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52 presos são indiciados sob suspeita de elo com ataques no Ceará

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

04/01/2019 15h49Atualizada em 04/01/2019 19h10

Com a suspeita de que os ataques que atingem o Ceará pelo terceiro dia consecutivo, nesta sexta-feira (4), ocorreram a mando de presidiários, o governo estadual enviou policiais civis para dentro da CPPL 3 (Casa de Privação Provisória de Liberdade 3). Segundo o secretário da Segurança, André Costa, 52 detentos haviam sido indiciados por desobediência, resistência e motim até ontem (3). Outros 250 também devem ser indiciados. 

No CPPL 3 estão presos membros da facção paulista PCC (Primeiro Comando da Capital). Nos CPPL 1 e 4, do CV (Comando Vermelho). E no CPPL 2, membros da GDE (Guardiões do Estado). Nas quatro unidades, há presos também que não são ligados a facções. "As autuações impactarão negativamente na progressão de regime dos indiciados. Toda ação dentro do sistema será devidamente formalizada pela Polícia Civil, para que esses internos respondam por novos crimes praticados", afirmou o secretário.

Além dos que já estão detidos, foram presos sob suspeita de participação nos atos violentos 45 pessoas até o início da tarde desta sexta em Fortaleza, região metropolitana e no interior do estado. "Todos os criminosos envolvidos serão identificados e capturados, sendo apresentados à Justiça", afirmou o secretário André Costa.

Questionado em Brasília se os recentes atos de violência estão diretamente ligados à disputa entre facções, o secretário nacional de Segurança Pública, o general Guilherme Theophilo, afirmou que "as ordens vêm de dentro dos presídios". Para o general, a escalada criminosa se apoia também na conivência de agentes do estado, já que muitas vezes aparelhos celulares entram nas cadeias por meio de corrupção policial.

"Se vocês notarem a quantidade de telefones celulares que foram apreendidos dentro dos presídios... Quem acompanha o estado do Ceará vê que, muitas vezes, esses celulares que entram têm conivência até das guardas penitenciárias. Nós temos um problema sério que é a facilidade de entrar o celular. (...) Essas ordens estão sendo emanadas de dentro dos presídios", complementou.

Uma reunião ocorreu na manhã desta sexta com a cúpula da segurança estadual e com representantes de outras instituições, incluindo Ministério Público, Polícia Federal e Abin (Agência Brasileira de Inteligência). O trabalho de investigação, na parte estadual, é coordenado, principalmente, pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco).

"Foram apreendidos artefatos explosivos, coquetéis molotov e galões de combustíveis em ofensivas policiais em todo o Estado", informou a pasta, por meio de nota. A reportagem entrou em contato com o delegado responsável pela Draco, Harley Filho, mas ele afirmou estar muito ocupado no momento do contato. 

De acordo com a secretaria, o policiamento está reforçado nos terminais de ônibus e nos principais corredores comerciais e bancários. "Os coletivos são acompanhados e monitorados. Além do policiamento ostensivo geral, equipes especializadas integram o patrulhamento", informou a pasta. 

Força federal no Ceará

O ministro da Justiça, o ex-juiz federal Sergio Moro, autorizou, nesta sexta-feira (4), o envio de 300 homens da Força Nacional de Segurança para o Ceará. A portaria foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União no final da tarde.

De acordo com o ministério, a Força Nacional irá atuar por 30 dias no estado. A tropa deve ir ainda nesta sexta para o Ceará. Caso necessário, o prazo de atuação da Força Nacional poderá ser prorrogado.

Em nota, o ministério informou que a decisão foi tomada em razão da "dificuldade das forças locais combaterem sozinhas o crime organizado". "Ainda foi determinado que as polícias federais intensifiquem as ações de prevenção e repressão ao crime organizado e que o Depen [Departamento Penitenciário Nacional] preste todo o apoio necessário para as ações de segurança pública no estado".

O governador Camilo Santana (PT) já havia anunciado, nesta quinta-feira (3), medidas adotadas contra os grupos criminosos, como a nomeação imediata da turma de 220 novos agentes penitenciários, antes prevista para março e de novos 373 novos policiais militares. 

Desde a noite de quarta (2), Fortaleza e região metropolitana sofreram 39 ataques --entre eles, 16 incêndios a veículos, incluindo ônibus, e tentativas de explosão de uma delegacia e de um viaduto.