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Batalhão de PMs que arrastaram mulher é famoso por chacina de Vigário Geral

Moradores observam corpos de vítimas da chacina de Vigário Geral, que resultou na morte de 21 pessoas na noite de 29 de agosto de 1993 - Zeca Guimarães/Folhapress - 30.ago.1993
Moradores observam corpos de vítimas da chacina de Vigário Geral, que resultou na morte de 21 pessoas na noite de 29 de agosto de 1993 Imagem: Zeca Guimarães/Folhapress - 30.ago.1993

Jacyara Pianes

Do UOL, no Rio

19/03/2014 11h19Atualizada em 19/03/2014 13h09

A morte de Cláudia Silva Ferreira, que teve o corpo arrastado por um carro da PM que a socorria depois de ter sido baleada em uma operação no Morro da Congonha, na zona norte do Rio de Janeiro, no último domingo (16), ocorreu mais de 20 anos depois da chacina de Vigário Geral. Em comum, as duas situações recaem sobre a responsabilidade de policiais lotados no 9º Batalhão da Polícia Militar (Rocha Miranda), também na zona norte.

Em agosto de 1993, cerca de 30 homens encapuzados mataram 21 moradores da comunidade de Vigário Geral em cerca de uma hora. Segundo afirmou à revista “Veja” o responsável pelas investigações, tenente-coronel Valmir Brum, em matéria publicada à época do crime, os policiais responsáveis pela chacina estavam vinculados ao grupo de extermínio “Cavalos Corredores”. “Formado por policiais do 9º Batalhão, foi batizado com esse nome exótico pelo hábito de entrar nas favelas correndo e atirando”, disse.

Além de Vigário Geral, eles também seriam autores de outra chacina, em 1990, quando 11 meninos teriam sido sequestrados e mortos no bairro de Acari.

Mortes recentes

Nos últimos anos, o batalhão de Rocha Miranda voltou a ser notícia. Em 2010, teve seu comando trocado por conta das investigações da morte de um menino de 11 anos -- embora a bala não tenha sido reconhecida como tendo partido da polícia.

Relembre

  • Reprodução/Documentário

    Vinte anos depois, sobreviventes falam sobre a chacina de Vigário Geral no Rio

A criança foi atingida dentro da escola, durante um tiroteio entre policiais e bandidos. À época, a PM informou que um dos objetivos da mudança de comando era garantir total isenção e rigor na apuração dos motivos da operação e do procedimento adotado.

Já em 2014, em fevereiro, quatro outros policiais lotados no 9º Batalhão da PM foram afastados e autuados por espancarem um jovem de 17 anos que acabou morrendo. No mesmo mês, outro caso envolveu três policiais do mesmo batalhão. Eles foram indiciados sob acusação de homicídio doloso e fraude processual por matarem dois jovens após confundirem uma peça de motocicleta com um fuzil e ainda fazer um Boletim de Ocorrência – que depois foi dado como falso pelas investigações –  que dizia que os jovens haviam praticado roubo e estavam reagindo com tiros.

A reportagem do UOL solicitou entrevista com o comandante do batalhão, mas ele não estava disponível.

Medidas disciplinares

Em nota, a Polícia Militar afirma que acompanha as consequências das ações de seus agentes. “A PM tem aplicado medidas disciplinares duras aos policiais que cometem atos violentos contra a população. E a corporação procura ajudar a Polícia Civil nas investigações das mortes decorrentes de intervenção policial, preservando locais para a perícia e entregando as armas para o confronto balístico”.

Como medida administrativa, afirma convocar oficiais e praças para participar de estudos de caso sempre que há morte como resultado de ação policial. Por isso, o 9º Batalhão foi convocado para uma reunião interna no próximo dia 26, onde serão analisadas com detalhes as falhas nas ocorrências que resultaram nas mortes dos jovens mortos por causa de uma peça de moto e de Cláudia.


Já no dia 9 de abril, a PM diz que fará um encontro amplo para autoavaliação de toda a corporação. “Desta vez, com o comandante-geral e todos os comandantes de batalhão e chefes de unidade”, explica a nota.