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Para Maria do Rosário, indiciamento de PMs no caso Amarildo indica "amadurecimento"

A mulher de Amarildo, Elizabete Gomes, grita para policiais militares em protesto alusivo ao desaparecimento do seu marido - Silvia Izquierdo/AP
A mulher de Amarildo, Elizabete Gomes, grita para policiais militares em protesto alusivo ao desaparecimento do seu marido Imagem: Silvia Izquierdo/AP

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

02/10/2013 14h56

A ministra da SDH (Secretaria de Direitos Humanos) da Presidência da República, Maria do Rosário, elogiou o indiciamento de dez policiais militares pelo desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, 43, no inquérito entregue nesta terça-feira (1º) ao MPRJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) pela Polícia Civil do Rio. Ela afirmou que a medida aponta um "amadurecimento essencial para o país".

"PIOR DIA DA VIDA"

Segundo a sobrinha de Amarildo, Michele Lacerda, a família teve o "pior dia da vida" na noite desta terça-feira (30), com a notícia de que o corpo encontrado por policiais militares em um valão na comunidade não era de Amarildo, mas, sim, de uma mulher

"Conclusão do inquérito do caso Amarildo, com indiciamentos de policiais, indica amadurecimento essencial para o país. A capacidade de investigar e não permitir a impunidade de agentes do Estado que violem os Direitos Humanos é essencial para o fortalecimento da democracia", escreveu Rosário em sua conta oficial no Twitter, ainda na noite de terça. Segundo a assessoria da SDH, os comentários representam o posicionamento da secretaria, que está acompanhando as investigações sobre o caso.

Os dez PMs citados no inquérito estavam na sede da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, onde Amarildo morava com a família e foi visto pela última vez, no dia 14 de julho, e foram indiciados pelo delegado Rivaldo Barbosa, da DH (Divisão de Homicídios), pelos crimes de tortura seguida de morte e ocultação de cadáver. Entre eles, está o ex-comandante da UPP da comunidade, o major Edson Santos, que era o responsável pela unidade no dia do desaparecimento.

Durante toda a manhã desta quarta, a reportagem tentou, sem sucesso, entrar em contato com o advogado do major Edson, que foi substituído no dia 6 de setembro pela major Pricilla de Oliveira Azevedo. Até as 14h30, a PM e a Polícia Civil não haviam informado os nomes dos outros policiais indiciados. O Ministério Público também não confirma as identidades desses PMs.

Ministra acompanhava caso

No início de agosto, a ministra Maria do Rosário afirmou que o governo está preocupado com o caso e disse que deveria ser considerada a "hipótese concreta" de que agentes públicos foram responsáveis pelo sumiço de Amarildo.

"A SDH acompanha e tem procurado junto ao governo do Estado que todo empenho seja feito para localização do pedreiro Amarildo. Preocupa-nos a abordagem policial e o posterior desaparecimento. Toda investigação deve ser feita com a hipótese clara, concreta, de que seja uma responsabilidade dos agentes públicos", declarou, na ocasião. Ela ainda afirmou que o abuso de autoridade e a violência policial é algo com o qual "não podemos mais conviver".

"A situação do Amarildo não pode cair numa amplitude tal que tenhamos como resposta dizer que muitas pessoas estão desaparecidas após abordagem policial. A primeira suspeição que todos devemos ter é de responsabilidade pública nesse desaparecimento", afirmou.

"Centro de tortura"

Nesta quarta-feira (2), o advogado da família do morador da Rocinha, João Tancredo, disse que os familiares dele sempre tiveram certeza que os PMs eram responsáveis pelo crime. "Aquela sede da UPP, para onde o Amarildo foi levado, era um centro de tortura comandado pelos policiais da unidade", declarou.

"O indiciamento deles não foi nenhuma surpresa. Surpresa seria se o resultado fosse outro. A família sempre teve certeza que o crime ocorreu dessa maneira", disse Tancredo. "A polícia não poderia chegar a uma conclusão diferente, por mais mágica que se tentasse fazer".

CÂMERAS NÃO FUNCIONARAM

  • Alessandro Buzas/Futura Press

    A ONG Rio de Paz colocou manequins na praia de Copacabana, na zona sul, em protesto contra o desaparecimento de Amarildo

  • As câmeras da UPP da Rocinha pararam de funcionar no mesmo dia em que Amarildo foi levado para lá por policiais "para averiguação". O relatório da empresa Emive mostra que, das 80 câmeras instaladas na favela, apenas as 2 da sede da UPP apresentaram problemas. MAIS

Desaparecimento

Amarildo foi visto pela última vez no dia 14 de julho durante a operação policial "Paz Armada", que tinha o objetivo de desestabilizar o tráfico de drogas na Rocinha. Segundo testemunhas, ele teria sido levado pelos agentes Douglas Roberto Vital Machado, conhecido como Cara de Macaco, Jorge Luiz Gonçalves Coelho, Marlon Campos Reis e Victor Vinícius Pereira da Silva.

De acordo com o inquérito, Cara de Macaco seria desafeto da família do pedreiro e abordou Amarildo quando ele saía de um bar nas proximidades de sua casa. O PM teria conversado com o comandante Edson Santos pelo rádio e recebido ordens para levá-lo para a sede da UPP.