Cerca de 4.000 militares devem ocupar favelas da Maré
O CML (Comando Militar do Leste) começou a definir na segunda-feira (24) a estratégia para a ocupação do Complexo de Favelas da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro, por homens do Exército. Segundo um oficial que teve acesso à reunião, cerca de 4.000 homens deverão ser enviados para o território entre a Linha Vermelha e a avenida Brasil a partir do dia 5 de abril.
O CML não divulga dados oficiais sobre a operação por motivos estratégicos. A chegada de todos os militares destacados para a missão deve ocorrer até o dia 10. A operação, nos moldes daquela de 2008 que antecedeu a instalação de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) no Complexo do Alemão, exigirá 32,5% mais contingente.
A medida se justifica, segundo o CML, pela população - a Maré tem 122 mil habitantes contra 60 mil do Alemão, segundo o Instituto Pereira Passos - e complexidade da missão, em território com divisão de domínio entre duas facções de traficantes e milícia.
A ocupação militar da Maré foi anunciada oficialmente na segunda pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), após reunião com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o chefe do Estado Maior das Forças Armadas, general José Carlos de Nardi.
A ideia é que a operação permaneça no local pelo menos até o final da Copa do Mundo para evitar problemas no corredor de acesso ao Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), cujas rotas passam ao lado do complexo de favelas.
A primeira fase da ocupação, com apoio da Polícia Militar do Rio de Janeiro, já está em andamento desde a última sexta-feira (21) e deverá se intensificar a partir do próximo domingo (30). Agentes do Bope (Batalhão de Operações Especiais), do Choque e do 22º BPM já têm utilizado blindados (os caveirões) para adentrar as favelas do Parque União e a Nova Holanda, dominadas pela mesma facção que comanda o tráfico de drogas no Alemão e na Penha e responsável por ataques a bases da UPP na semana passada.
O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, no entanto, afirma que a ocupação militar não tem relação com aqueles ataques. Fontes da secretaria explicam que o grande empecilho para a implantação da UPP da Maré era a falta de efetivo para dar conta de todas as 16 favelas do complexo.
A iniciativa vem sendo adiada desde o ano passado, e atualmente a previsão é de que seja efetivada apenas no segundo semestre, depois da final Copa do Mundo, no Estádio Maracanã.
Moradores e ONGs que atuam na Maré estão receosos com a ocupação. Há medo de ficar no fogo cruzado entre a polícia e os traficantes. Na última noite, foram escutados sons de tiros e estouros de fogos de artifício --utilizados pelos criminosos para avisar os colegas sobre a presença de agentes.
Jaílson de Souza, diretor do Observatório de Favelas, mostra preocupação. “As operações policiais na Maré costumam ter muitos mortos. Agora a gente não sabe o que pode acontecer com a presença do exército num território urbano. Os moradores precisam ser respeitados”, afirma.
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