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Em 9 meses, mortes por policiais em serviço passam de 800 no RJ

Policial militar revista homem na favela da Rocinha, no Rio - Eduardo Anizelli - 23.out.2017/Folhapress
Policial militar revista homem na favela da Rocinha, no Rio Imagem: Eduardo Anizelli - 23.out.2017/Folhapress

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

01/11/2017 21h13

O total de homicídios decorrentes de oposição à intervenção policial no Estado do Rio chegou a 813 entre janeiro e setembro deste ano, contra 636 registrados no mesmo período de 2016 (alta de 27,83%), segundo divulgou nesta quarta-feira (1º) o ISP (Instituto de Segurança Pública).

Estas estatísticas têm como fonte os registros de ocorrência feitos em delegacias, além de informações complementares da Polícia Militar, diz o instituto em seu site.

Em paralelo, nos nove primeiros meses de 2017, o ISP informa que 27 policiais morreram em serviço no Estado --número igual ao registrado entre janeiro e setembro do ano passado. Esta cifra é bem menor do que o total de policiais assassinados no Estado este ano, que chegou nesta terça-feira (31) a 114

O critério do ISP para medir o número de policiais mortos em serviço é o da Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública), que não abrange apenas policiais assassinados em confronto: "Total de policiais na ativa mortos durante horário de serviço no mês considerado, seja por ato criminal, confronto com civis, acidente com arma, acidente com veículo, suicídio ou qualquer outra causa não-natural". A contagem é feita com base nos arquivos das polícias Militar e Civil.

Procurada pelo UOL, a Secretaria de Segurança do Estado do Rio não comentou a evolução dos indicadores.

O levantamento anterior do ISP, com os dados de janeiro a agosto, já mostrava que o Rio tinha chegado ao patamar mais alto de mortes pela polícia desde a implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora). O indicador vinha em queda desde 2008 e chegou ao mínimo de 263 mortes em 2013, mas desde então sobe e disparou no ano passado (925 mortes).

A quantidade de policiais mortos em serviço também chegou, em 2016, ao seu ponto mais alto em dez anos: foram 40, contra 26 em 2015 e 18 em 2014.

Mortes violentas sobem 10,9%

O número de mortos em ações da polícia engrossou o total do que o ISP chama de índice de letalidade violenta no Rio. Entre janeiro e setembro, foram 4.974 mortes somando os números de homicídio doloso (3.950), lesão corporal seguida de morte (22), latrocínio (189) e homicídios decorrentes de oposição à intervenção policial (813). 

No mesmo período de 2016, o índice de letalidade violenta somou 4.485 mortes, 489 a menos do que nos primeiros nove meses deste ano, representando um avanço de 10,9%.

O crime de roubo de carga aumentou 17% no período. Foram 7.607 ocorrências, contra 6.499 entre janeiro e setembro de 2016.

Já o número de roubos a transeuntes teve queda de 4,6%, saindo de 68.553 ocorrências para 65.337.

Com Estado em crise, ministro critica governo do RJ

Os índices que mostram o avanço da violência no Rio vêm a público enquanto representantes do governo do Estado e o ministro da Justiça, Torquato Jardim, travam um embate público sobre a crise de segurança pública no Estado.

Em entrevista a Josias de Souza, colunista do UOL, Jardim disse que o governo do Rio não controla a Polícia Militar, cujo comando decorre de "acerto com deputado estadual e o crime organizado". O ministro ainda disse que comandantes de batalhões são sócios do crime organizado. 

O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e o secretário estadual de Segurança Pública, Roberto Sá, rebateram as declarações do ministro. Pezão disse que o governo do Estado e a Polícia Militar não negociam com criminosos. Ele acusou o ministro de nunca tê-lo procurado para tratar de tais assuntos. Sá, por sua vez, afirmou estar "indignado" com as declarações.

O conflito institucional levou ao risco de um agravamento da crise de segurança, dado que, segundo reportagem do UOL nesta terça, oficiais da Polícia Militar ameaçaram até mesmo entregar seus cargos ao exigirem do comandante-geral da corporação, Wolney Dias, uma resposta firme à fala do ministro. O comando da PM negou a movimentação.

Escalada de violência

O Rio passa por uma escalada de violência. Na última quinta-feira (26), o comandante do 3º BPM (Méier), tenente-coronel Luiz Gustavo de Lima Teixeira, 48, foi assassinado a tiros no bairro do Méier, na zona norte carioca. 

Desde setembro, traficantes se enfrentam pelo controle da venda de drogas na favela da Rocinha, na zona sul do Rio. Por uma semana, quase mil homens das Forças Armadas e polícias fizeram um cerco à favela --parte do contingente de cerca de 8.500 militares que reforçam a segurança no Estado desde o fim de julho.

Em agosto, o governo do Rio decidiu reduzir em 30% o efetivo das UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora) como forma de aumentar o número de policiais nas ruas, movimento que foi considerado um recuo no programa implantado em 2008 para tentar retomar áreas dominadas pelo tráfico de drogas.

Na primeira semana de outubro, pesquisa Datafolha mostrou que, se pudessem, 72% dos moradores iriam embora do Rio por causa da violência. O desejo de deixar a cidade é majoritário em todas as regiões e faixas socioeconômicas --foram ouvidas 812 pessoas, e a margem de erro do levantamento é de quatro pontos percentuais, para mais ou para menos.

Nas últimas semanas, segundo o Datafolha, um terço dos moradores mudou sua rotina e presenciou algum disparo de arma de fogo. O levantamento revela que 67% das pessoas ouviram algum tiro recentemente.