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PMs acusados pela morte de Amarildo podem ter torturado 22 pessoas na Rocinha (RJ)

O major Edson Santos está entre os PMs que vão responder pelos crimes de tortura seguida de morte e ocultação de cadáver referente ao caso Amarildo. Edson Santos comandava a UPP quando ocorreu o sumiço do pedreiro, em 14 de julho - Daniel Marenco/Folhapress
O major Edson Santos está entre os PMs que vão responder pelos crimes de tortura seguida de morte e ocultação de cadáver referente ao caso Amarildo. Edson Santos comandava a UPP quando ocorreu o sumiço do pedreiro, em 14 de julho Imagem: Daniel Marenco/Folhapress

Maria Luisa de Melo

Do UOL, no Rio

05/10/2013 00h00Atualizada em 05/10/2013 03h40

O delegado Rivaldo Barbosa, da DH (Divisão de Homicídios) do Rio de Janeiro, disse, na noite desta sexta-feira (4), que os dez PMs denunciados à Justiça pelo desaparecimento e morte do pedreiro Amarildo de Souza, na favela da Rocinha (zona sul), em 14 de julho, podem estar envolvidos em outros 22 casos de tortura na comunidade. 

Para a Polícia Civil, Amarildo foi torturado e morto depois de ser levado por policiais para a sede da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) na comunidade, um dia depois de a PM realizar a operação "Paz Armada", que investiga o tráfico de drogas na Rocinha.

O pedreiro teria sido abordado porque uma informante do PM Douglas Vital Machado --um dos acusados no caso-- disse que ele possuía a chave de um paiol de drogas e armas de traficantes.

De acordo com o delegado, que coordena a investigação, a polícia ouviu pelo menos 22 pessoas que se disseram vítimas de tortura de policiais da UPP da Rocinha, de março a julho deste ano, para revelar detalhes do esquema do tráfico de drogas no local. 

Todas as 22 testemunhas que narraram mecanismos de tortura apontam homens comandados pelo major Edson Santos (ex-comandante da UPP afastado no mês passado após ser denunciado pelo caso Amarildo) como agressores. Pela linha de investigação da polícia, Amarildo seria a 23ª vítima do grupo --e a única que foi morta.

À época do desaparecimento do pedreiro, o ex-comandante da unidade sustentou que Amarildo foi ouvido e liberado, mas nunca apareceram provas que mostrassem o pedreiro saindo da UPP, pois as câmeras de vigilância que poderiam registrar a saída dele não estavam funcionando.

Sessões de tortura tinham asfixia, choque e até ingestão de cera líquida

Segundo o relatório da Polícia Civil, que pede a prisão preventiva dos dez PMs indiciados, a tortura de moradores era costumeira nos contêineres da sede da UPP, no topo da favela.

Em depoimento, testemunhas relataram os tipos de agressões a que eram submetidas, segundo elas, pelos policiais comandados pelo major Edson. 

Asfixia com saco plástico, choque elétrico com corpo molhado, introdução de objetos nas partes íntimas e até ingestão de cera líquida eram alguns dos “castigos” aplicados aos moradores da Rocinha, dentro e fora das dependências da UPP -- alguns depoimentos falam em sessões de tortura em becos da comunidade, incluindo o beco do Cotó, onde, segundo a polícia, Amarildo foi sequestrado.

Uma das conclusões do inquérito da Polícia Civil é de que o pedreiro foi asfixiado e submetido a choques.

Polícia crê que corpo está na Rocinha e fará nova busca

O DH informou, também, que não descarta a possibilidade de o corpo do pedreiro ainda estar na favela da Rocinha e que, a partir dessa premissa, a polícia vai realizar uma nova operação de busca da ossada, na semana que vem.

Também na próxima semana, a polícia deve divulgar o resultado de exames de confronto genético de oito cadáveres que podem ser do pedreiro Amarildo.

Penas individuais de PMs podem chegar a 30 anos; acusados negam crime

Os dez policiais militares denunciados à Justiça pelos crimes de tortura e morte do pedreiro Amarildo se apresentaram na noite desta sexta-feira (4) no quartel-general da corporação, na rua Evaristo da Veiga, no centro da capital fluminense.

Além do major Edson Santos, os policiais presos são: Luiz Felipe de Medeiros, Jairo Ribas, Douglas Machado, Marlon Reis, Jorge Luiz Coelho, Victor Pereira da Silva, Anderson Maia, Wellington Tavares da Silva e Fábio Rocha.

Se condenados, as penas individuais dos PMs podem chegar a 30 anos. Todos negam as acusações.