"Ainda tinha tiros rolando, mas nem pensei", diz morador que socorreu cão baleado na Rocinha
Morador da rua 2, no alto da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, Juan Gabriel Ribeiro Dias, 19, passou parte da quinta-feira (26) escondido embaixo de sua cama esperando que o forte tiroteio que ocorria a poucos metros da sua casa passasse. Ao deixar o esconderijo, descobriu por um vizinho que seu cachorro, Taz, havia sido baleado.
“Ainda tinha tiros rolando, mas nem pensei. Subi na laje e saí correndo com ele no colo atrás de ajuda”, contou nesta sexta-feira (26) ao UOL, ao lembrar uma das imagens mais marcantes dos conflitos da favela nesta quinta, em que aparece desesperado com o cachorro nos braços.
“Chegaram a me falar para esperar [para ir no veterinário], que ainda tava tendo tiro... Mas, quando eu vi o sangue do meu cachorro pingando no meu pé, eu não aguentei.”
Desempregado, Juan, que vive de bicos, fez uma consulta de emergência em uma veterinária do bairro e agora tenta arrecadar com amigos e vizinhos o dinheiro necessário para um exame de raio-x.
“Não tem como a gente saber se a bala segue lá dentro ou não, só com o exame. Ele tem dois buracos de bala na coxa. Como é algo mais complexo tem que ser em uma clínica na Barra da Tijuca.” Taz tem três anos e, diz Juan, está muito fraco. Mal caminha e comeu muito pouco de ontem para hoje.
Além dele e de outro cachorro, baleado no olho, os confrontos entre policiais e criminosos na Rocinha, que começaram ainda na madrugada, deixaram um PM morto e outras sete pessoas feridas. Um ônibus também foi incendiado por criminosos em frente à favela do Vidigal, vizinha à comunidade.
"Foi uma guerra mesmo, todas as caixas de água da rua estouraram”, diz o jovem, que mora com os pais, as duas irmãs e outros três cachorros.
“Hoje [sexta, 26] ainda aconteceram outros tiroteios”, diz. “A gente tem que se acostumar com tiro, mas não dá.”
Os tiroteios começaram logo cedo, por volta das 8h, quando PMs subiram a Rocinha em uma ação para reprimir criminosos leais a Rogério 157. Após ter sido capturado, em dezembro, e transferido para o presídio federal de Porto Velho (RO), o traficante ordenou que comparsas assumissem o comando.
Em setembro do ano passado, 157 protagonizou uma disputa sangrenta com o ex-chefe, Antônio Bonfim Lopes, o Nem, que tentou derrubar o sucessor e retomar o controle da favela. A briga resultou em dias seguidos de intensos confrontos, e o Estado reagiu com uma ação militar que mobilizou mais de 1.000 pessoas.
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