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Para receber vice-presidente dos EUA, favela Santa Marta recebe "limpeza" na véspera

Funcionários da Prefeitura do Rio tapam buraco na favela Santa Marta - Julia Affonso/UOL
Funcionários da Prefeitura do Rio tapam buraco na favela Santa Marta Imagem: Julia Affonso/UOL

Julia Affonso

Do UOL, no Rio

30/05/2013 06h00Atualizada em 30/05/2013 13h38

A comunidade Santa Marta, em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro, ocupada por uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) desde 2008, ganhou na quarta-feira (29) uma "limpeza" para receber a visita do vice-presidente dos EUA, Joe Biden, nesta quinta-feira (30). Esperado pelos moradores como uma "pessoa muito importante", Biden passou 40 minutos na comunidade --caminhou pelas ruas, tirou fotos com crianças e visitou uma UPP.

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  • Arte/UOL

Na ladeira de acesso à comunidade pelo bairro de Botafogo, funcionários da Secretaria Municipal de Conservação correram contra o tempo para consertar um buraco que, segundo moradores, estava aberto havia 15 dias.

"Choveu forte e o esgoto estourou. Eles tinham vindo há alguns dias, mas só colocaram uma placa, não arrumaram. Já que vai ter visita importante, eles com certeza aceleraram um pouco a obra”, afirmou Antônio, morador da favela. “Os carros e caminhões só estavam entrando pelo outro acesso [Laranjeiras], porque o buraco ocupava quase a rua toda, não dava para passar."

A aposentada Maria Zuila Pereira, moradora do local desde a década de 60, contou que na manhã de quarta garis tiraram contêineres de lixo que ficam sempre em frente à entrada dos carros que sobem a comunidade do plano inclinado. Segundo ela, toda vez que há uma "visita importante", o local fica limpo.

"Isso aqui é tudo cheio de lixo. Deveriam deixar fedendo para as pessoas verem o que a gente passa. Limpam, deixam tudo arrumado e depois volta a ficar cheio de lixo", reclamou a moradora.

Segundo outro morador, Severino, a última vez que a entrada do Plano Inclinado foi pintada foi antes de uma visita do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2010.

"Sempre que vem alguém importante, eles fazem uma enganação. Tapam buraco, pintam muro, limpam o lixo mais rápido. Quanto mais importante for a pessoa, mais obras eles fazem", disse ele.

De acordo com os guia turísticos que ficam no pé da comunidade, a visitação ao público estará liberada durante toda a quinta-feira (30), mesmo com a visita de Biden.

Se chegar na hora do almoço e estiver com fome, Biden poderá fazer como um grupo de conterrâneos que visitou a comunidade na quarta, e degustar o frango a passarinho do Zequinha, um dos petiscos mais famosos do Dona Marta, saltando na segunda estação do plano inclinado.

"Se ele não gostar de frango, tem carré e contra-filé. Tudo acompanhado de batata-frita, salada, arroz e feijão", diz o dono do local, José Bonfim Carlos, o Zequinha.

Durante a visita à favela, Joseph Biden conversará sobre as políticas de segurança que pacificaram uma parte das comunidades carentes da cidade.

Roteiro

Em um discurso repleto de elogios ao Brasil, o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, disse na quarta que "nenhum parceiro é mais significativo que o Brasil" para os EUA na América Latina. A afirmação foi feita durante a fala do vice no Pier Mauá, no Rio de Janeiro. "O resto do mundo olha para vocês com inveja. Nós estamos otimistas com o Brasil, e queremos nos envolver mais com vocês."


O resto do mundo olha para vocês com inveja

Joseph Biden, vice-presidente dos EUA, sobre o Brasil

À tarde, ele se reuniu com diretores da Petrobras na sede do Centro Tecnológico da companhia. O tema do encontro foi a cooperação energética entre ambos os países. O descobrimento das reservas petrolíferas do pré-sal, que poderão suprir parte da demanda norte-americana, e o desejo brasileiro de ter acesso à tecnologia dos EUA para explorar o gás de xisto são dois dos assuntos que Biden tratará em sua primeira visita ao Brasil como vice-presidente.

Outros assuntos na agenda do vice são as negociações para eliminar a exigência de vistos aos brasileiros que viajam aos Estados Unidos, o aumento do tráfego aéreo e a licitação do governo para adquirir 36 caças-bombardeiros de última geração, que é disputada pela Boeing. Para diplomatas de ambos os países, a visita é uma reconhecimento da importância que os Estados Unidos pretendem conceder ao Brasil.

Na sexta-feira (31), em Brasília, o vice-presidente será recebido por Dilma no Palácio do Planalto e terá uma reunião de trabalho com o vice-presidente Michel Temer no Itamaraty.

Escala

A visita ao Brasil do vice-presidente americano faz parte de uma viagem que já incluiu Colômbia e Trinidad e Tobago. Biden realiza a viagem acompanhado por sua mulher, Jill Biden; pela subsecretária de Estado para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Roberta Jacobson; e pelo subsecretário de Comércio para Assuntos Internacionais, Francisco Sánchez.

Os Estados Unidos são o segundo parceiro comercial do Brasil, atrás da China, e o primeiro investidor no país.

  • Moradores de favela que papa Francisco vai visitar no Rio esperam melhorias

Papa também vai a favela

O papa Francisco, que visitará o Rio de Janeiro entre os dias 22 e 28 de julho, também confirmou a visita a uma comunidade carioca. Localizada em uma região do Rio do Janeiro conhecida até pouco tempo atrás como faixa de Gaza por causa da violência, a pequena favela de Varginha, na zona norte da capital fluminense, ganhou repercussão mundial após o anúncio.

Entre os moradores, o clima também é de expectativa, tanto pela visita quanto pelas possíveis melhorias que a comunidade pode receber. “Receber o papa é uma benção, mas espero que a comunidade melhore. Essa rua recebeu uma capinha de asfalto em 1982, depois nunca mais”, diz o carpinteiro José da Costa, 67, referindo-se a principal rua da comunidade, repleta de buracos. Ele e a mulher, Maria de Souza, 63, esperam ao menos cinco parentes em casa para a jornada, número que pode aumentar com a confirmação da presença do pontífice em Varginha. “Sempre que o papa veio, fomos atrás. Agora ele vem até nós. Por enquanto vamos receber cinco primos, quem sabe mais. É uma alegria muito grande”, diz Maria.

Apesar da chegada da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) no começo do ano, a região ainda guarda resquícios dos tempos de violência, como quebra-molas construídos pelo tráfico, e boa parte dos moradores prefere não comentar a nova situação. “Vendo minhas frutas, procuro não incomodar ninguém e ninguém me incomoda, mas a gente sabe que o tráfico não vai acabar em nenhuma comunidade”, afirma o aposentado Pedro Batista de Souza, 62, dono de um carrinho de verduras.