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Vítima não pode ser culpada pela violência sofrida, diz assistente social

Wellington Ramalhoso

Do UOL, em São Paulo

27/03/2014 17h27

O resultado da pesquisa do Ipea é visto com preocupação pela assistente social Sonia Coelho, integrante da equipe técnica da Sempreviva Organização Feminista (SOF), que tem sede em São Paulo. Para ela, a sociedade trata como natural a violência contra a mulher, mas não poderia culpar as vítimas pelos ataques sofridos.

De acordo com o estudo divulgado nesta quinta-feira, a maioria da população brasileira acredita que “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas” e que “se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros”.

“É uma forma de justificar a violência pelo comportamento e pelo tipo de roupa que a mulher está usando”, critica Sonia Coelho.

Lembrando que as mulheres representam a maioria dos entrevistados na pesquisa, Sonia afirmou que as mulheres “incorporam e reproduzem valores” de uma educação “machista e patriarcal”.

Para a integrante da Sempreviva, o aspecto positivo que o resultado do estudo apresenta é a intolerância com a violência doméstica. “Ao mesmo tempo em que a maioria fala que não se deve meter a colher em briga de marido e mulher, que é um problema privado, a maioria não aceita a violência e acha que os homens devem ser punidos. Isso é positivo, apesar da ambiguidade. Não tolerar a violência é fundamental”.

Gráfico - Violência contra a mulher - Violência Doméstica -  -

Desigualdade

Em sua opinião, o combate à violência contra a mulher requer punição aos agressores e a implantação de políticas públicas articuladas que fortaleçam o papel da mulher.

“Para superar a violência é necessário combater a desigualdade. A base da violência é a desigualdade na sociedade. A violência é um mecanismo para manter a mulher subordinada”, diz a feminista.

Na avaliação de Sonia, o Brasil vive uma onda conservadora que se reflete na elaboração de projetos de lei que ameaçam restringir direitos e a autodeterminação da mulher.

Para ela, as propostas de segregação de espaços para as mulheres no transporte público também são negativas porque transmitem as ideias incorretas de que o desejo sexual do homem é incontrolável e de que o corpo da mulher é território de domínio masculino.