendam combustível em garrafas pet.

Em Florianópolis, 10 menores foram detidos na madrugada de quarta-feira, no morro da Caixa.

Segundo a assessoria da Polícia Civil, todos os presos negam participação em atentados – exceto pelos dois que deram tiros na penitenciária de Blumenau, na segunda-feira, incidente sem feridos. A Secretaria de Segurança qualifica de episódio isolado. 

As autoridades ainda não sabem quem coordena os ataques. Uma das teorias é que criminosos de Santa Catarina, de grupos diferentes, viram ações semelhantes no Fantástico de domingo e saíram às ruas na segunda-feira para imitar bandidos de São Paulo.

Represálias

Nos bastidores, policiais civis e militares acreditam que a maioria dos ataques é coordenada pela facção criminosa Primeiro Grupo Catarinense, o PGC, de dentro do presídio de segurança máxima de São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis.

Lá estão presos líderes do tráfico, quadrilheiros de sequestros e assaltos a banco, cujas regalias foram cortadas por um diretor durão, Carlos Alves. O assassinato da mulher dele, Deise Alves, em 26 de outubro, teria sido a primeira represália. Depois da morte dela, Alves tirou uns dias de licença. O principal suspeito de ordenar a morte de Deise Alves foi o detento conhecido por Derú.

Na mesma noite do crime a polícia divulgou um alerta a todos seus agentes para protegerem suas famílias. Mas, nos dias seguintes ao crime, as autoridades da segurança pública o trataram como um caso isolado. O governo não quer admitir a existência de facções nos presídios catarinenses - entre as preocupações está o início da temporada turística no Estado, que tem na imagem de verão seguro um de seus atrativos.

Denúncias de tortura

Enquanto isto, o setor de inteligência da PM informou ao comando da iminência de novos crimes. O alerta só foi divulgado oficialmente  depois dos atentados de segunda (12). No presídio, o diretor Carlos Alves reassumiu o cargo no início de novembro. A volta dele ao comando revoltou ainda mais os detentos. Na semana passada, houve um princípio de rebelião, contido com violência pelos agentes penitenciários.

Na repressão, alguns presos denunciaram à Justiça que estariam sofrendo torturas. A Corregedoria do Tribunal de Justiça ordenou ontem uma inspeção pelo juiz da Vara de Execuções Penais de São José, cujos resultados foram inconclusivos.

Na segunda-feira (12) os criminosos fizeram chegar à imprensa um vídeo no qual agentes do Departamento de Administração Prisional (Deap) invadem uma cela da penitenciária aos gritos, buscando informações sobre "o matador da mulher" - comprovando que as investigações sobre a morte de Deise ainda continuam focadas dentro do presídio.

O governo não quer tirar Carlos Alves do cargo para não ceder à bandidagem. Ele é considerado duro, mas equilibrado. Entre suas medidas de disciplina está o uso de uniforme pelos condenados.

Segundo investigação do CNJ, oito mortes de detentos no primeiro semestre do ano passado na penitenciária de São Pedro teriam sido ordenadas para forçar a saída de Alves. (Com Renan Antunes de Oliveira, em Florianópolis)