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Após mais de um ano e meio, Cantareira sai do volume morto

Vista da represa Jaguari-Jacareí, no interior de SP, que integra o sistema Cantareira - Nilton Cardin/Estadão Conteúdo
Vista da represa Jaguari-Jacareí, no interior de SP, que integra o sistema Cantareira Imagem: Nilton Cardin/Estadão Conteúdo

Fabiana Maranhão

Do UOL, em São Paulo

30/12/2015 09h00Atualizada em 30/12/2015 10h12

Depois de 19 meses, o Cantareira atingiu nesta quarta-feira (30) o seu volume útil, tendo recuperado o volume morto, água que fica abaixo do nível de captação das comportas.

O nível subiu hoje de 22,4% para 22,6%, percentual que corresponde à quantidade de água que existe no sistema em relação à capacidade total de armazenamento, incluindo as duas cotas do volume morto.

O sistema conseguiu deixar o volume morto depois que seu nível teve altas seguidas durante quase um mês por causa das recentes chuvas na região. O índice do sistema aumentou 7,5 pontos percentuais desde o começo de dezembro. Os dados são disponibilizados na internet pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).

Entre ontem e hoje, o Cantareira recebeu 5,4 milímetros de chuva. A quantidade acumulada ao longo do mês foi de 258,2 milímetros, superior à média histórica para dezembro, que é de 219,4 milímetros.

Segundo o jornal "Folha de S.Paulo", o secretário de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado, Benedito Braga, declarou que a saída do Cantareira do volume morto indica que a "situação climática nos meses de outubro, novembro e dezembro voltaram à normalidade"

Volume morto

O volume morto começou a ser usado em maio de 2014. À época, diante da falta de chuva e da queda acelerada do índice do Cantareira, o governo de São Paulo começou a captar água dessa reserva que nunca tinha sido usada antes.

A decisão gerou críticas de especialistas, que questionaram a qualidade dessa água e alertaram para os danos que essa medida poderia causar ao meio ambiente. Com o agravamento da crise, uma segunda cota do volume morto passou a ser usada em outubro do mesmo ano.

O Cantareira é responsável atualmente pelo abastecimento de 5,2 milhões de moradores da Grande São Paulo. Antes da crise, o sistema fornecia água para 8,8 milhões de pessoas na região. Parte dessa população passou a receber água de outros sistemas.

Situação preocupante  

Apesar de o governo não precisar recorrer mais ao volume morto do Cantareira a partir de hoje, a situação do abastecimento de água na Grande São Paulo ainda é considerada crítica em comparação com o cenário de dois anos atrás.

No fim de dezembro de 2013, quando surgiram os primeiros sinais da crise hídrica, o nível do Cantareira era de 27,5% do volume útil, sem contar com nenhuma cota do volume morto.

Pedro Luiz Côrtes, geólogo, especialista em gestão de recursos hídricos e professor da USP (Universidade de São Paulo) e da Uninove (Universidade Nove de Julho), alerta para o risco de o Cantareira voltar ao volume morto no próximo ano.

"O prognóstico para este verão é de acúmulo de água no positivo, mas [o índice] não deve chegar aos 35% por volta do mês de abril, [percentual] que seria suficiente para nos livrar em 2016 de voltar ao volume morto", afirma.

Côrtes explica que a população abastecida pelo Cantareira consome, em uma situação normal, entre 30% e 35% do volume de água durante o período de estiagem, entre abril e outubro.

Outros reservatórios

A Grande São Paulo também é abastecida por outros cinco sistemas. Nesta quarta-feira, o nível do Guarapiranga, que fornece água para 5,8 milhões de pessoas na região, caiu de 90,9% para 88,2%. O índice do Rio Grande também registrou queda, passando de 96,3% para 95,5%.

Já o nível do Alto Tietê, que abastece 4,5 milhões de pessoas, aumentou de 23,3% para 23,5%. O do Alto Cotia também teve alta, subindo de 84,4% para 85,5%. O índice do sistema Rio Claro foi o único que se manteve estável, em 71%. 

Três índices de medição

O site da Sabesp informa três percentuais diferentes do nível do Cantareira. O primeiro índice, que hoje está em 29,3% corresponde ao volume armazenado de água em relação ao volume útil do sistema.

Por determinação da Justiça, a companhia foi obrigada a fornecer outros dois índices. A taxa 2, que está em 22,6% e é adotada pelo UOL, equivale à quantidade de água existente em relação ao volume total do Cantareira, incluindo as duas cotas do volume morto que passaram a ser usadas.

Já o índice 3, que está em 0%, representa o quanto de água tem, excluindo o volume morto, em comparação com o volume útil do sistema.