Brasileiros que levaram 25 africanos em barco resgatado foram presos por imigração ilegal
Foram presos em flagrante pelo crime de promoção de imigração ilegal os dois brasileiros que levaram 25 imigrantes africanos em um barco que foi resgatado à deriva na costa do Maranhão na noite deste sábado (19).
A identidade dos suspeitos não foi relevada pela PF (Polícia Federal), que abriu inquérito para investigar o caso. Após a autuação em flagrante, eles foram transferidos para um presídio maranhense.
"Esse é o caso inédito não só no Maranhão, como suspeito que também o seja em todo o país, já que lei que tipifica o crime de promoção de imigração ilegal entrou em vigor em novembro", afirma o delegado federal Luis André Almeida. Ele chefia a delegacia de Polícia de Imigração da Superintendência da PF no Maranhão.
O crime de promoção de imigração ilegal prevê pena de dois a cinco anos de reclusão.
"O decorrer da investigação, que está ainda numa fase inicial, pode levar a descoberta de outros crimes correlatos e de outros envolvidos no caso", disse Almeida.
Os primeiros depoimentos dos imigrantes indicam que eles pagaram aos brasileiros para serem levados de Cabo Verde para o Brasil. Além desse país africano, há pelo menos 19 cidadãos do Senegal. Também estão incluídos no grupo, imigrantes da Nigéria, Guiné e Serra Leoa. Todos os resgatados são homens adultos, informou a Marinha.
O UOL apurou ainda com outras fontes ligadas à investigação que há a suspeita de que os imigrantes seriam usados em áreas de trabalho escravo nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Os dois brasileiros afirmaram em seus primeiros depoimentos que resgataram os imigrantes africanos em alto-mar, após saírem com a embarcação de Cabo Verde.
Resgate foi feito por pescadores
De acordo com a Capitania dos Portos do Maranhão, a embarcação possui bandeira do Haiti. O país de registro do barco ainda seria checado para conferir se a bandeira é verdadeira.
O resgate foi feito por pescadores cearenses e teriam contado que estavam há ao menos 35 dias perdidos no mar. O barco foi rebocado pelos pescadores do alto mar para o cais de São José de Ribamar (MA), cidade costeira mais próxima do ponto onde foram encontrados, e atracou por volta das 23h30.
De acordo com a Capitania dos Portos, a Marinha recebeu na manhã de sábado a informação de que havia uma embarcação estrangeira à deriva no mar a 60 milhas náuticas de São José de Ribamar.
Foram acionados o CTA (Comando Tático Aéreo), da PM do Maranhão, a Polícia Federal, Anvisa, Corpo de Bombeiros e a EMAP (Empresa Maranhense de Administração Portuária) para localizar a embarcação. Sobrevoos na área foram realizados, mas o barco não foi localizado.
Pela tarde, quando a Marinha preparava um plano para enviar navios ao local para achar o barco, chamado "Rossana", recebeu um rádio informando que o barco pesqueiro "Tampinha I" havia localizado o "Rossana" e o estava rebocando até o cais de São José de Ribamar, que fica a cerca de 30 km da capital São Luís.
De acordo com a Capitania dos Portos, o pescador Raimundo Lima Patrício, que conduzia o barco pesqueiro, afirmou que estava quase sem água e comida para os tripulantes do outro barco que encontrou à deriva e que, por isso, teve de atracar na cidade e não seguiu para o Porto do Itaqui, para onde a Marinha havia mandado ele ir. Segundo o pescador, o "Rossana" estava em condições precárias, o que o impediria de navegar por muito mais tempo.
"As primeiras providências foram tomadas ainda no cais de São José de Ribamar, onde foram realizados os primeiros atendimentos médicos e servidas refeições. A equipe multidisciplinar do CEAV (Centro Estadual de Apoio às Vítimas) também esteve prestando apoio psicológico", afirmou o governo do Maranhão por meio de nota.
Os resgatados foram atendidos na Unidade de Pronto Atendimento do Araçagi, na madrugada de hoje, e apresentavam quadro de desidratação.
A Secretaria de Estado da Saúde informou que, após medicados e avaliados, os resgatados foram liberados e encaminhados para o Ginásio Costa Rodrigues, na capital maranhense, onde ficarão alojados pelos próximos dias enquanto o caso é apurado pelas autoridades. Eles estão sob a responsabilidade da Secretaria de Direitos Humanos e Participação Popular.
A secretaria de Saúde afirma também que uma equipe do CIEVS (Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde) realizará o acompanhamento dessas pessoas.
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