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Que seja para toda a vida, diz morador sobre UPP em favela na zona sul do Rio

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

29/04/2013 08h10Atualizada em 29/04/2013 09h19

O morador da casa onde será hasteada a bandeira do Bope (Batalhão de Operações Especiais) nesta segunda-feira (29) na comunidade do Cerro Corá, no Cosme Velho, zona sul do Rio de Janeiro, afirmou esperar que a ocupação policial no local seja permanente.

Em 30 minutos, policiais militares ocuparam nesta manhã a favela do Cerro-Corá e outras duas comunidades menores, para dar início à instalação de uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) na região. “Tomara que seja para toda a vida. Tem que ser para não sair daqui”, afirmou João de Lima. Esta será a 33ª UPP da cidade.

A residência de Lima fica na Ladeira dos Guararapes, e o local também abrigará a base provisória do Bope na comunidade. Por volta das 8h, o BAC (Batalhão de Ação com Cães) iniciou uma varredura nas casas que ficam no entorno, para procurar drogas e armas.

Apesar do tom otimista de João de Lima, outros moradores da comunidade ainda não se sentem confortáveis para falar sobre a ocupação. Abordados pela reportagem do UOL a maioria se limitou a dizer que preferia não comentar a ação policial de hoje.

De acordo com o COE (Comando de Operações Especiais) da Polícia Militar, cerca de 420 homens do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), do Batalhão de Choque, do Grupamento Aeromóvel e do Batalhão de Ações com Cães participam do processo de implantação da UPP na região.

A operação, que começou às 5h, é realizada na favela do Cerro-Corá e nas comunidades dos Guararapes e da Vila Cândida, no Cosme Velho. De acordo com o Instituto Pereira Passos (com base no censo do IBGE de 2010), 2.803 mil pessoas vivem nessas comunidades.

O carro blindado da polícia, conhecido como caveirão, e um helicóptero da PM dão apoio nos trabalhos.

A favela do Cerro-Corá fica próxima a um dos principais pontos turísticos do Rio, o Cristo Redentor, e possivelmente fará parte do roteiro da visita do papa Francisco ao Rio de Janeiro por ocasião da Jornada Mundial da Juventude. O evento será realizado entre 23 e 28 de julho.

Para o presidente da Associação de Moradores do Guararapes, Eduardo Silva, 62, a iniciativa para a implantação da UPP deveria ter sido tomada por causa da comunidade, e não com vistas à presença do papa na cidade. "Sempre que a gente buscava um benefício da prefeitura, eles vinham com a pergunta: 'ela é pacificada?' Para nós, isso é um transtorno muito grande. Eu gostaria que eles entrassem por causa da comunidade em si, que tivessem a preocupação com as pessoas", afirmou. "Pelo que eu vejo, não é isso que está acontecendo."

Visita do papa

Segundo o coordenador de segurança da Jornada Mundial da Juventude no âmbito da Sesge (Secretaria Extraordinária de Segurança de Grandes Eventos), coronel Paulo Cruz, que acompanhou as vistorias feitas pelo chefe do departamento de viagens internacionais do Vaticano, o italiano Alberto Gasbarri, durante esta semana, há uma lista de comunidades pacificadas --Complexo de Manguinhos (Manguinhos, Mandela e Varginha), Jacarezinho, Mangueira e Tuiuti, todas na zona norte-- que podem receber o papa Francisco em evento paralelo aos atos centrais da Jornada Mundial da Juventude.

A escolha já teria sido feita pelos organizadores do evento, mas a revelação só será feita no dia 7 de maio. "A escolha segue critérios técnicos. Existe uma ordem preferencial. Só não dá para dizer que foi 100% porque ainda falta a posição do Vaticano", disse o coronel.

"Nós visitamos várias comunidades e priorizamos a nível de segurança. Já temos essa pré-definição. O que eu posso falar nesse momento é que se trata de uma comunidade pacificada. Para que ele possa fazer o seu trabalho sem risco, levar a sua palavra para as pessoas. Entrar e sair com segurança dessa comunidade", afirmou.

Cruz disse ainda que a logística de segurança para a visita do pontífice a uma comunidade da capital fluminense envolve questões como a mobilidade, o posicionamento de atiradores nas lajes das casas e a análise de indicadores do ISP (Instituto de Segurança Pública). Também foi levada em consideração a existência de projetos da Igreja Católica no interior das comunidades.

Cristo Redentor

Cruz confirmou ao UOL que há a possibilidade de o papa ir ao Cristo Redentor, ponto turístico localizado próximo à comunidade que será ocupada nesta semana. No entanto, antes que qualquer decisão seja tomada, ainda é necessário concluir o trabalho de avaliação de riscos em relação a principal cartão postal do Rio.

"Iniciamos uma avaliação de todos os pontos nos quais havia a possibilidade [de presença do papa]. Boa parte desse trabalho ainda não foi concluído. Há muitos critérios. Projeta-se uma crise em cima desses indicadores e, dependendo do resultado, classifica-se como risco baixo, médio ou alto", disse.

"Não é simplesmente ir lá e dar uma olhada", completou o general Paulo Cruz.

UPPs

As duas últimas UPPs da cidade foram inauguradas no Caju e na Barreira do Vasco e Tuiuti, localidades com cerca de 26 mil habitantes cortadas pela avenida Brasil e pela Linha Vermelha, duas das principais vias expressas da cidade. Ao todo, as duas novas UPPs abrangem 15 comunidades, 13 delas no Caju.

A próxima comunidade na fila seria o Complexo da Maré, na zona norte, que agora deve ficar para o segundo semestre deste ano.