Idosa pediu que "não a deixassem morrer" após ser baleada, diz nora
O corpo de Arlinda Bezerra Chagas, 72, conhecida como "dona Dalva", baleada em um tiroteio entre PMs e traficantes do Complexo do Alemão, há dois dias, foi enterrado na tarde desta terça-feira (29), no cemitério de Inhaúma, na zona norte do Rio.
Nora da vítima, Maria Francisca Pessoa de Assis lembrou o momento no qual viu dona Dalva caída no beco de uma localidade conhecida como Largo da Vivi, na favela Nova Brasília.
"Eu já a encontrei baleada no Largo da Vivi. Ela pediu: 'Me ajuda, não me deixem morrer! Eles me acertaram!'. Depois disso, ela se foi. (...) Eu só tive tempo de dizer 'dona Dalva, não morre', mas ela já estava baleada", disse. "A gente não sabe o que vai fazer agora. Meu sogro tem muita vontade de voltar para o Rio Grande do Norte, mas a gente ainda está decidindo o que vai fazer”, completou Maria Francisca.
Vizinho da vítima há 44 anos, José Barbosa, 80 anos, afirmou que Arlinda era uma pessoa "muito solidária" e "prestativa". Segundo ele, a violência na região do Complexo do Alemão tornou-se insustentável. "A violência está demais. Ninguém aguenta mais isso. A Dalva era uma mulher muito solidária, dividia o pouco que tinha com quem precisasse. Era uma mulher muito prestativa. Não dá para continuar mais desse jeito”, lamentou ele.
A também vizinha Claudineia Gonçalves declarou que os tiroteios entre criminosos e policiais das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) situadas no conjunto de favelas ocorrem "o tempo todo". "Só queremos paz na favela, mais nada", disse.
"Antes das UPPs, pelo menos a gente sabia quando ia ter algum problema. Agora não, é tiro o tempo todo. Ninguém sabe o que fazer. A gente tem medo de ser atingido dentro de casa mesmo", completou ela.
Morte de idosa no Complexo do Alemão gera protesto
Mais cedo, durante o velório, o viúvo da idosa, Francisco Faustino, 85, afirmou que o tiro que matou dona Dalva partiu de traficantes de drogas. Segundo ele, enquanto era socorrida, a vítima disse aos que a carregavam que "quem atirou foi um dos meninos", referindo-se aos recrutas do tráfico. Outros familiares negaram o relato de Faustino e disseram que aguardam o laudo médico e a perícia para entender o que aconteceu. "Lá predomina a lei do cão, ninguém pode falar nada", disse o viúvo.
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