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Investigadores suspeitos de receber propina do tráfico se calam em depoimento ao MP em Campinas

Fabiana Marchezi

Do UOL, em Campinas

17/07/2013 13h53Atualizada em 17/07/2013 21h06

Os promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público, em Campinas (93 km de São Paulo), ouviram nesta quarta-feira (17) os dois investigadores do 10º Distrito Policial da cidade, Renato Peixeiro Pinto e Mark de Castro Pestana, e os dois delegados do Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico (Denarc) de São Paulo, Clemente Calvo Castilhone Júnior – chefe de inteligência o departamento - e Fábio Amaral de Alcântara, da 3ª Delegacia de Apoio.

Os quatro fazem parte do grupo que teve a prisão temporária decretada por suspeita de receber propina para facilitar o tráfico na região do bairro São Fernando, em Campinas.

Os depoimentos dos dois delegados do Denarc de São Paulo tiveram início por volta das 10h e terminaram por volta das 19h. Após as oitivas, os promotores não entraram em detalhes, mas informaram que não há dúvidas de que houve vazamentos de informações feitos por policiais nas investigações do Gaeco e da polícia contra traficantes. "Os depoimentos aumentaram as convicções do Ministério Público de que houve vazamento de informações no Denarc", afirmou o promotor José Tadeu Baglio.

Por determinação do advogado Ralph Tórtima Sttetinger Filho, os dois investigadores de Campinas ficaram em silêncio durante o interrogatório. Antes de deixar a sede do Gaeco, na Cidade Judiciária, o defensor explicou que passou essa orientação para os dois clientes porque ainda precisa analisar todo o processo para preparar as estratégias de defesa. "Eu recomendei que eles ficassem em silêncio, uma vez que ainda não consegui analisar todo o processo. São 10 volumes e enquanto não souber de todas as acusações que recaem sobre eles prefiro que não se manifestem", disse Sttentinger Filho.
  • Divulgação/SSP-SP
  • Divulgação/SSP-SP

Ainda segundo o advogado, apenas o delator, um traficante, diz que os dois policiais de Campinas são suspeitos de terem recebido propina de traficantes ligados a Wanderson Nilson de Paula, o Andinho. "Apenas um delator faz essa afirmação ao Ministério Público e trata-se de um traficante. Além disso, também é preciso avaliar a legalidade dessas interceptações telefônicas. Mesmo com autorização da Justiça, as interceptações são questionáveis do ponto de vista legal", afirmou.

Segundo a investigação do MP, 13 policiais civis, sendo 11 da capital e dois de Campinas, são suspeitos de receberem um pagamento mensal de traficantes e também um valor anual que chegava a R$ 300 mil. Desde segunda-feira (15), quando a operação foi deflagrada, oito policiais foram presos e outros cinco continuam foragidos.

O chefe da Inteligência do Denarc, Clemente Calvo Castilhone Junior, e o delegado do departamento Fábio Ancântara, que estão entre os policiais civis de São Paulo presos na operação, também são ouvidos pelos promotores em Campinas. O advogado de defesa de Clemente Calvo Castilhone Junior, João Batista Augusto Junior, e os advogados de Fábio Ancântara, Márcio Sayed e Rodrigo Ventunole, acompanham os depoimentos dos clientes.

Os três defensores disseram que já tiveram acesso ao relatório do MP, mas não vão se manifestar porque o processo segue em segredo de Justiça.  Os quatro policiais civis chegaram a Campinas por volta das 4h acompanhados pela Corregedoria da Polícia Civil. Os mandados de prisão foram expedidos pela Justiça para garantir a continuidade das investigações, que tiveram início em outubro do ano passado. Os policiais presos irão responder por formação de quadrilha armada, roubo, tortura e extorsão mediante sequestro, segundo o promotor Amauri Silveira Filho.

O promotor afirmou que os policiais investigados por ligação com a quadrilha do narcotraficante Andinho cobravam "de R$ 200 mil a R$ 300 mil por ano, além de uma mensalidade em um valor pouco menor, de cerca de R$ 30 mil, em propina para facilitar o tráfico na região”. Andinho cumpre pena de mais de 400 anos de prisão no presídio de segurança máxima de Presidente Venceslau desde 2002, mas segundo o MP, ainda comanda o tráfico na região

A operação

Sete policiais civis foram detidos no último dia 15 de julho, em São Paulo e em Campinas, por envolvimento em um esquema de achaque a traficantes e vazamento de inquéritos - seis eram integrantes ou ex-funcionários do Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc). As denúncias apontam para pagamento de propina mensal de até R$ 30 mil. Após a operação, que incluiu a maior devassa no departamento desde 1987 e levou a outras três detenções, a Secretaria da Segurança destacou que o Denarc será reformulado.

Dois dos presos eram delegados do departamento: o supervisor da Unidade de Investigações (responsável pelo setor de inteligência), Clemente Castilhone Junior, e Fábio Amaral de Alcântara, da 3.ª Delegacia de Apoio. Foram expedidos 13 mandados de prisão contra policiais - 11 em São Paulo e 2 em Campinas, onde começou a investigação, com base em escutas de traficantes feitas a pedido do Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público.