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Três ônibus são queimados na pequena Agrolândia (SC)

Renan Antunes de Oliveira

Do UOL, em Florianópolis

06/10/2014 11h37

A Polícia Militar de Santa Catarina informou que três ônibus escolares foram queimados perto da meia-noite de domingo (5) no parque de exposição da pequena cidade de Agrolândia (228 km de Florianópolis), de apenas 9 mil habitantes.

Assim, subiu para 90 o número de ataques dentro da terceira onda de violência vivida pelo Estado há 10 dias, alcançando 29 cidades.  Já são 39 os ônibus incendiados.

Em Agrolândia, a funcionária da Secretaria de Educação Municipal Anelise Brum disse que “toda cidade passou por aqui (no parque) hoje pela manhã para ver os ônibus queimados, está todo mundo assustado, isto nunca aconteceu antes”.

Ela disse que “quem causou o fogo que viajar o 15 km que nos separam da BR101, não é uma coisa fácil chegar no parque, mas a violência está conseguindo nos atingir”. Segundo ela, “dois ônibus podem ser recuperados porque foram apenas chamuscados, mas o outro se foi”.

Conforme o relatório da PM das 9h da manhã desta segunda (6), seis incidentes ocorreram entre a noite de domingo e a madrugada de hoje.

Os ataques são atribuídos pelas autoridades à facção criminosa PGC (Primeiro Grupo Catarinense), que domina os presídios do Estado. Os crimes são ordenados dentro das cadeias e executados por comparsas nas ruas.

O Estado já enfrentou violência igual em 2012 e 2013. Da última vez e na onda atual o governo do Estado pediu auxílio ao Ministério da Justiça: 60 presos identificados como líderes do PGC foram transferidos dos presídios locais para cadeias federais fora de Santa Catarina. Foram 40 em 2013 e 20 desta vez, no sábado (4). Da primeira transferência os ataques cessaram. Agora, o resultado não foi o mesmo. 

A coronel PM Claudete Lemhkul disse que “das vezes anteriores os presos queriam mudanças no sistema carcerário, mas agora eles querem o impossível: que a polícia pare de combater o crime”.

O governador Raimundo Colombo (PSD), reeleito ontem, reassume o governo hoje (estava licenciado para concorrer) e já anunciou que sua prioridade imediata é enfrentar o PGC.

Os novos atentados começaram enquanto o governo era exercido pelo desembargador Nelson Martins. Colombo disse que “telefonava 20, 30 vezes por dia” para orientar o substituto no combate à criminalidade – o titular comandou as operações de repressão às ondas anteriores.

Santa Catarina esteve superpoliciada no final de semana das eleições, com 5.000 homens do Exército ajudando aos 11 mil das forças estaduais. A Força Nacional de Segurança e a PRF também estão no Estado atuando na repressão. Mesmo assim, os criminosos continuaram ativos.

A PM revisou seus números indicando que em 10 dias o pico de ataques foi de 18 na quarta (1), caindo para 15 no sábado (4), média de nove diários desde 23 horas da sexta-feira 26 de setembro. 

Presos são transferidos após onda de violência em SC

Histórico

O PGC orquestrou as duas ondas incendiárias notáveis vividas pelo Estado em novembro de 2012 (58 ataques, 27 ônibus incendiados em 16 cidades) e janeiro/fevereiro de 2013 (111 ataques em 36 cidades, com 45 ônibus queimados).

A motivação daqueles ataques foi obter regalias para as lideranças nas cadeias. Elas ordenaram as ações, conduzidas por seus comparsas nas ruas.

A violência acabou depois que a Força Nacional de Segurança ocupou os presídios, isolou os líderes e transferiu 40 deles para cadeias fora de SC. Cerca de 120 pessoas foram presas e acusadas pelos crimes.

Em maio, 83 pessoas foram condenadas pelos ataques a penas que, somadas, chegam a mil anos.

Na terceira onda, dois suspeitos foram mortos em confronto com a PM e um agente prisional foi assassinado, em Criciúma, crime que ainda está sendo investigado. No sábado, 20 condenados foram transferidos para Rondônia.