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Para ganhar confiança de moradores, Forças Armadas, estado e prefeitura fazem ação social em favela do Rio

Crivella visita favela durante intervenção no Rio - Luis Kawaguti/UOL  - Luis Kawaguti/UOL
Crivella visita favela durante intervenção no Rio
Imagem: Luis Kawaguti/UOL

Luis Kawaguti

Do UOL, no Rio de Janeiro

17/03/2018 09h00

Centenas de moradores da favela da Vila Kennedy, zona oeste do Rio de Janeiro, estão recebendo atendimento de saúde, orientação jurídica e ajuda para emitir documentos em uma ação organizada pelo Gabinete de Intervenção Federal.

A ação ocorre uma semana após uma ação da prefeitura que destruiu quiosques de comerciantes e causou revolta em moradores da favela. O prefeito Marcello Crivella (PRB) disse na ocasião que houve uso desproporcional da força por parte de servidores municipais. A remoção ocorreu sem o apoio das Forças Armadas.

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Crivella esteve no mutirão deste sábado para mostrar apoio e disse que 48 novos quiosques estão sendo providenciados para os comerciantes afetados. “A questão dos quiosques já está sendo revertida”, afirmou.

O mutirão deste sábado foi organizado pela equipe de intervenção e recebe o apoio de órgãos e agências da prefeitura e do estado.

Um dos objetivos da ação dos interventores é ajudar a população e assim ganhar sua confiança - para no futuro receber apoio para ações armadas e denúncias sobre a localização de criminosos procurados e armas, segundo membros do Gabinete de Intervenção Federal ouvidos pela reportagem.

Militar observa moradores em favela no Rio - Luis Kawaguti/UOL - Luis Kawaguti/UOL
Militar observa moradores em favela no Rio
Imagem: Luis Kawaguti/UOL
A Vila Kennedy é usada como uma experiência piloto para as ações ostensivas das Forças Armadas e das polícias durante a intervenção federal na segurança do Rio e foi palco recentemente de uma queda de braço entre forças de segurança e traficantes.

Segundo militares do Gabinete de Intervenção Federal, a ideia da operação atual é tentar mudar a cultura arraigada nas favelas do Rio de que traficantes de drogas seriam “amigos” da população por fornecer favores e serviços básicos que o Estado não é capaz de levar à região.

A Vila Kennedy sofre com problemas de atendimento de saúde na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) que atende a área.

Ao fazer um mutirão para levar à favela atendimento de saúde, vacinação, orientação jurídica, serviços de emissão de documentos e recreação, os interventores esperam mostrar à população que a partir de agora podem confiar no estado para ter acesso a esses serviços.

A ação deste sábado na Vila Kennedy é conhecida no jargão militar como Aciso (Ação Cívico Social). Ela faz parte de uma estratégia chamada de operação de amplo espectro, que visa potencializar as ações armadas com o chamado soft power, ou seja o engajamento de agências civis para melhorar a situação de toda uma região.

A ideia é que ações desse tipo passem a ser frequentes durante a intervenção e envolvam cada vez mais órgãos dos governos estadual e municipal.

Sem médico

“As pessoas podem vir buscar uma consulta, ver como está sua posição no sistema de regulação para cirurgia, outros que estão no aluguel social querem ver como está sua posição no ‘Minha Casa, Minha Vida’. Há também aquelas que vão trazer animais para serem vacinados, os que virão procurar emprego e aqui terão suas entrevistas agendadas. Vai ser uma manhã e uma tarde de atenção às pessoas”, disse o prefeito.

O técnico em eletrônica Nilson Gonçalves Vieira, 56, foi ao mutirão em busca de atendimento médico. “Eu vim fazer exames de glicose e de pressão alta. Sou uma pessoa muito relaxada em relação à saúde, então como soube que ia ter esse atendimento aproveitei e vim.”

O técnico em eletrônica Nilson Gonçalves Vieira, 56, recebe atendimento de militares - Luis Kawaguti/UOL - Luis Kawaguti/UOL
O técnico em eletrônica Nilson Gonçalves Vieira, 56, recebe atendimento de militares
Imagem: Luis Kawaguti/UOL
“A gente tem uma UPA, mas lá nunca tem médicos. Dependendo da especialidade que você precisa até consegue uma consulta, mas sempre eles mandam pra outro lugar, é difícil ter o médico que você precisa", afirmou.
Vieira disse que estava desconfiado de ver os militares sempre entrando e saindo da comunidade, mas com a ação social passou a apoiar a presença deles. ”A comunidade merece isso aqui.”

Quiosques

Crivella procurou não associar seu apoio ao mutirão organizado pelo Gabinete de Intervenção Federal à questão dos quiosques derrubados na semana passada.

“Aquela questão dos quiosques já está sendo revertida. Eles estavam ali de maneira ilegal, então vão ser legalizados todos. Receberam aluguel social e uma cesta básica enquanto os quiosques não são alocados”, afirmou

Segundo ele, foram encomendados 48 quiosques padronizados da prefeitura e 12 serão entregues por semana.

“Agora eles [comerciantes] vão poder pagar a luz, pagar a água, pagar a licença para estar ali, os que não pagarem serão retirados porque o quiosque vai continuar pertencendo à Prefeitura. Vamos colocar mesas e cadeiras para as pessoas sentarem e vai ter a fiscalização da Guarda Civil e da Vigilância Sanitária. Então eu tenho a impressão que vamos fazer do limão uma limonada”, disse.

Atendimento

Já antes do início do mutirão uma fila com centenas de pessoas se formou na Avenida Central da Vila Kennedy. Os serviços estão sendo prestados em uma escola e em um campo de futebol.

A favela está controlada por tropas federais e pela polícia desde a semana passada – após dias de disputa com traficantes que reerguiam barricadas e agiam depois que as Forças Armadas - saiam da região após realizar operações.

Apesar da tentativa de ganhar os moradores, uma pessoa foi detida neste sábado por desacato à autoridade.

R$ 60 milhões 

O secretário da Casa Civil do governo de Luiz Fernando Pezão, Cristino Aureo, afirmou que após a saída das Forças Armadas da Vila Kennedy será mantido um reforço no atendimento de saúde e de assistência social.
Ele afirmou que o governo pretende usar parte dos recursos do Fundo Estadual de Segurança Pública, que está sendo estabelecido a partir de verbas de royalties do Pré-Sal, para levar mais serviços do governo para comunidades que sejam estabilizadas pelas forças de segurança. Aureo disse que neste ano os recursos para essas ações podem passar de R$ 60 milhões. A verba não será usada, porém, para o pagamento de salários.

Outras favelas

O coronel Carlos Cinelli, porta-voz do Comando Conjunto da Intervenção, disse que outras favelas do Rio passarão por essa combinação de ações de força militar para estabilização com apoio de ações sociais do governo e do município.
“A orientação que foi dada pelo general Braga Netto ao Comando Conjunto é que uma vez que o Gabinete de Intervenção Federal tenha decidido no nível estratégico quais são os próximos passos, as próximas comunidades onde nós vamos atuar, o Comando Conjunto estabeleça as condições de segurança necessárias para estabilizar a área, remover barricadas e remover obstáculos para que essas agências estaduais e municipais possam entrar como está sendo feito aqui hoje”, disse.