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Sem polícia nas ruas, média de homicídios no Espírito Santo sextuplica

Corpos de mortos chegam ao DML, em Vitória - Divulgação/Sindipol
Corpos de mortos chegam ao DML, em Vitória Imagem: Divulgação/Sindipol

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

06/02/2017 18h30Atualizada em 06/02/2017 18h30

Com a polícia fora das ruas, em apenas três dias houve 62 homicídios no Espírito Santo, segundo o Sindipol-ES (Sindicato de Policiais Civis do Espírito Santo). Este número é equivalente a 6,41 vezes o registrado, em média, em igual intervalo de tempo em 2016.

No ano passado, segundo o governo capixaba, o Estado teve 1.181 homicídios dolosos, o que representa uma média de 3,22 homicídios por dia. Com isso, em três dias, mantida a média, o total de crimes do gênero seria de 9,66.

O governo ainda não divulgou um balanço oficial do número de homicídios nos últimos três dias. Desde sábado (4), mulheres de policiais militares estão acampadas em frente a batalhões em todo o Estado em protesto por reajuste salarial e melhores condições de trabalho para a categoria. Elas impedem a saída de policiais e carros para as ruas.

Taxa de homicídios em queda

Nos últimos anos, a taxa de homicídio por 100 mil habitantes no Espírito Santo vem caindo. Segundo dados oficiais reunidos no Atlas da Violência 2016, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), do governo federal, a taxa no Estado era de 48 homicídios por 100 mil habitantes. Em 2015, de acordo com números compilados pelo FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública), a taxa foi de 35 homicídios por 100 mil habitantes.

Segundo o governo capixaba, o total de 1.181 homicídios dolosos em 2016 representa uma queda de 15% frente ao total de 2015 (1.391) e o sétimo ano seguido de baixa nesse tipo de crime.

Com isso, o Estado deixou de ser, a partir de 2014, um dos cinco mais violentos do país pela primeira vez desde a década de 1980, diz o Atlas da Violência. Apesar disso, de acordo com os números reunidos pelo fórum, o Espírito Santo ainda tem a maior taxa de homicídios na região Sudeste, e está acima da média nacional (29 homicídios por 100 mil habitantes).

Em seu plano de desenvolvimento lançado em 2013, o Estado tem como uma das metas reduzir a taxa para 30 homicídios por 100 mil habitantes até 2020. Depois, o objetivo é fazê-la cair abaixo de 10 até 2030.

Aulas e serviço de saúde são suspensos em Vitória

UOL Notícias

Governo autoriza ação das Forças Armadas

A Justiça do Espírito Santo declarou ilegal o movimento dos familiares dos PMs. Segundo o desembargador Robson Luiz Albanez, a proibição de saída dos policiais caracteriza uma tentativa de greve por parte deles. A Constituição não permite que militares façam greve. As associações que representam os policiais deverão pagar multa de R$ 100 mil caso a decisão seja descumprida.

A ACS-ES (Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar do Espírito Santo) afirma não ter relação com o movimento. De acordo com o cabo Thiago Bicalho, do 7º Batalhão da Polícia Militar do Estado e diretor Social e de Relações Públicas da associação, os policiais capixabas estão há sete anos sem aumento, e há três anos não se repõe no salário a perda pela inflação.

O presidente Michel Temer autorizou o envio de tropas das Forças Armadas para o Estado a fim de "garantir a lei e a ordem". Segundo o Ministério da Justiça, também serão enviados 200 agentes da Força Nacional, que devem chegar a Vitória ainda nesta segunda.

Por enquanto, a capital capixaba, Vitória, vive uma espécie de toque de recolher: as aulas foram suspensas em escolas públicas e particulares, o comércio está fechado, os ônibus pararam de circular a partir das 16h e a administração municipal cancelou o expediente nas suas repartições. Vídeos de saques a lojas em diversas cidades do Estado foram publicados em redes sociais.

Segundo o secretário estadual de Segurança Pública, André Garcia, as negociações sobre salários e condições de trabalho de policiais serão feitas apenas quando o patrulhamento na rua for retomado e a situação estiver controlada.