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Mulher vai à delegacia para prestar queixa e acaba acusada de furto

Karine Fernandes dos Santos quis prestar queixa de calúnia e difamação  - Arquivo Pessoal
Karine Fernandes dos Santos quis prestar queixa de calúnia e difamação Imagem: Arquivo Pessoal

Demétrio Vecchioli

Colaboração para o UOL

19/05/2017 16h04

Karine Fernandes dos Santos Santana foi à DP de Madureira, na Zona Norte do Rio, na quinta-feira da semana passada, para tentar prestar queixa por calúnia e difamação contra funcionários de uma loja de roupa. Acabou saindo de lá sem seu casaco e acusada de furto. Mesmo depois de provar que a roupa era dela, a Polícia Civil não devolveu a peça.

O caso aconteceu na tarde da quinta-feira, dia 11. Karina, que é empresária, relatou ao UOL que experimentou um casaco na loja Belíssima, não gostou, devolveu a peça à vendedora e atravessou a rua para olhar outra loja. Ali, foi abordada pela vendedora que a havia atendido, que passou a acusá-la de furto.

“Ela pegou meu casaco e foi embora, dizendo que as câmeras iam provar. Eu fui atrás e comecei a gritar, não podia acreditar. Já na loja, a vendedora foi percebendo que tinha feito besteira, foi se afastando, e pediu para o segurança vir resolver”, conta Karine. O segurança teria ido para cima da empresária e outras pessoas tiveram que contê-lo.

Com os ânimos acalmados, Karine ligou para o 190 e esperou por duas horas a chegada dos policiais. “Eu estava sendo acusada de furto. Ninguém veio me pedir desculpas, dar um copo de água. Quando a polícia chegou, tentaram me fazer desistir, mas acabamos indo todos para a delegacia”.

Lá, novamente os policiais tentaram convencer Karine a “deixar para lá”. “Como eu bati o pé dizendo que não, o delegado saiu da sala num tom de total insatisfação e falou bem alto: ‘Já que ela não quer acertar o acordo, a gente vai fechar assim: ela vai ser acusada de furto e vamos apreender o seu casaco’.” E foi exatamente isso que aconteceu, ainda que a vendedora já tivesse mudado a versão e dito que tudo não havia passado de um mal-entendido.

O delegado então exigiu que, para ter o casaco de volta, Karine deveria apresentar a nota fiscal de compra. Após revirar a casa, ela finalmente encontrou o papel. Já acompanhada de uma advogada, voltou à delegacia, mas não encontrou seu pertence. “Eles falaram que o casaco tinha ido para uma perícia. Mas perícia de que? Não tinha sangue, não tinha nada”, argumenta Karine.

Ela está sendo defendida pela advogada Roberta Cristina Eugênio, que trabalha no gabinete da vereadora Marielle Franco (PSOL), presidente da Comissão de Defesa da Mulher da Câmara Municipal do Rio. De acordo com a advogada, o caso será levado ao núcleo de combate à desigualdade racial da Defensoria Pública do Rio.

“Ela sentiu que a motivação do que aconteceu foi racismo, que a gente entende que acaba se expressando em momentos como esse, em que ela é colocada sob suspeita sem nenhum tipo de prova”, argumenta a advogada, que também está tomando medidas junto à Comissão de Direitos Humanos da Câmara para apurar como foi a ação dos agentes públicos.

Em nota, a assessoria de imprensa da Polícia Civil do Rio disse que as investigações estão em andamento na 29ª DP (Madureira) para apurar o caso. “Partes e testemunhas estão sendo ouvidas. O casaco foi encaminhado ao ICCE (Instituto de Criminalística Carlos Éboli) para realização de perícia”, completou a assessoria. A reportagem não conseguiu contato com a loja.