Após ocupação da PM, ruas de favelas na zona sul do Rio ficam desertas
As ruas, becos e vielas das favelas do Guararapes e do Cerro-Corá, na zona sul do Rio de Janeiro, ocupadas nesta segunda-feira (29) pela Polícia Militar, ficaram praticamente desertas horas após a operação que visa à instalação de uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) na região.
A maioria dos moradores evita sair de casa e se recusa a falar com a imprensa. Mesmo quando questionados sobre problemas de infraestrutura e serviços públicos nas comunidades, as respostas são evasivas.
"Aqui sempre foi tranquilo. Não tenho nada a reclamar", disse um morador identificado apenas como Expedito. "Moro aqui há seis meses apenas, mas não vi nada de errado. Tudo funciona bem", afirmou o zelador Felipe Soares.
Segundo o major do Bope (Batalhão de Operações Especiais) João Jaques Busnello, que comandou a operação, os moradores de comunidades recém-ocupadas costumam demonstrar tal tipo de comportamento.
"Isso é normal. É natural que ocorra esse estranhamento inicial. Apenas na sexta, na reunião que faremos com as comunidades, será possível quebrar esse gelo e chegar a um consenso sobre as regras de convivência", explicou.
Busnello afirmou ainda que, conforme os moradores se acostumem com a presença permanente das forças policiais, a tendência é que o número de denúncias sobre a localização de traficantes, armas e drogas dê um salto significativo. Até o momento, o Bope aprendeu apenas três tabletes de maconha, munição e três radiotransmissores.
Ocupação
Em 30 minutos, policiais militares ocuparam nesta manhã as favelas do Cerro-Corá, Guararapes e Vila Cândido, para dar início à instalação de uma UPP na região, que será a 33ª da cidade.
A favela do Cerro-Corá, próxima a um dos principais pontos turísticos do Rio, o Cristo Redentor, e possivelmente parte do roteiro da visita do papa Francisco ao Rio de Janeiro por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, "furou a fila" no processo de implantação de UPPs em comunidades cariocas. O evento será realizado entre 23 e 28 de julho.
Veja onde fica a comunidade do Cerro-Corá
A próxima comunidade na fila seria o Complexo da Maré, na zona norte, que agora deve ficar para o segundo semestre deste ano. Com cerca de 130 mil moradores, a Maré é rota obrigatória para quem chega ao Rio pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim e precisa se deslocar em direção ao centro ou à zona sul.
Tanto Beltrame quanto o governador Sérgio Cabral (PMDB), no entanto, negam que a ocupação tenha sido decidida em função do evento. "Este cerco estava dentro do plano de ocupação do Complexo de São Carlos. O que ocorreu é que havia, à época, um estudo em que poderia haver a remoção dessa área em função das chuvas. Consequentemente, nós não iríamos empregar policiais naquela área se futuramente ela fosse removida", disse o secretário. Ficou esse pedaço para trás. Como não houve a remoção, não queremos avançar [a ocupação de outros locais] deixando essa parte para trás."
De acordo com o COE (Comando de Operações Especiais) da Polícia Militar, cerca de 420 homens do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), do Batalhão de Choque, do Grupamento Aeromóvel e do Batalhão de Ações com Cães participam do processo de implantação da UPP na região.
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