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Moradores reclamam do mau cheiro do rio e improvisam com falta de água

Moradores de Mantena (MG), município a 20 quilômetros de Governador Valadares (MG), encheram centenas de garrafas pets com água potável para doar aos seus vizinhos - Divulgação
Moradores de Mantena (MG), município a 20 quilômetros de Governador Valadares (MG), encheram centenas de garrafas pets com água potável para doar aos seus vizinhos Imagem: Divulgação

Carlos Eduardo Cherem

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte

14/11/2015 06h00

O rompimento das barragens em Mariana (MG) mudou o cotidiano dos moradores de Governador Valadares (MG), cidade a mais de 300 km distante do local do acidente.

O mau cheiro infestou a cidade depois que a onda de lama, com dejeto da mineradora Samarco, chegou pelo rio Doce, que corta a área urbana.

Com o fornecimento cortado, moradores fazem filas para ganhar água potável. Carros-pipa da Prefeitura têm ajudado a garantir um estoque de água para os moradores lavarem suas louças e roupas, mas muitos é precisa reaproveitar.

“Usamos balde pra tudo e reutilizamos a água. A água do banho na bacia, por exemplo, usamos na descarga do vaso sanitário”, diz o funcionário público federal Rhitielle Pereira Dutra, 30, pai de três filhos.

“Estamos tomando banho de gato e reaproveitando toda a água. Só estou lavando a roupa das crianças, a minha e a do meu marido estou deixando acumular”, afirma a mulher de Dutra, a professora Terezinha Gomes Dutra, 30. 

O convento Dominicanas da Anunciata suspendeu suas atividades por causa da falta de água na cidade. “A situação está muito difícil. Temos ainda uma pequena reserva na caixa de água, mas só estamos utilizando pratos e talheres descartáveis. O copo, cada uma das irmãs tem o seu”, afirma a irmã Rosilene Maria de Carvalho, 40.

“Além disso, a água do rio (Doce) está fedendo muito. Um cheiro podre. Os peixes ficam borbulhando na água marrom, procurando oxigênio”, afirma a religiosa.

Solidariedade

Com essa situação complicada, a solidariedade tem ajudado os moradores.

O padre Márcio dos Santos, 32, responsável pela Paróquia de Nossa Senhora da Assunção, no bairro Turmalina, tem feito a distribuição de caminhões carregados com água acondicionada em garrafas pet (plásticas) descartáveis reutilizadas.

O caminhão veio de Mantena (MG), município a 20 quilômetros de Governador Valadares. “Não é doação da paróquia de lá. É do povo mesmo. Eles sabem o que estamos passando. Eles enfrentaram as enchentes de 2013. Sabem o que é não ter água”, afirmou o padre.

Santos explica que o bairro Turmalina, com cerca de 14 mil habitante, tem uma maioria de população pobre, que não tem condições de adquirir água mineral para consumo próprio no período.

“Como esse pessoal vai comprar água mineral? Não tem condições. Vamos continuar com as doações de água filtrada (potável) em garrafas reutilizadas”, afirmou.