Metrô: falta de seguranças em estações, como na morte de ambulante, é comum
A demora de seis minutos para que uma equipe de segurança chegasse para socorrer Luiz Carlos Ruas, 54, espancado até a morte por Alípio Rogerio dos Santos e Ricardo do Nascimento no último domingo (25) na estação Pedro 2º do metrô de São Paulo, foi um dos pontos que chamaram atenção no crime bárbaro desta semana na capital paulista. Mas a ausência de agentes em uma estação não foi um fato isolado no funcionamento da companhia.
Ao todo, o Metrô de São Paulo conta com 1.100 agentes contratados para fazer a segurança das quatro linhas controladas pela empresa. No entanto, apenas 280 deles operam ao mesmo tempo, e esse número chega a cair pela metade nos fins de semana e feriados. Além disso, nem todas as estações ficam cobertas todo o tempo, e algumas equipes de segurança se revezam entre duas ou mais localidades em determinados momentos.
Na avaliação do coordenador geral do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Alex Fernandes, o efetivo é baixo e a distribuição foi determinante para a demora no atendimento a Ruas, no último domingo, quando a estação Pedro II estava desguarnecida enquanto duplas de segurança faziam o patrulhamento nas vizinhas Sé e Brás. Ele classificou a quantidade atual de seguranças como "reduzidíssima", principalmente à noite e nos fins de semana e feriados.
"Se tivesse mais segurança na estação, não teria acontecido o que aconteceu. Talvez eles [os seguranças] saíssem machucados, devido ao grau de agressividade dos indivíduos, mas quando a segurança chegou, a única coisa que pôde fazer foi reabilitar o ambulante", disse Fernandes ao UOL.
Segundo Fernandes, o procedimento de deixar só dois guardas para três estações tem sido comum nessas situações de menor fluxo de pessoas. A agressão ocorreu na noite do feriado de Natal. "O metrô concentra o maior contingente nas estações centrais ou extremidades. As do meio da linha ficam descobertas. Por exemplo, de Carrão a Artur Alvim, põem três duplas para cuidar dessas seis estações", explicou.
Na avaliação do Metrô, porém, a distribuição não tem atrapalhado o controle de segurança das estações. O chefe do Departamento de Segurança, Rubens Menezes, nega que o contingente seja reduzido, baseando-se em estatísticas dos últimos anos.
"Antes desse caso, o único homicídio dentro do metrô ocorreu em 2012. Do total de ocorrências registradas em 2015, houve prisão de 74% dos autores. Até outubro de 2016, esse índice foi de 63,2%. Nosso indicador em 2015 foi de 0,69 ocorrências por milhão de passageiros. Isso em um sistema que transporta mais de 1 milhão de passageiros por dia", destacou.
Ele justifica que nem todas as estações ficam cobertas com agentes presencialmente porque eles podem ser deslocados para o local das ocorrências, com o apoio estratégico da central de controle do metrô, que monitora tudo por câmeras. Já outras estações maiores, como a Sé, podem ter até 26 homens apenas na plataforma de embarque em um horário de pico.
Menezes também desmente a informação do sindicato de que apenas uma dupla cuidava das estações Sé, Pedro 2º e Brás. "Na Pedro 2º não tinha nenhum segurança, mas acionamos os recursos da vizinha Brás, que estava mais próxima da ocorrência. No total, movemos uma dupla da Brás, duas duplas da Sé e mais uma viatura".
Crimes menores
O sindicalista Alex Fernandes diz que agressões como a que vitimou o ambulante não são comuns por causa das câmeras de monitoramento. No entanto, ele admite que ocorrências menores, como agressões leves a funcionários ou passageiros embriagados, têm se tornado constantes. "Todo dia tem um caso desses em alguma estação do metrô", reforça.
Rubens Menezes, por sua vez, afirma que o Metrô segue com o intuito de reduzir a cada ano o índice de ocorrências dentro das estações.
"Não temos como estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Mas isso não tira nossa meta, um pouco utópica, de criminalidade zero no sistema. Vamos analisar os dados para ver o que incrementar, mas sem fazer essa análise, é impossível", defendeu.
Ele descarta ainda ampliar de imediato o efetivo de agentes, porque diz estar analisando a morte de Ruas com a polícia para descobrir o que realmente aconteceu.
O metrô de São Paulo opera hoje com um deficit de 632 funcionários –6,5% do total de cargos ativos informados ao governo, segundo uma planilha obtida obtida pela "Folha de S. Paulo". A função mais necessitada é a de operador de transporte metroviário, com 129 vagas em aberto, seguida de agente de segurança metroviária (com 52 postos vagos).
O crime
Alípio Rogerio dos Santos e Ricardo do Nascimento foram transferidos nesta quarta-feira (28) para o 77º DP, no bairro de Santa Cecília, após serem presos e reconhecidos por 14 testemunhas.
Segundo relatos, eles teriam perseguido e espancado Luiz Carlos Ruas depois de o ambulante tê-los repreendido enquanto eles agrediam uma travesti. Além de Ruas, um homossexual também interferiu, e os três passaram a ser perseguidos pelos dois homens. Apenas Ruas foi alcançado, e espancado até a morte por traumatismo craniano grave.
A defesa dos acusados alega que eles agiram em legítima defesa. Os dois homens, que estariam alcoolizados na noite de domingo, teriam sido vítimas de uma tentativa de assalto por moradores de rua, e Alípio teria levado uma garrafada de Luiz Carlos Ruas antes de espancá-lo.
A polícia decretou a prisão provisória dos dois acusados e o delegado Ricardo Marques pretende pedir também a prisão preventiva da dupla.
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