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Gay diz que foi impedido de doar sangue em hemonúcleo de Santos (SP)

Rafael Motta

Do UOL, em Santos (SP)

23/05/2013 16h08Atualizada em 23/05/2013 22h46

Acostumado a doar sangue rotineiramente, o jornalista Bruno Câmara Guedes, 30, foi barrado na quarta-feira (22) pelo Hemonúcleo de Santos (72 km de São Paulo), mantido pelo governo do Estado, por ser homossexual e ter mantido relações com outro homem nos últimos 12 meses.

A postura da unidade contraria, em parte, a orientação do Ministério da Saúde que diz que "a orientação sexual (heterossexualidade, bissexualidade, homossexualidade) não deve ser usada como critério para seleção de doadores de sangue, por não constituir risco em si própria".

Segundo Guedes, uma atendente do hemonúcleo perguntou, enquanto ele respondia a um questionário, se ele havia feito sexo "só com homem". Ao ouvir que sim, a mulher apresentou-lhe o texto da portaria 1.353, de 2011, que diz que "homens que tiveram relações sexuais com outros homens e/ou as parceiras sexuais destes" são inaptos, pelo período de um ano, a doar sangue. E o dispensou.

Ele afirmou que avalia qual medida irá tomar. "Estou pensando se vale a pena entrar com um processo, mas não sei ainda. Prefiro ir em busca de grupos de atuam nessa seara. Já vasculhei e vi que há campanhas sobre o assunto", afirmou.

Guedes disse ainda que não desistirá de doar sangue por causa "dessa situação constrangedora que passei".

"Eu nunca tinha sido recusado. Tenho parceiro fixo há um ano e oito meses e, durante um relacionamento anterior, fiz doação na Santa Casa [de Santos]. Sempre fui sincero nos questionários", disse Guedes, que se considerou vítima de preconceito.

De acordo com a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde, existe realmente um cuidado maior com doações feitas por homossexuais homens, porque a relação anal aumenta o risco de DSTs (doenças sexualmente transmissíveis), conforme parâmetro da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Também existe um intervalo mínimo (a chamada janela imunológica) para que uma pessoa impedida temporariamente possa vir a doar --que é de doze meses, tempo suficiente para garantir que não haja risco de transmissão de DSTs.

No entanto, se o candidato (homossexual ou heterossexual) "tem parceiro fixo, convive com ele e faz exame de avaliação das condições do sangue", ele pode doar normalmente.

Segundo o Ministério da Saúde, houve um erro de comunicação do hemonúcleo ao explicar que Guedes não poderia doar sangue.

"Esse impedimento temporário nem deveria existir, pois, antes das transfusões, o sangue passa por uma bateria de exames. A portaria é incoerente e dá margem [a entendimento incorreto]", afirmou o jornalista.

Contatada, a Secretaria de Estado da Saúde informou que segue todas as prerrogativas do Ministério da Saúde e que na portaria sobre doação de sangue não existem exceções previstas para homossexuais.