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Rolezeiro se converte e quer ser líder religioso e político

Ex-rolezeiro, Vinicius Andrade posa para fotos quando era um "famosinho do Facebook" - Arte UOL
Ex-rolezeiro, Vinicius Andrade posa para fotos quando era um "famosinho do Facebook" Imagem: Arte UOL

Rodrigo Bertolotto

Do UOL, em São Paulo (SP)

08/12/2014 06h02

Exato um ano atrás, o Brasil descobriu que uma horda havia invadido o paraíso revestido em porcelanato dos shoppings. O rolezinho foi um fenômeno que abalou o país por três meses, com direito a reuniões ministeriais, medidas judiciais e teorias sociológicas para entender o que queriam esses jovens pobres vestidos com roupa de grife.

Vinicius Andrade, 18, era um dos rolezeiros mais célebres. Tinha 200 mil fãs no Facebook, convocava rolês e dava entrevistas para TVs, jornais e internetes. Chegou a se aproximar da União da Juventude Socialista, ligada ao PC do B, e articulou também pela criação de uma “associação rolezeira”.
 
Um ano depois, Vinícius quer ser pastor adventista e planeja entrar na política. Ele abandonou as camisetas de marca e os bonés de aba reta e se veste atualmente de camisa social, seja nas pregações sobre sua experiência para outros jovens do rolê, seja no expediente no gabinete de um deputado estadual do PR (Partido da República).
 
 “Sai do rolezinho porque vi muitos amigos irem para o lado errado e tinha muito assédio da mídia em cima de mim. Hoje, eu quero salvar vidas. Agora quero ser líder na religião e na política”, afirma o ex-rei do rolê, que diz ter planos para se candidatar a vereador e a deputado.
 
Outros dois rolezeiros tiveram uma morte tão precoce quanto a fama. Em abril último, Lucas Oliveira Silva de Lima, 18, morreu espancado durante uma briga em um baile funk. Em outubro, foi a vez de Leonardo Henrique Soares Alvarenga, 16, ser alvejado por um amigo. Os dois eram líderes de rolezinhos na zona leste de São Paulo.
Ex-rei do rolezinho. Vinicius Andrade hoje trabalha em gabinete de deputado e é evangélico - Junior Lago/UOL - Junior Lago/UOL
Vinicius Andrade hoje trabalha em gabinete de deputado e é evangélico
Imagem: Junior Lago/UOL
 
“Há muita inveja. Os caras olham você todo popular, cheio de minas e querem te tirar. Há muita maldade. Isso é um dos motivos porque parei com a ostentação, de querer mostrar o que eu tenho”, diz Vinícius. Ele deu para os camaradas as roupas de marca e cancelou a conta no Facebook com milhões de curtidas e visualizações.

'Famosinho do Face'

Tudo começou com uns vídeos com piadas que Vinícius postava. Logo, os amigos se aglomeravam em sua rede social. Ele tirava fotos sexys, e apareciam fãs por todo lado. O passo seguinte foi convocar um encontro com seus seguidores. O local marcado: um shopping. Vinicius se tornou um “famosinho do Face”.
 
Ele ficou ainda mais famoso após as cenas de policiais perseguindo meninos em praças de alimentação, correrias em escadas rolantes, gás lacrimogêneo nos estacionamentos, adolescentes detidos para averiguação, lojistas fechando as portas por medo de arrastão e consumidores apavorados com o pandemônio. 
 
De Itaquera no início de dezembro, o rastilho se espalhou por shoppings em Interlagos, Mauá, Campo Limpo, Guarulhos, Campinas, Belo Horizonte, Rio, Porto Alegre, Teresina, Fortaleza e muitas localidades do país.
 
Assim como a polícia, a Justiça também agiu com rapidez e rispidez. Várias liminares restringiram o acesso de grupos aos shoppings, com seguranças barrando as pessoas, e estipularam multa em caso de distúrbio nos centros comerciais.
Já os rolezeiros sintetizavam facilmente a “ideologia da curtição”: colar com os “parças”, beijar as minas, tirar um lazer, tomar um lanche e ostentar as marcas. O boné era Quicksilver, a camiseta era Hollister, Polo by Kim, Aeropostale ou Abercrombie, e os tênis eram Nike Shox ou Mizuno. Quem  também não gostou do movimento foram os representantes das grifes, afinal, temiam a popularização dos símbolos de distinção. 
 
“Houve muito preconceito e pressão em cima da gente. Muitos amigos saíram do movimento porque não aguentaram conviver com a imagem ruim que ficou para a população em geral”, resume Vinicius sobre o fim dos rolezinhos.
 
Passado um ano, Vinícius lembra daqueles rolês como uma febre da juventude, enquanto se esforça em sua adesão à vida adulta. A história dele se assemelha àqueles testemunhos de programas evangélicos de TV, com guinadas morais tão ao gosto dos pastores. Mas também parece a trama de um "romance de formação", típico da literatura do século 19, em que o adolescente descobre o mundo e suas adversidades para se transformar em homem.
 
Hoje, Vinicius se veste de traje social para sair do Jardim Vaz de Lima, Zona Sul de São Paulo, em direção à Assembleia Legislativa, vizinha ao Parque Ibirapuera. À noite, volta para casa. Não usa mais as marcas gringas que são a mania dos adolescentes: hoje em dia, ele se cobre com a marca da adequação ao mundo que lhe coube viver.