Estudante é acusado de racismo ao citar "roubo" em Carnaval e perde estágio no ES
Um suposto caso de racismo durante o Carnaval de Vitória, no Espírito Santo, gerou grande repercussão nas redes sociais. A acusação de preconceito por parte de um jovem resultou na perda do emprego de um estudante de educação física, que fazia estágio em uma academia da capital capixaba. Ao UOL, a empresa onde trabalhava o autor do debatido post com viés racista informa que não manterá o funcionário após o caso.
A polêmica começou quando Iarley Duarte, um jovem negro, publicou em sua página no Facebook um desabafo criticando uma publicação no Stories do Instagram, feita por Lucas Almeida. Na postagem, Almeida posa para uma selfie com três jovens ao fundo. A legenda é: "Vou roubei seu celular".
Duarte acusa o estudante de racismo em desabafo publicado nesta quarta-feira (14). "Infelizmente ninguém está livre do racismo e do preconceito. Esse babaca chegou no bloco e pediu pra tirar uma foto com a gente; sem nem nos conhecer, sem nunca ter nos visto. Aí vai e faz essa merda. Somos pretos, somos favelados e temos muito orgulho", postou o jovem, em mensagem que já ultrapassou os 10 mil compartilhamentos.
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Lucas foi identificado como funcionário do Studio Vitória, academia que tem duas lojas no Jardim da Penha, em Vitória. Após a repercussão, a página da empresa no Facebook começou a receber avaliações negativas. Os sócios, informados do que estava acontecendo, resolveram agir. Na quarta-feira, eles publicaram uma nota criticando o funcionário, que é estagiário há dois anos. A decisão de desligar o jovem do estágio foi ratificada pela academia em contato com a reportagem nesta quinta-feira.
"Eu, Fabrício Affonso, negro, nascido em bairro de periferia da cidade de Alegre, sócio proprietário da empresa Studio Vitória, considero inadmissível a conduta de qualquer funcionário da empresa nesse sentido. Sei o quanto a minha cor é carregada de estigma e sei quantas barreiras tive que enfrentar para chegar aonde cheguei", postou um dos sócios, que detalhou as dificuldades que passou para ter sua própria academia.
Prometendo "as medidas necessárias", ele indicou que vai rescindir o contrato do estagiário. "Nos interessa ter funcionários competentes, mas também devidamente motivados e valorizados. Conheço meus funcionários a nível pessoal e acredito que a postagem tenha sido profundamente infeliz, beirando a ingenuidade. Mas a empresa não pode compactuar com esse tipo de comportamento irresponsável e muito menos responder por ele. Nem a imaturidade, nem o carnaval e nem a bebida é desculpa para o racismo".
"Nada é desculpa para o racismo", decretou Affonso.
Até o começo da tarde desta quinta-feira, o estudante ainda não havia sido desligado porque, de acordo com a academia, está afastado das funções. Não foi trabalhar com medo de represálias. O UOL tentou contato com Lucas Almeida, mas não obteve resposta até o fechamento da reportagem.
No Facebook, no entanto, o estudante se defendeu através de uma "nota de retratação". "Peço sinceras desculpas às pessoas que apareceram na foto e a quem mais eu tenha ofendido com meu post no Instagram, reiterando que essa nunca foi minha intenção. Não tenho, não exerço e me oponho a qualquer manifestação de preconceito, seja ele de raça/etnia, de religião, de gênero, de orientação sexual, de classe ou de capacidade e quem me conhece e convive comigo sabe bem disso", escreveu.
Almeida diz lamentar o fato de sua publicação ter sido interpretada de uma forma diferente da que gostaria. Ele, porém, reconhece ter feito uma brincadeira "infeliz, inoportuna e precipitada".
"A frase de meu post replica um meme famoso veiculado na internet, que usei para fazer uma referência a mim mesmo – como se percebe pela frase na primeira pessoa do singular –, indicando que a brincadeira era para criticar e combater, usando de ironia, uma reconhecida injustiça e discriminação social. Essa interpretação não condiz com minha personalidade, com quem sou, com minha prática de vida e minhas ideias. Minha intenção era criticar o sistema e não o reproduzir. A composição da mensagem irônica não deu conta disso e causou o efeito inverso. Sou morador da periferia e sempre me irmanei e engajei nas lutas e causas populares, porque elas dizem respeito à minha condição social e pessoal", completou.
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