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Rifa e festa bancam ônibus em bairros que não têm transporte coletivo

Juliana Passos

Do UOL, em São Paulo

14/05/2015 17h00

Moradores da região extremo sul de São Paulo (SP) alugaram um ônibus durante três dias como forma de protesto pela falta de transporte coletivo nos bairros Barragem, Bosque do Sol, Juza e Marsilac. O dinheiro veio de rifas e festas realizadas por eles durante três meses dentro do movimento Luta do Transporte no Extremo Sul.

O ônibus desta quinta-feira (14) saiu do Bosque do Sol e passou pelo Juza, com saídas a partir das 5h, quando os primeiros moradores iam para o trabalho. O veículo circulou até às 14h. Com o circular, os moradores puderam poupar pelo menos meia hora de caminhada até o ponto final da estrada de Parelheiros.

Dos bairros que participam da chamada "linha popular" bancada pelos moradores, o Bosque do Sol é o que tem um ponto mais próximo --em 15 minutos é possível alcançá-lo. Os moradores, no entanto, dizem que o trajeto completo da linha, passando pela estrada do Juza, leva até uma hora. 

Os moradores desses bairros são os mesmos que invadiram uma aula do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), no dia 27 de abril, na USP (Universidade de São Paulo). Na ocasião, Haddad comprometeu-se a marcar uma reunião nos dias 16 ou 23 de maio, mas ainda não confirmou a data com os moradores.

Pedidos

A demanda por ônibus é antiga --há dois anos eles se organizam para exigir linhas que circulem naquela área. “Transporte público é um direito previsto na Constituição. O que passamos é uma humilhação diária”, diz a auxiliar administrativa Cristina Melo. “Se o ônibus escolar pode passar aqui, por que não podemos ter uma linha circular?”, pergunta a dona de casa Edna Mesquita.

Ela afirma que há dois trajetos possíveis, um mais curto, de 15 minutos pela mata; e outro, mais longo, conhecido como o “caminho das mulheres”, por causa dos casos de violência que já foram registrados.

O padeiro Vandoir Souza, morador de Barragem, acompanhou a circulação da linha do bairro vizinho. Na sua região, onde mora há mais de 20 anos, o tempo mínimo de caminhada em estrada de terra é de 40 minutos. “Tem gente que sai às 2h30 de casa para pegar o ônibus das 3h40. E um ônibus já ajuda”, diz.

Em nota, a SPTrans (empresa que gerencia o transporte público na capital paulista) informou que a região é uma APA (Área de Preservação Ambiental). Por isso, conforme o Plano Diretor da cidade, de 2014, as solicitações de novas linhas devem ser encaminhadas e avaliadas por órgãos ambientais do município e do Estado de São Paulo.