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Após mais de 70 ataques criminosos, Força Nacional desembarca no Ceará

Aeronave C-767, da FAB, com integrantes da Força Nacional com destino ao Ceará saiu de Brasília pouco antes da meia noite e chegou ao estado por volta das 3h deste sábado (5) - 04.jan.2019 - Divulgação/Ministério da Justiça
Aeronave C-767, da FAB, com integrantes da Força Nacional com destino ao Ceará saiu de Brasília pouco antes da meia noite e chegou ao estado por volta das 3h deste sábado (5) Imagem: 04.jan.2019 - Divulgação/Ministério da Justiça

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

05/01/2019 09h50Atualizada em 05/01/2019 18h13

Cerca de 300 homens da Força Nacional de Segurança chegaram em Fortaleza, capital do Ceará, entre a tarde de ontem e a madrugada deste sábado (5), para tentar conter ataques violentos ocorridos em diversos pontos da cidade e da região metropolitana. Os crimes têm ocorrido desde a noite da última quarta-feira (2).

Oficialmente, a Secretaria da Segurança estadual não confirma o número de ataques ocorridos nas últimas três madrugadas, mas policiais civis entrevistados pela reportagem na manhã deste sábado, que estão atuando nas investigações, apontam que os atos já passam de 70, sendo uma das maiores sequências violentas da história do estado. 

Segundo mensagem divulgada pelo governador Camilo Santana (PT) em suas redes sociais na tarde deste sábado, o número de presos chegava a 86.

Entre a tarde de sexta-feira (4) e a madrugada deste sábado (5) cem membros da Força nacional se deslocaram para o Ceará por via terrestre de Natal e de Aracaju. Outros 200 chegaram a Fortaleza vindos de Brasília em aviões da FAB (Força Aérea Brasileira).

De acordo com o Ministério da Justiça, que ordenou o envio da tropa após pedido do governo estadual, a Força Nacional estará no estado por pelo menos 30 dias. O prazo pode se estender caso os governos estadual e federal entendam que há necessidade.

Facções unidas

Um membro da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), que pediu para não ter o nome revelado, disse que a principal suspeita dos investigadores é de que os ataques tenham iniciado após a suspensão de uma rixa entre as três principais facções criminosas do estado: as aliadas PCC (Primeiro Comando da Capital) e GDE (Guardiões do Estado) e a rival CV (Comando Vermelho).

Os grupos criminosos estariam agindo de forma conjunta em uma suposta retaliação a uma decisão do governo estadual de acabar com a separação de facções dentro de presídios. 

Logo após ter sido nomeado secretário de Administração Penitenciária do Ceará, Luis Mauro Albuquerque afirmou "não reconhecer o poder de facções criminosas no estado e disse que não dividiria mais os presos em unidades diferentes dependendo da facção que integra. "O preso está sob a tutela do Estado. Quem manda é o Estado", afirmou.

O secretário nacional de Segurança Pública, o general Guilherme Theophilo já havia afirmado que "as ordens [para os ataques] vêm de dentro dos presídios". Para o general, a escalada criminosa se apoia também na conivência de agentes do estado, já que muitas vezes aparelhos celulares entram nas cadeias por meio de corrupção policial.

"Se vocês notarem a quantidade de telefones celulares que foram apreendidos dentro dos presídios... Quem acompanha o estado do Ceará vê que, muitas vezes, esses celulares que entram têm conivência até das guardas penitenciárias. Nós temos um problema sério que é a facilidade de entrar o celular. (...) Essas ordens estão sendo emanadas de dentro dos presídios", afirmou o secretário nacional, ontem.

Exatamente pela suspeita dos governos estadual e federal, de que os ataques tenham sido orquestrados pelo crime organizado, policiais civis têm feito acareações dentro de um presídio onde estão reclusos membros do PCC: a CPPL 3 (Casa de Privação Provisória de Liberdade 3). Seus aliados, da GDE, estão na CPPL 2. E os rivais, do CV, nas CPPL 1 e 4. 

Até ontem, 52 presos da unidade do PCC foram indiciados por desobediência, resistência e motim. Segundo o governo estadual, existe a previsão de que outros 250 também sejam indiciados pelos mesmos crimes. Contra eles existe a suspeita de ligação direta na organização dos ataques em Fortaleza e na região metropolitana da capital. 

"As autuações [indiciamentos] impactarão negativamente na progressão de regime dos indiciados. Toda ação dentro do sistema será devidamente formalizada pela Polícia Civil, para que esses internos respondam por novos crimes praticados", afirmou o secretário da Segurança Pública, André Costa.

De acordo com a secretaria estadual, o policiamento está reforçado nos terminais de ônibus e nos principais corredores comerciais e bancários. "Os coletivos são acompanhados e monitorados. Além do policiamento ostensivo geral, equipes especializadas integram o patrulhamento", informou a pasta, por meio de nota oficial.

Além da Força Nacional, o governador Camilo Santana (PT) nomeou, como medida de emergência, uma turma de 220 novos agentes penitenciários, antes prevista para março, e de novos 373 novos policiais militares, que já foram deslocados para o trabalho ostensivo. De 1.810 ônibus urbanos e 350 ônibus metropolitanos, apenas 108 estão operando. Em cada um deles, há três policiais.